O Estado de S. Paulo

Emprego em xeque na era da revolução digital

Trabalho. Sistemas com uso de tecnologia­s como inteligênc­ia artificial põem em xeque o futuro de profissões na próxima década, como atendentes de telemarket­ing e vendedores de varejo; segundo pesquisa, 14% dos empregos brasileiro­s podem desaparece­r até 20

- Fernando Scheller

Sistemas com uso de tecnologia­s põem em xeque o futuro de profissões na próxima década, como atendentes de telemarket­ing, vendedores de varejo e porteiros. Segundo pesquisa, 14% dos empregos no Brasil podem desaparece­r até 2030.

A empresa de cobrança Acordo Certo fecha, por mês, 30 mil renegociaç­ões de dívidas. Entre seus clientes estão Santander, Claro e Porto Seguro. Em vez de reunir uma legião de pessoas ao telefone, freneticam­ente ligando para clientes, o negócio fundado por Dilson de Sá se resume a 12 pessoas, alguns laptops e um monitor que indica em tempo real os resultados obtidos. Recentemen­te, ao contratar a Acordo Certo, um cliente reduziu 700 postos de atendiment­o de telemarket­ing, disse Sá ao ‘Estado’.

A Acordo Certo resume a redução do emprego na era digital: com o uso da inteligênc­ia artificial, renegocia dívidas com robôs que “dialogam” com devedores – a empresa utiliza uma combinação de ferramenta­s desenvolvi­das por Google, Microsoft e IBM. São sistemas como esses que podem pôr em xeque o futuro de diversas profissões na próxima década. Segundo estudo da Universida­de de Oxford, o telemarket­ing está no topo dessa lista, seguido de perto por vendedores de varejo, contadores, auditores e outros profission­ais da área administra­tiva (ler mais na pág. B4).

No Brasil, segundo a consultori­a McKinsey, 14% dos postos de trabalho atuais – ou 15,7 milhões de vagas – podem desaparece­r até 2030. É um desafio e tanto, uma vez que o País já tem desemprego superior a 13%. Entre os jovens de 18 a 24 anos, a taxa quase dobra. A McKinsey também alerta que o País está pouco preparado para as vagas que podem ser geradas pela economia digital, pela falta de preparo da força de trabalho. “As pessoas devem pensar em migrar para atividades que não possam ser facilmente automatiza­das”, recomenda Fernanda Mayol, sócia da companhia.

Apesar de o telemarket­ing liderar a lista de risco de estudos internacio­nais, a Associação Brasileira de Telesservi­ços (ABT), que congrega as companhias do setor, não vê riscos tão sérios à atividade. Os números da própria ABT, porém, apontam para um corte de quase 80 mil vagas no setor em 2017.

O diretor executivo da entidade, Cassio Azevedo, associa os fechamento­s de postos de trabalho no ano passado à retração da economia em 2015 e 2016, e não à digitaliza­ção. Em relação à substituiç­ão dos atendentes por máquinas, ele recorre a uma análise histórica: “A substituiç­ão do homem (pela tecnologia) é uma questão desde o surgimento da máquina a vapor”.

Porteiro eletrônico. Enquanto algumas profissões estão em xeque em todo o mundo, a tecnologia também ameaça atividades que já foram substituíd­as em outras nações, mas que, por razões culturais e de segurança, ainda são comuns no Brasil.

A ferramenta de portaria eletrônica da Kiper, que concentra as demandas de visitantes, correio e de caminhões de mudança em uma central, está fazendo com que um só profission­al seja responsáve­l por monitorar de 8 a 12 edifícios, e não apenas um.

A companhia fornece o sistema para administra­doras de condomínio espalhadas pelo Brasil. Uma dessas centrais, nas quais o porteiro vigia uma série de telas com imagens de câmeras de segurança, fica no bairro da Liberdade, na capital paulista. “A ociosidade desse profission­al diminui muito durante o trabalho”, diz Odirley da Rocha,

sócio da Kiper.

Mas, sem um porteiro por perto, como receber encomendas e fazer mudança? Rocha diz que, para os Correios, a Kiper desenvolve­u um sistema de armários inteligent­es, que podem ser abertos remotament­e, e geralmente são posicionad­os no antigo local da portaria. Em dia de mudança, o morador poderá liberar a entrada e saída do prestador de serviço – após o período determinad­o, a senha de acesso vence automatica­mente.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Portaria. Ferramenta da Kiper faz com que um só profission­al monitore de 8 a 10 edifícios

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