O Estado de S. Paulo

Preocupada com a eleição, Petrobrás procura siglas

Estratégia. Executivos da estatal vão conversar com assessores econômicos das campanhas no momento em que presidenci­áveis têm apresentad­o propostas que vão de privatizaç­ão de atividades importante­s da empresa a retomada de 100% do controle pela União

- Fernanda Nunes / RIO

A diretoria da Petrobrás vai começar a procurar os economista­s ligados aos candidatos à Presidênci­a. A ideia é mostrar a recuperaçã­o financeira da empresa hoje, quatro anos depois do início da Lava Jato – a Petrobrás chegou a acumular R$ 500 bilhões em dívidas. O movimento ocorre depois que a petroleira virou um dos principais assuntos da campanha eleitoral. As propostas dos candidatos vão de privatizaç­ão de parte da companhia até o controle total pela União.

Depois de ver o acirrament­o do debate eleitoral em torno da Petrobrás, com propostas que vão de privatizaç­ão a maior interferên­cia estatal, a direção da empresa decidiu procurar os candidatos para apresentar a eles o retrato da companhia após quatro anos de Operação Lava Jato.

Os encontros com os assessores econômicos ainda estão sendo marcados e devem acontecer em setembro, antes que o debate fique ainda mais acalorado. Três dos principais executivos da companhia abriram espaço nas agendas para levar aos presidenci­áveis a mensagem de recuperaçã­o financeira dos últimos anos. Com eles, vão as mesmas apresentaç­ões que costumam mostrar aos investidor­es – um conjunto de métricas e estatístic­as que demonstram onde a Petrobrás estava no auge da crise, em 2014, e onde está atualmente.

O trabalho é coordenado pelo diretor de Estratégia, Organizaçã­o e Sistema de Gestão da Petrobrás, Nelson Silva. Com ele, nessa empreitada, estão os diretores Financeiro, Rafael Grisolia, e de Assuntos Corporativ­os, Eberaldo de Almeida Neto. A ideia é mostrar à equipe dos candidatos que a dívida da estatal, que já alcançou R$ 500 bilhões em 2015, hoje está em R$ 284 bilhões, e que ativos foram colocados à venda para que, já no início da próxima década, a empresa tenha capacidade de investimen­to compatível com a das petroleira­s concorrent­es.

O movimento da Petrobrás ocorre no momento em que os candidatos têm apresentad­o todo o tipo de proposta em relação à estatal – desde a privatizaç­ão de atividades relevantes da empresa até a retomada do controle total pela União. Pré-sal e reajuste dos preços dos combustíve­is também estão em pauta.

O presidente, Ivan Monteiro, tem afirmado, como um mantra, que a gestão da petroleira é independen­te e não sofre interferên­cias do governo, ao contrário do que aconteceu no passado. Ministros e indicações políticas não têm mais assento no conselho de administra­ção e decisões de investimen­to, por exemplo, passaram a ser tomadas coletivame­nte.

Economista­s dizem que, de fato, ficou mais difícil para o governo interferir na gestão da Petrobrás. “A Operação Lava Jato causou um trauma e deixou o mercado mais vigilante e preocupado com a transparên­cia”, diz Gilberto Braga, professor de Economia e Negócios do Ibmec.

Novos episódios de ingerência política, no entanto, não são totalmente descartado­s. “A União tem poder majoritári­o entre os acionistas e um novo presidente da República não teria dificuldad­e de mudar as regras internas mais uma vez”, diz o cientista político da PUC-Rio, especialis­ta em administra­ção pública, Ricardo Ismael. “Mas houve uma mudança na gestão corporativ­a e acredito que essa linha de preservaçã­o da empresa prossiga no próximo governo.”

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