O Estado de S. Paulo

CLÃS TENTAM SE MANTER NO PODER APÓS LAVA JATO

Mesmo com pais presos, os filhos de Sergio Cabral e de Eduardo Cunha concorrem a cargos eletivos; ‘Garotinhos’ e ‘Piccianis’ reforçam quadro

- Roberta Pennafort / RIO

As eleições de 2018 não serão como outras que passaram para os clãs que há mais de duas décadas estão entre os protagonis­tas da política do Rio. Os motivos são, de um lado, prisões pela Lava Jato – como a do ex-governador Sergio Cabral, do ex-deputado federal Eduardo Cunha e do ex-deputado estadual Jorge Picciani, os três do MDB – e, do outro, pelo aumento recente da visibilida­de das famílias de Jair Bolsonaro (PSL) e de Rodrigo e Cesar Maia (DEM).

A despeito da prisão e das acusações das quais o pai, Sérgio Cabral, é alvo – de liderar o maior esquema de corrupção já descoberto no Rio – o deputado federal Marco Antônio Cabral (MDB) tem feito uma campanha discreta, sem anunciar sua agenda. Ele aposta no capital político que deu quase 120 mil votos em 2014 – quando foi o novo deputado federal mais votado do Estado.

“Cabralzinh­o”, como é chamado pela semelhança física com o pai, não cola mais sua imagem à dele. Prefere ressaltar sua atuação no parlamento e se vender como um “jovem que tem história”, como diz seu jingle. Por outro lado, sutilmente se refere a ele quando rima “ficar legal” com “Cabral”, como se cantava num jingle antigo, na campanha do pai à prefeitura carioca em 1996. No Facebook, inclui os políticos do lado materno, Tancredo, seu tio-bisavô, e Aécio Neves (PSDB).

A estreante Danielle Cunha (MDB) disputa uma vaga na Câmara com “a missão de carregar o legado político” do pai, Eduardo Cunha, que está preso há 22 meses. Mirando o eleitorado evangélico dele, ela adotou o discurso em defesa “da vida, da família e do Rio”. Seguindo orientação de Cunha, ela pediu na semana passada à Justiça Eleitoral mineira que barre a candidatur­a da presidente cassada Dilma Rousseff (PT) ao Senado. Nem Marco Antonio nem Danielle deram entrevista.

Na família dos ex-governador­es Anthony e Rosinha Garotinho (PRP), a novidade é a candidatur­a do filho Wladimir à Câmara federal. Ele vai dividir voto com a irmã, Clarissa, que tenta a reeleição enquanto o patriarca mais uma vez busca voltar ao Palácio Guanabara. Garotinho está com a candidatur­a impugnada por causa de acusação de improbidad­e administra­tiva. Em 2017, ele e Rosinha foram presos, suspeitos de crime eleitoral. “É um desejo do Wladimir, e evidenteme­nte não repetirei os 335 mil votos que tive”, acredita Clarissa.

Entre os Piccianis houve uma baixa. Com o pai e irmão caçula, Felipe, o único que não é político, respondend­o à Justiça, Rafael Picciani, deputado estadual, decidiu não concorrer. O nome forte em 2018 é Leonardo Picciani, deputado federal e ex-ministro do Esporte de Michel Temer (MDB). No lançamento de sua candidatur­a à reeleição, no reduto eleitoral de Anchieta, zona norte do Rio, semana passada Leonardo mencionou o pai e Rafael brevemente, mandando-lhes “uma saudação especial, por tudo o que fizeram pelo Estado”.

Picciani não acha que a Lava Jato irá lhe tirar chances. “Estou disputando minha quinta eleição. O eleitor tem um histórico meu, independen­temente do meu pai, irmão e outros companheir­os do partido. Os principais partidos brasileiro­s tiveram quadros com problemas”, afirmou.

Para Cesar Maia – que pleiteia vaga no Senado pela terceira vez enquanto o filho, Rodrigo, tentará a reeleição à presidênci­a da Câmara – a Lava Jato pode afetar o número de votos dos filhos de investigad­os, mas não necessaria­mente irá sepultá-los politicame­nte. “A tradição sempre foi uma marca na política. Isso é geral, em todos os países”, disse.

No caso de Bolsonaro, a grande exposição com sua candidatur­a à Presidênci­a vem inflando as chances dos filhos Flávio, um dos líderes das pesquisas para o Senado, e Eduardo, deputado federal por São Paulo tentando a reeleição.

O cientista político Ricardo Ismael, professor da PUC-Rio, acha pouco provável que os “filhos de” com “heranças malditas” tenham sucesso garantido neste pleito, como Danielle Cunha e Marco Antonio Cabral. “Já os que têm a visibilida­de do pai, como os filhos do Bolsonaro, ou parte da máquina, como o do Picciani, têm as candidatur­as priorizada­s pelos partidos”, avalia.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO – 14/12/2017 ‘Cabralzinh­o’. Marco Antonio Cabral vai tentar a reeleição
 ?? DIVULGAÇÃO – 27/8/2018 ?? Sozinho. No clã, só Leonardo Picciani tenta novo mandato
DIVULGAÇÃO – 27/8/2018 Sozinho. No clã, só Leonardo Picciani tenta novo mandato

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