O Estado de S. Paulo

Agressor afirma à Polícia Federal que agiu sozinho

Em depoimento, Adelio Bispo de Oliveira diz que não foi contratado por ninguém e se considera um representa­nte da ‘esquerda moderada’

- Ricardo Galhardo / COLABORARA­M RENAN TRUFFI, FABIO SERAPIÃO, TÂNIA MONTEIRO, BRENO PIRES, FAUSTO MACEDO, MARCIO DOLZAN e CONSTANÇA REZENDE

O servente de pedreiro Adelio Bispo de Oliveira, agressor de Jair Bolsonaro, afirmou em depoimento à Polícia Federal que agiu sozinho. Ele foi indiciado com base na Lei de Segurança Nacional. A pena para crimes por motivação política é de três a dez anos de reclusão e pode dobrar se o fato resultar em lesão corporal grave. Oliveira está preso em Juiz de Fora (MG), mas, por decisão judicial, será levado para um presídio federal.

O agressor do candidato do PSL à Presidênci­a, Jair Bolsonaro, Adelio Bispo de Oliveira, afirmou em depoimento anteontem à Polícia Federal que “não foi contratado por ninguém para atentar contra a vida” do deputado. O servente de pedreiro disse que recebeu “uma ordem de Deus” para matar o presidenci­ável, porque, “embora ele (Bolsonaro) se apresente como evangélico, na verdade não é nada disso”. Declarou ainda que defende “a ideologia de esquerda” e se considera “da esquerda moderada”.

O preso se justificou dizendo que Bolsonaro “defende o extermínio de homossexua­is, negros, pobres e índios, situação da qual discorda radicalmen­te”. Oliveira foi detido anteontem após dar uma facada no presidenci­ável durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG).

Ontem, após audiência de custódia, foi determinad­a a transferên­cia de Oliveira para um presídio federal (mais informaçõe­s nesta página). A juíza Patrícia Teixeira de Carvalho considerou o atentado “delito grave, que revela profundo desrespeit­o à vida humana e ao estado democrátic­o de direito”. Na audiência, Oliveira foi representa­do por quatro advogados.

Um dos quatro defensores do agressor, Zanone Manuel de Oliveira Júnior, disse ontem que Oliveira agiu sozinho e por motivação política. “Ele (Oliveira)

salienta que agiu de forma solitária. Aquela intenção era só dele. Não estava mancomunad­o, não havia concurso de pessoas”, afirmou o advogado. De acordo com o defensor, o grupo aceitou defender o agressor de Bolsonaro “por questões de igreja e familiares”.

Indiciamen­to. O autor do ataque a Bolsonaro foi indiciado pela PF com base na Lei de Segurança Nacional, que prevê penas para crimes por motivação política. A Lei 7.170, que define os crimes contra a segurança nacional, a ordem política e a ordem social, inclui a “prática de atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformi­smo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de organizaçõ­es políticas clandestin­as ou subversiva­s”.

A pena para esse crime é de 3 a 10 anos de reclusão – ela pode dobrar se o fato resultar em lesão corporal grave e triplicar se resultar em morte. O indiciamen­to reforça a principal hipótese da PF nesta fase inicial de investigaç­ão, que é a de que a motivação do crime foi política. Documento. O termo de audiência de Adelio Oliveira

Para a defesa do agressor, o enquadrame­nto na Lei de Segurança Nacional e a transferên­cia para um presídio federal são medidas corretas, mas há “atenuantes” que devem ser levados em conta. Um deles seria a possível condição de insanidade mental. “Nós queremos analisar o estado da psique do nosso constituin­te.”

Segundo o advogado de Oliveira, até a motivação política seria um atenuante. “O próprio discurso de ódio da vítima. Ele (Bolsonaro) trazia, até como meta de campanha. Nosso constituin­te é negro, e aquela declaração de que um negro não serviria sequer pra procriar atingiu de uma forma avassalado­ra a psique de nosso constituin­te”, disse. Em palestra no Rio, Bolsonaro disse que “quilombola não serve nem pra procriar”.

Reunião. O diretor-geral da PF, Rogério Galloro, se reunirá hoje com chefes de segurança dos candidatos à Presidênci­a para avaliar o “grau de risco” de cada campanha e alinhar procedimen­tos de segurança. O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, anunciou ontem que vai aumentar o efetivo

da PF destinado à segurança dos candidatos. Segundo o ministro, haverá aumento de 60% no número de agentes para proteger os presidenci­áveis.

Jungmann disse que Bolsonaro havia sido alertado sobre riscos. “Havia sido conversado com a campanha de Bolsonaro que ficava muito difícil de fazer a segurança quando ele se lançava na multidão. Aquela situação (do atentado) não tinha nenhum controle.”

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GUILHERME LEITE / PARCEIRO / AGÊNCIA O GLOBO - 6/9/2018, Juiz de Fora (MG). Adelio Bispo de Oliveira ao ser detido anteontem, após atacar o presidenci­ável do PSL, Jair Bolsonaro
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NA WEB estadao.com.br/e/termoaudie­ncia

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