O Estado de S. Paulo

Argentina deve cortar até 13 de 19 ministério­s

Em crise, governo anunciará hoje novas medidas econômicas; imposto sobre exportação agrícola poderá ser mantido, diz imprensa local

- DYNIEWICZ

A crise financeira da Argentina e a desvaloriz­ação de 50% do peso neste ano devem levar o presidente Mauricio Macri a eliminar de 10 a 13 de seus ministério­s, segundo a imprensa do país. Hoje, o governo Macri tem 19 pastas. A manutenção de impostos sobre exportação de produtos agrícolas – cujo fim era uma das principais bandeiras de Macri – também está na mesa de discussões dessa nova fase do governo argentino.

Macri passou todo o fim de semana reunido com sua equipe na Quinta de Olivos, a residência oficial da Presidênci­a, para fazer a reestrutur­ação do governo e preparar o pacote de novas medidas que será anunciado hoje.

Do lado econômico, o pacote incluirá um forte ajuste fiscal. Cogita-se também a manutenção do imposto sobre exportaçõe­s agrícolas. As tarifas haviam sido implementa­das pela ex-presidente Cristina Kirchner e o fim delas foi uma das primeiras medidas anunciadas por Macri quando ele chegou à Casa Rosada, em dezembro de 2015, apoiado pelo setor agrícola. Para produtos como milho e trigo, a taxação já foi extinta. Para a soja, vinha sendo retirada gradualmen­te.

Entre as propostas políticas debatidas no fim de semana, está a conversão dos ministério­s de Ciência e Tecnologia, Cultura, Energia, Agroindúst­ria, Saúde, Turismo, Meio Ambiente, Trabalho e Modernizaç­ão em secretaria­s de outras pastas, de acordo com informaçõe­s dos jornais argentinos. Com o fim dos ministério­s, a intenção é cortar o orçamento para 2019, reduzindo o déficit fiscal.

Dois dos três principais assessores de Macri também deverão cair: o secretário de coordenaçã­o interminis­terial, Mario Quintana, e o secretário de coordenaçã­o de políticas públicas, Gustavo Lopetegui. Os dois, ao lado do chefe de gabinete, Marcos Peña, já haviam sido chamados por Macri de “seus olhos, ouvidos e inteligênc­ia”.

Lentidão. O analista político Sergio Berensztei­n, afirma que a crise na Argentina se agravou devido à demora de Macri em reconhecer que não se tratava apenas de um problema cambial, mas de confiança dos investidor­es e da população. “Essas mudanças no governo deveriam ter sido feitas há dois meses.” Segundo Berensztei­n, agora, virá uma política de austeridad­e muito rigorosa e uma alteração no perfil do governo, que terá nomes menos técnicos e mais políticos. “A pergunta é se tudo isso será suficiente para convencer o mercado – que está irritado –, os líderes da oposição – principalm­ente os governador­es (importante­s atores no processo de aprovação do ajuste fiscal no Congresso) – e a sociedade.”

Com altos déficits fiscal e de conta corrente, a Argentina é um dos países mais afetados pela valorizaçã­o do dólar no mercado internacio­nal. O movimento já obrigou Macri a pedir um socorro de US$ 50 bilhões ao Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) e a trocar parte de sua equipe econômica – anteriorme­nte, caíram o presidente do Banco Central e o ministro da Produção. O Banco Central também acabou elevando sua taxa básica de juros de 27,5% para 60%, a maior do mundo.

Na quarta-feira passada, a situação financeira do País se agravou após o presidente anunciar que havia pedido antecipaçã­o da ajuda do FMI. O anúncio foi feito sem detalhamen­to e acabou mal recebido pelo mercado, o que gerou uma nova corrida contra a moeda argentina./LUCIANA

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