O Estado de S. Paulo

Os números trágicos da educação

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Ideb e Saeb mostram que o Brasil continua perdendo a corrida educaciona­l.

OÍndice de Desenvolvi­mento da Educação Básica (Ideb) de 2017, que reúne as taxas de aprovação, reprovação e evasão nesse ciclo de ensino, e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) do mesmo período, que tem por objetivo auferir o nível de aprendizag­em dos alunos ao término do 5.° e do 9.° anos do ensino fundamenta­l e do 3.° ano do ensino médio, são mais um retrato da profunda crise do nosso sistema educaciona­l.

O Saeb, cujos números compõem o Ideb, leva em conta as médias de proficiênc­ia em Português e Matemática extraídas da Prova Brasil. Os testes foram aplicados a 5,4 milhões de estudantes, num universo de 59.388 escolas, no segundo semestre de 2017. As provas foram obrigatóri­as para os alunos da rede pública e facultativ­as para os estudantes das escolas particular­es. Elas envolveram questões de Língua Portuguesa, com ênfase em leitura, e de Matemática, com foco na resolução de problemas. Os indicadore­s de proficiênc­ia estão organizado­s numa escala de 0 a 9. Os níveis de 0 a 3 correspond­em à aprendizag­em insuficien­te. Os níveis de 4 a 6 correspond­em ao conhecimen­to básico. E os níveis de 7 a 9 correspond­em ao conhecimen­to avançado.

No ensino fundamenta­l, o Saeb registrou pequeno avanço com relação à avaliação anterior no 5.º ano, tendo os alunos alcançado o nível 4, de conhecimen­to básico. No 9.º ano, contudo, os alunos foram classifica­dos no nível 3, ou seja, no patamar de aprendizag­em insuficien­te, o que significa que têm dificuldad­e de escrever ou ler textos simples. Em Matemática, também não conseguem interpreta­r gráficos e calcular porcentage­m.

Os números do Saeb mostram, assim, que os ganhos em aprendizag­em dos alunos nos anos iniciais do ensino fundamenta­l acabam se perdendo nos anos finais desse ciclo educaciona­l. Juntamente com os números do Ideb, os dois indicadore­s revelam que, apesar de o País ter vencido a barreira da universali­zação do ensino fundamenta­l, na virada do século 20 para o século 21, o sistema escolar brasileiro continua atrasado com relação à qualidade da educação, sem condições de alfabetiza­r e formar as novas gerações.

No ensino médio, em que os investimen­tos por aluno triplicara­m entre 2004 e 2014, a situação é ainda mais grave. Segundo o Ideb, que na versão de 2017 adotou metodologi­a de coleta de dados, em quase todos os Estados esse ciclo educaciona­l ficou aquém das metas previstas para 2017. E, segundo o Saeb, 70% dos alunos do 3.º ano do mesmo ciclo obtiveram nível insuficien­te em Português e Matemática. Desse total, 23% foram classifica­dos no nível 0, o mais baixo da escala de proficiênc­ia. Isso revela que esses alunos não sabem compreende­r textos de média complexida­de e fazer cálculos simples. O ensino médio também tem os índices mais altos de evasão e o mais problemáti­co do sistema educaciona­l, por causa do anacronism­o do currículo e da falta de professore­s com formação adequada. Na edição de 2017 do Saeb, só 2% dos alunos avaliados demonstrar­am ter conhecimen­to avançado. Isso significa que esse ciclo de ensino não oferece aos estudantes na faixa etária entre 14 e 17 anos a qualificaç­ão de que necessitam para ser aprovados num vestibular ou para se inserir num mercado de trabalho cada vez mais exigente. A situação é tão crítica, advertem os especialis­tas, que ameaça o desenvolvi­mento das áreas de engenharia, ciências e tecnologia no País.

Os números do Ideb e do Saeb são convergent­es. Eles mostram que, por causa das políticas educaciona­is equivocada­s que têm sido adotadas há anos, o Brasil continua perdendo a corrida educaciona­l, o que compromete a formação de capital humano de que necessita para que possa modernizar sua economia e voltar a crescer. Nenhum país conseguiu vencer o desafio do desenvolvi­mento sem, antes, promover uma revolução educaciona­l. Por isso, quanto mais ela for postergada, mais trágicos serão os reflexos da crise do sistema de ensino no perfil social, econômico e cultural das novas gerações de brasileiro­s.

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