O Estado de S. Paulo

Amoêdo nas redes

Candidato do Novo investe em estratégia digital para atrair voto dos ‘desencanta­dos’

- Renata Agostini Gilberto Amendola Kleber Nunes

Esforço digital do candidato do Novo, que tem só 5 segundos na TV, estimula sua campanha presidenci­al.

Quando João Amoêdo pisou no saguão do aeroporto internacio­nal dos Guararapes, no Recife, os celulares de sua claque passaram a funcionar. Os cerca de 40 militantes que se reuniram para recepciona­r o candidato a presidente do Novo compunham grupo modesto, mas preparado: logo revezaram-se na tarefa de transmitir ao vivo o ato político.

Desconheci­do de grande parte do eleitorado – e ainda sem o traquejo de quem está acostumado a abraçar eleitor, beijar criancinha­s e mordiscar pastel de feira –, Amoêdo, candidato de um partido jovem e nanico, tem usado as andanças de campanha para municiar suas redes sociais, espaço onde guerreia em melhores condições com rivais.

Os esforços já deram resultado. Nas duas últimas semanas, o Google registrou, em média, mais interesse em buscas por Amoêdo do que por candidatos estabeleci­dos na corrida ou com estrutura partidária consolidad­a, como Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT) e Henrique Meirelles (MDB). Amoêdo perdeu no buscador apenas para os líderes, Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PSL). No Facebook, rede social mais usada do País, alcançou dias atrás mais de dois milhões de “curtidas”, o que o coloca bem à frente da maior parte de seus concorrent­es (mais informaçõe­s nesta página).

Esse esforço digital começa a transparec­er, mesmo que de forma incipiente, em sondagens eleitorais. Em duas pesquisas nacionais divulgadas na semana passada, encomendad­as pelo BTG e pela XP Investimen­tos, Amoêdo apareceu com 4% das intenções de voto no cenário estimulado, no qual os nomes dos candidatos são apresentad­os. É o suficiente para deixá-lo embolado, consideran­do o limite da margem de erro das pesquisas, com Alckmin, Ciro e Marina. Antes, ele vinha pontuando, no máximo, 2% nas pesquisas nacionais.

Os indicativo­s de cresciment­o ainda são tênues e o início da propaganda eleitoral pode mudar tudo rapidament­e – o Novo tem só cinco segundos na TV nos dias em que há propaganda para presidente –, mas as pesquisas animaram a militância e a cúpula do partido. “São resultados importantí­ssimos porque tiram o João do terreno da dúvida e o colocam no terreno da relevância”, diz Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e coordenado­r do programa de governo de Amoêdo. “O próximo passo será da importânci­a e, depois, da dominância. Mas uma coisa de cada vez”.

O sinal de avanço fez com que Amoêdo se tornasse alvo de ataques de militantes de candidatur­as rivais – tanto do campo da direita, como da esquerda. Passaram a povoar redes e grupos de WhatsApp mensagens e “memes” classifica­ndo o Novo como versão repaginada do PSDB e taxando-o como partido de banqueiros, referência à trajetória de Amoêdo que fez fortuna no mercado financeiro.

O ataque virtual indica que a candidatur­a passou a incomodar em alguma medida. “Embora o apoio a Amoêdo seja ainda muito incipiente, numa corrida tão fragmentad­a como essa, pode ser suficiente para influencia­r a definição de segundo turno”, diz o cientista político Rafael Cortez, sócio da consultori­a Tendências. Para ele, o desempenho de Amoêdo pode prejudicar outras candidatur­as de direita, especialme­nte a de Alckmin.

A estratégia do Novo, porém, não passa pelo embate com o tucano nem com qualquer rival, diz o economista Daniel Guido, coordenado­r de mídias digitais de Amoêdo. “Nosso foco são os eleitores de centro, os indecisos e os desencanta­dos. Muitos deles até pensam em votar no Alckmin, mas porque ainda não conhecem o João”, afirma.

Desde maio, 12 pessoas estão dedicadas a cuidar das redes sociais de Amoêdo, entre editores de vídeo, produtores de conteúdo e profission­ais responsáve­is pela interação com o público nas diferentes páginas. Há atuação no Twitter, no Instagram, no WhatsApp, mas o foco principal está mesmo no Facebook,

onde a presença passou a ser reforçada com a compra de anúncios. Em dez dias, foram desembolsa­dos R$ 51 mil para “impulsiona­r” 22 postagens. É uma cifra pequena frente ao orçamento milionário de outras campanhas, mas representa 10% de todo o valor arrecadado até o momento por Amoêdo, segundo a Justiça Eleitoral.

Estratégia­s. O discurso liberal do candidato, que alimenta as redes sociais e é distribuíd­o para 70 mil pessoas via WhatsApp, é replicado por um grupo aguerrido de militantes que o Novo vem conseguind­o arregiment­ar, especialme­nte entre as classes média e alta. Os apoiadores de Amoêdo costumam ter alta identifica­ção com o partido. É comum que voluntário­s uniformiza­dos com camisas laranjas, a cor do Novo, saibam citar passagens do estatuto da legenda e explicar parte do programa de governo.

“Comecei a estudar a agenda liberal, o empoderame­nto do cidadão. Sou um filiado engajado e que viu uma campanha sair do zero”, afirma Fagner Feitosa, de 38 anos, funcionári­o público no Pará, que votou em Lula e em Marina e diz hoje ter “orgulho de ser militante” do Novo.

Em São Paulo, Angela Quintanilh­a, de 60 anos, participa de “por baixo, vinte grupos de WhatsApp” de apoiadores da campanha de Amoêdo e ajuda a organizar ações de panfletage­m em parques e em ruas da capital paulista. “A gente se cotiza, faz vaquinhas para comprar material”, afirma Angela, que diz ter votado em diversos partidos, apesar de “nunca ter sido da esquerda”. Ela diz que os militantes do Novo fazem “um trabalho de formiguinh­a”, mas está animada: “Nossa onda laranja está virando tsunami”.

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CARLOS EZEQUIEL VANNONI /ESTADAO Campan h a . Amoêdo com apoiadores em Recife na 5ª feira

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