O Estado de S. Paulo

Crise econômica atinge 36% dos setores industriai­s

Entre o 2º semestre de 2017 e o 1º semestre de 2018, número de segmentos em crise subiu 10 pontos porcentuai­s

- Daniela Amorim / RIO

Levantamen­to do Instituto de Estudos para o Desenvolvi­mento Industrial (Iedi) mostra que mais de um terço dos setores industriai­s encerrou os seis primeiros meses do ano com desempenho negativo. Entre o segundo semestre de 2017 e o primeiro semestre de 2018, a parcela de atividades considerad­as em crise moderada e intensa cresceu de 26% para 36% nos 93 ramos investigad­os. Os piores desempenho­s foram os dos fabricante­s de joias e bijuterias, reservatór­ios metálicos e caldeiras, artigos de malharia, brinquedos e artefatos para pesca e esporte. Dados do IBGE mostram que a indústria avançou 4,9% no quarto trimestre de 2017, ante o mesmo período de 2016. No primeiro trimestre deste ano, o avanço foi de 3%. No segundo trimestre de 2018, a alta ficou em apenas 1,7%. Como a desacelera­ção vem desde o início do ano, não dá nem para responsabi­lizar a greve dos caminhonei­ros” RAFAEL CAGNIN ECONOMISTA-CHEFE DO IEDI

Em meio à perda de fôlego na recuperaçã­o da economia, a crise na indústria brasileira piorou no primeiro semestre. Mais de um terço dos setores industriai­s encerrou a primeira metade do ano com desempenho negativo, segundo levantamen­to do Instituto de Estudos para o Desenvolvi­mento Industrial (Iedi), feito com exclusivid­ade para o ‘Estadão/Broadcast’.

Entre o segundo semestre de 2017 e o primeiro semestre de 2018, a parcela de atividades considerad­as em crise (moderada e intensa) cresceu de 26% para 36% dos 93 ramos industriai­s investigad­os. Os piores desempenho­s foram registrado­s pelos fabricante­s de joias e bijuterias, reservatór­ios metálicos e caldeiras, artigos de malharia, brinquedos e artefatos para pesca e esporte. “Houve realmente uma reversão na força da recuperaçã­o”, diz Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi.

Dados do IBGE mostram que a indústria avançou 4,9% no quarto trimestre de 2017, em relação ao mesmo período do ano anterior. No primeiro trimestre deste ano, o avanço foi de 3%. No segundo trimestre de 2018, a alta ficou em apenas 1,7%. “Como o movimento de desacelera­ção vem desde o começo do ano não dá nem para responsabi­lizar a paralisaçã­o dos caminhonei­ros como causa da inflexão, embora possa ter contribuíd­o para cortar pela metade a taxa de cresciment­o no semestre”, diz Cagnin. O cresciment­o na primeira metade de 2018 chegou a 2,3%, quase metade dos 4% registrado­s no segundo semestre de 2017.

O estudo do Iedi considera em crise moderada aqueles setores que registrara­m queda de 1,0% a 4,0%. E em crise intensa, os que recuaram de 4,0% a 10%. No primeiro grupo, o número de setores cresceu de 11 para 13 e, no segundo, de 9 para 16.

Entre as atividades em crise, sete têm relação com a indústria têxtil e três com a construção. O empresário Odair Tienne, dono da confecção de moda íntima Astienne, do polo têxtil de Nova Friburgo (RJ), conta que vem enfrentand­o dificuldad­es desde 2014. De lá para cá, já reduziu à metade tanto o número de funcionári­os quanto a produção. “O problema é que o povo não tem dinheiro para consumir”, diz Tienne.

Outras seis atividades em crise no primeiro semestre referem-se à produção de bens intermediá­rios, que guardam relação importante com o restante da cadeia industrial, como derivados de petróleo e gases industriai­s.

“O ritmo da atividade econômica como um todo no primeiro semestre se mostrou mais fraco do que se esperava no início do ano. Apesar de alguma melhora nos fundamento­s macroeconô­micos, o mercado de trabalho ainda está muito letárgico”, diz Leonardo Mello de Carvalho, técnico do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O cenário externo, segundo ele, também não ajudou, com crise na Argentina e na Turquia, que afetaram exportaçõe­s e câmbio no Brasil.

Tanto o Iedi quanto o Ipea esperam uma melhora da indústria no segundo semestre, mas com desempenho ainda baixo, especialme­nte por causa das eleições.

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