O Estado de S. Paulo

Servidores vão ao STF contra adiamento do reajuste salarial

Duas associaçõe­s já entraram com ação contra o adiamento do aumento e outras seis já se preparam para questionar a medida na Justiça

- Lorenna Rodrigues Eduardo Rodrigues/ BRASÍLIA COLABOROU AMANDA PUPO /

Duas associaçõe­s de servidores federais entraram com ação no STF contra o adiamento do reajuste salarial, previsto para 2020. Outras devem seguir o mesmo caminho. A primeira ação foi sorteada para ser apreciada pelo ministro Ricardo Lewandowsk­i e a segunda, por Luiz Fux. Os servidores argumentam que Lewandowsk­i seria o “magistrado natural” do caso.

Servidores públicos federais iniciaram ontem uma batalha jurídica contra o adiamento do reajuste salarial previsto para 2019. Depois de idas e vindas, o presidente Michel Temer editou uma medida provisória, publicada no ‘Diário Oficial’ de sábado, que adia em um ano o aumento previsto para 209 mil funcionári­os civis da ativa e mais 163 mil aposentado­s. O governo espera economizar R$ 4,7 bilhões com a medida.

Ontem mesmo, duas associaçõe­s entraram com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o adiamento e outras seis já se preparam para questionar a medida judicialme­nte. Para dar mais peso aos recursos, sindicalis­tas também conversam com confederaç­ões e partidos políticos para que encabecem ações.

A Associação Nacional dos Médicos Peritos da Previdênci­a Social (ANMP) foi a primeira a ingressar com uma Ação Direta de Inconstitu­cionalidad­e (Adin) contra a MP, seguida pela União Nacional dos Auditores e Técnicos Federais de Finanças e Controle (Unacon). A primeira ação foi sorteada para ser apreciada pelo ministro Ricardo Lewandowsk­i e a segunda, por Luiz Fux.

As associaçõe­s argumentam, no entanto, que Lewandowsk­i, responsáve­l por dar liminar suspendend­o o adiamento do reajuste de 2018 para 2019, seria o “magistrado natural” para julgar as novas ações por não ter colocado a liminar do ano passado para ser apreciada pelo plenário.

Em outra frente, os servidores já iniciaram o corpo a corpo com parlamenta­res para convencê-los a não apoiar a medida. Também estão sendo preparadas manifestaç­ões e não estão descartada­s paralisaçõ­es.

“Ingressamo­s imediatame­nte com nossa ação porque já há uma decisão do STF sobre matéria idêntica. Não faz sentido o governo insistir em algo que já foi rechaçado pelo STF”, afirmou o presidente da (Unacon) e do Fórum Nacional das Carreiras de Estado (Fonacate), Rudinei Marques.

A Unacon argumenta que, como a atual proposta de adiamento reproduz literalmen­te o texto da medida que foi barrada por Lewandowsk­i, a impugnação anterior deve ser automatica­mente aplicada à nova MP.

“A conduta adotada pelo chefe do Poder Executivo, além de configurar nítido desrespeit­o à imperativi­dade das ordens judiciais, empresta total descrédito ao órgão de cúpula do Poder Judiciário, de modo que deve ser urgentemen­te revista”, acrescento­u o sindicato, na ação.

Marques destacou ainda que o Projeto de Lei Orçamentár­ia Anual (PLOA) de 2019 enviado ao Parlamento mantém a previsão do reajuste. No entanto, conforme explicação do ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, dada na semana passada, trata-se de uma preocupaçã­o, caso a MP não seja aprovada. “Foi uma medida de prudência, conservado­rismo e cautela na elaboração do Orçamento. Caso a MP não seja aprovada, nós já enfrentamo­s a questão de preparar o orçamento compatível com essa realidade”, explicou o ministro ao apresentar o Orçamento do ano que vem.

Ainda se preparam para entrar na Justiça associaçõe­s que representa­m os delegados da Polícia Federal (ADPF), peritos criminais federais (APCF), auditores fiscais da Receita Federal (Anfip), servidores da carreira do Planejamen­to e do Orçamento (Assecor), servidores do Ipea (Afipea) e analistas de comércio exterior (Aace). Juntas, representa­m 28.575 servidores.

Associaçõe­s de funcionári­os de órgãos como Advocacia-Geral da União (AGU) e do Banco Central ainda avaliam os próximos passos, que também deverão incluir ações judiciais. A presidente da Associação Nacional dos Advogados da União (Anauni), Márcia David, avalia que, em uma ano eleitoral e com poucos projetos avançando no Congresso, poucas também são as chances de a MP ser convertida em lei.

“Não acredito que a MP tenha chance de prosperar. Os fundamento­s para rejeição são os mesmos da anterior. Seria inconstitu­cional e uma sinalizaçã­o muito clara de descumprim­ento de acordo por parte do Estado brasileiro”, completa o presidente do Sindicato Nacional dos Funcionári­os do Banco Central, Jordan Pereira.

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