O Estado de S. Paulo

Propostas sobre corrupção são genéricas

Dos 13 candidatos à Presidênci­a da República, 11 apresentar­am tópicos sobre o tema; analistas apontam fragilidad­es nos programas

- Ricardo Brandt Julia Affonso

Exigência de ficha limpa para servidores, fim das indicações políticas em ministério­s e estatais, redução do foro privilegia­do, veto à reeleição e mudanças de regras nas delações premiadas. Essas são algumas das propostas sobre o tema corrupção dos candidatos à Presidênci­a da República registrada­s nas diretrizes de seus planos de governo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Dos 13 presidenci­áveis, 11 apresentar­am tópicos para o tema. Especialis­tas ouvidos pelo Estado avaliam que o tema foi tratado genericame­nte pela maioria dos candidatos.

A pedido do Estado , um membro do Ministério Público Federal da força-tarefa da Operação Lava Jato, um professor de Direito Administra­tivo especialis­ta no tema e um representa­nte de entidade da sociedade civil organizada analisaram os programas dos presidenci­áveis.

A apresentaç­ão das diretrizes de governo pelos candidatos é obrigatóri­a pela legislação eleitoral. No caso do enfrentame­nto à corrupção, apenas os programas de Henrique Meirelles (MDB) e Cabo Daciolo (Patriota) não tratam diretament­e do assunto. A assessoria do ex-ministro da Fazenda declarou “todo apoio à Lava Jato” e disse que “o combate à corrupção é uma prioridade absoluta e deve acontecer de forma permanente, independen­temente de plano de governo”. O presidenci­ável do Patriotas foi procurado pela reportagem mas não respondeu até a conclusão desta edição.

O tema ganhou destaque no embate eleitoral deste ano. Pesquisa Ibope de março apontou que 44% dos entrevista­dos estavam pessimista­s em relação às eleições e o motivo apontado por um terço deles era a corrupção no País. “Vemos a corrupção como uma das principais preocupaçõ­es do brasileiro e ainda assim alguns candidatos não trataram de forma aprofundad­a”, avalia Guilherme France, consultor do Centro de Conhecimen­to Anticorrup­ção da Transparên­cia Internacio­nal. Proposiçõe­s. Três candidatos adotam o termo “tolerância zero” para o combate à corrupção: Geraldo Alckmin, do PSDB, Alvaro Dias, do Podemos, e Jair Bolsonaro, do PSL. Suas propostas, no entanto, estão entre aquelas que carecem de profundida­de, na avaliação dos analistas. Os planos de Alvaro Dias, Bolsonaro e Marina Silva (Rede) prometem encampar o pacote de 10 Medidas de Combate à Corrupção, do MP, que foi modificado no Congresso no ano passado.

O candidato do Podemos, que tenta colar sua imagem à Lava Jato repetindo que se eleito vai convidar o juiz federal Sérgio Moro – responsáve­l pela operação na primeira instância – para ser ministro, fala em “uma medida de limpeza por dia” sem detalhar qual seria.

Marina é a candidata que mais enfatiza o tema em seu programa de governo. Ela foi a primeira presidenci­ável a assinar o programa expandido das “10 Medidas” com 70 propostas para o combate à corrupção. Ciro Gomes (PDT), também detalhou os mecanismos a serem usados para colocar em prática seus compromiss­os assumidos nas diretrizes. Os dois enfatizam o controle e a eficiência nos negócios públicos, a transparên­cia e a participaç­ão popular.

Para o professor de Direito Administra­tivo da USP Gustavo Justino de Oliveira, o quadro geral das propostas explicita que a corrupção ainda é tratada de forma genérica, com compromiss­os ultrapassa­dos que não têm relação com o quadro sistêmico de desvios enfrentado no Brasil. “Mesmo que as propostas sejam muito genéricas, o fato de quase todos tratarem do tema evidencia que a corrupção está na agenda dos candidatos e faz com eles assumam o compromiss­o de promover o enfrentame­nto”, afirma o especialis­ta, que ministra o curso intitulado “Corrupção na Administra­ção Pública” na USP.

“Não basta falar que é contra a corrupção, como muitos têm falado, mas tem que dizer quais são as propostas concretas de políticas públicas”, afirmou o procurador da República Deltan Dallagnol, da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba. Entre as medidas que cita como prioritári­as estão “a redução drástica do foro privilegia­do, o aumento das penas, a punição de partidos que se envolvem em práticas ilícitas, a criminaliz­ação do enriquecim­ento ilícito dos agentes públicos, regulament­ação do lobby”.

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