Agressor afirma à Polícia Federal que agiu sozinho
Em depoimento, Adelio Bispo de Oliveira diz que não foi contratado por ninguém e se considera um representante da ‘esquerda moderada’
O servente de pedreiro Adelio Bispo de Oliveira, agressor de Jair Bolsonaro, afirmou em depoimento à Polícia Federal que agiu sozinho. Ele foi indiciado com base na Lei de Segurança Nacional. A pena para crimes por motivação política é de três a dez anos de reclusão e pode dobrar se o fato resultar em lesão corporal grave. Oliveira está preso em Juiz de Fora (MG), mas, por decisão judicial, será levado para um presídio federal.
O agressor do candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, Adelio Bispo de Oliveira, afirmou em depoimento anteontem à Polícia Federal que “não foi contratado por ninguém para atentar contra a vida” do deputado. O servente de pedreiro disse que recebeu “uma ordem de Deus” para matar o presidenciável, porque, “embora ele (Bolsonaro) se apresente como evangélico, na verdade não é nada disso”. Declarou ainda que defende “a ideologia de esquerda” e se considera “da esquerda moderada”.
O preso se justificou dizendo que Bolsonaro “defende o extermínio de homossexuais, negros, pobres e índios, situação da qual discorda radicalmente”. Oliveira foi detido anteontem após dar uma facada no presidenciável durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG).
Ontem, após audiência de custódia, foi determinada a transferência de Oliveira para um presídio federal (mais informações nesta página). A juíza Patrícia Teixeira de Carvalho considerou o atentado “delito grave, que revela profundo desrespeito à vida humana e ao estado democrático de direito”. Na audiência, Oliveira foi representado por quatro advogados.
Um dos quatro defensores do agressor, Zanone Manuel de Oliveira Júnior, disse ontem que Oliveira agiu sozinho e por motivação política. “Ele (Oliveira)
salienta que agiu de forma solitária. Aquela intenção era só dele. Não estava mancomunado, não havia concurso de pessoas”, afirmou o advogado. De acordo com o defensor, o grupo aceitou defender o agressor de Bolsonaro “por questões de igreja e familiares”.
Indiciamento. O autor do ataque a Bolsonaro foi indiciado pela PF com base na Lei de Segurança Nacional, que prevê penas para crimes por motivação política. A Lei 7.170, que define os crimes contra a segurança nacional, a ordem política e a ordem social, inclui a “prática de atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversivas”.
A pena para esse crime é de 3 a 10 anos de reclusão – ela pode dobrar se o fato resultar em lesão corporal grave e triplicar se resultar em morte. O indiciamento reforça a principal hipótese da PF nesta fase inicial de investigação, que é a de que a motivação do crime foi política. Documento. O termo de audiência de Adelio Oliveira
Para a defesa do agressor, o enquadramento na Lei de Segurança Nacional e a transferência para um presídio federal são medidas corretas, mas há “atenuantes” que devem ser levados em conta. Um deles seria a possível condição de insanidade mental. “Nós queremos analisar o estado da psique do nosso constituinte.”
Segundo o advogado de Oliveira, até a motivação política seria um atenuante. “O próprio discurso de ódio da vítima. Ele (Bolsonaro) trazia, até como meta de campanha. Nosso constituinte é negro, e aquela declaração de que um negro não serviria sequer pra procriar atingiu de uma forma avassaladora a psique de nosso constituinte”, disse. Em palestra no Rio, Bolsonaro disse que “quilombola não serve nem pra procriar”.
Reunião. O diretor-geral da PF, Rogério Galloro, se reunirá hoje com chefes de segurança dos candidatos à Presidência para avaliar o “grau de risco” de cada campanha e alinhar procedimentos de segurança. O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, anunciou ontem que vai aumentar o efetivo
da PF destinado à segurança dos candidatos. Segundo o ministro, haverá aumento de 60% no número de agentes para proteger os presidenciáveis.
Jungmann disse que Bolsonaro havia sido alertado sobre riscos. “Havia sido conversado com a campanha de Bolsonaro que ficava muito difícil de fazer a segurança quando ele se lançava na multidão. Aquela situação (do atentado) não tinha nenhum controle.”