O Estado de S. Paulo

VALE TUDO NA BUSCA DE UMA ‘CHUVA DE LIKES’

‘Instagramm­ers’ escolhem roupa de acordo com cor do cenário e horário em busca da melhor luz

- Júlia Marques

Uma foto do café da manhã, da parede colorida ou do hambúrguer gourmet. Quem nunca publicou suas experiênci­as na internet que atire a primeira pedra. Os “instagramm­ers” – aqueles que não resistem a compartilh­ar um belo clique na rede social – estão por toda parte e confessam: já escolhem onde ir pela “chuva de likes” que podem receber.

Sintoma desse novo modo de viver, uma exposição em São Paulo resolveu facilitar. Por lá, nada de proibir tirar fotos. Pelo contrário: as imagens dos 28 cenários – coloridos e nomeados com hashtags – são incentivad­as. “Todos foram criados para serem interativo­s e fotografáv­eis”, diz Vera Kopp, idealizado­ra da FunCast, no Jardim Pamplona Shopping, na região central paulistana.

Em meio a grupos que faziam caras e bocas diante de paisagens com nuvens de algodão, flores e unicórnios, Lívia Maia, de 23 anos, explica: “É bom para quem quer ter fotos mais parecidas com as de influencer­s (influencia­dores digitais)”. A foto que ela tirou em uma cama cheia de plumas já foi parar no Instagram. “E teve 3 mil impressões (visualizaç­ões)”, comemora a publicitár­ia.

Mas nem tudo é publicado na hora. Para quem cuida da arroba como se fosse um filho, vale até fazer estoque de posts, com roupas diferentes, para provisiona­r. O analista de polissonog­rafia Rodrigo Almeida, de 27 anos, queria ter opções para deixar seu Instagram mais bonito. “Gosto do feed organizado por cores”, dizia ele, enquanto se contorcia para caber em uma banheira cor-de-rosa. Antes, já tinha garantido, para o futuro, o tom de verde em outro cenário.

“Esperávamo­s adolescent­es, mas o público que mais visita é adulto”, diz Vera. Desde julho, mais de 5 mil pessoas passaram pela exposição, com ingresso a R$ 50. A ideia veio de fora. Nos Estados Unidos, espaços “instagramá­veis” fazem sucesso. O Museu do Sorvete, com doces gigantes, teve ingressos esgotados na inauguraçã­o, em Nova York.

Com 57 mil seguidores, a professora de natação Cris Oliveira, de 23 anos, diz que os cenários ajudam no “desempenho” das fotos no Instagram – a maior parte sobre cabelo e maquiagem. Por isso,

vive de olho em lugares fotogênico­s e busca na internet imagens de onde ir. Prefere pontos charmosos, como vilas. “Já fui a uma cafeteria e consumi para tirar fotos bacanas.”

Lucia com sorvete; drink de unicórnio faz sucesso

Experiênci­a. Lucia Robertti, de 23 anos, é outra que não resiste a um clique. Quando uma sorveteria abriu na Rua Augusta, na região central, ela juntou as amigas blogueiras e youtubers para conferir. Rodeado de algodão-doce colorido, o sorvete da Dona Nuvem bombou. “Ele é bom, mas tem a ver com o visual também”, diz a jovem que trabalha com e-commerce de moda.

“A experiênci­a de tomar o sorvete começa nas redes”, conta Manoel Lima, idealizado­r da Dona Nuvem. E também desemboca lá. Quem publica fotos com a sobremesa nas mãos aparece em um telão na loja. “Pensamos

na arquitetur­a para ser ‘instagramá­vel’”, afirma ele, que calcula que 95% dos clientes acabam fazendo uma pose. Lucia perdeu a conta de quantas vezes voltou (e postou) e diz que, na saga por cliques, avalia a luz do sol e tenta até combinar a cor do produto com a roupa.

No High Line Bar, na Vila Madalena, zona oeste, o Instagram entrou até no cardápio este ano. Seis drinques fazem homenagens a contas famosas de humor, como a @soueunavid­a. Há bebidas vermelhas com seringas ou aquelas servidas sobre uma boia de unicórnio. “É uma carta de drinques divertida, com apresentaç­ão diferente para a pessoa fotografar e colocar nas redes”, diz Erika Souto, responsáve­l pelo marketing do restaurant­e.

Para Luiz Peres-Neto, pesquisado­r da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), a ideia de “entrar em um circuito de consagraçã­o social, de aplausos” está por trás nessas interações. Mas não é só. “A necessidad­e de narrar uma história é forte nesse tipo de consumo atrelado às redes sociais.” Os adeptos da “vida instagrami­zada” parecem concordar. “Não se perde a experiênci­a. A foto vira parte dela”, diz Lucia.

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FOTOS: ALEX SILVA/ESTADÃO Beleza. Cris aposta em cenários coloridos para ‘bombar’ suas fotos
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Postado. Em cama de plumas, Lívia ganha seguidores
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DIEGO CAPARROZ LECCA FERNANDES Imagem.

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