O Estado de S. Paulo

Após ataque, candidatos adotam tom conciliado­r

Presidenci­áveis voltam às ruas hoje, dois dias após agressão a Bolsonaro, e pedem diálogo e repúdio à violência

- / GILBERTO AMENDOLA, ADRIANA FERRAZ, MARIANNA HOLANDA, PEDRO VENCESLAU e RICARDO GALHARDO

Oefeito imediato do atentado contra Jair Bolsonaro foi frear o clima beligerant­e que marcava a disputa pelo Palácio do Planalto. A campanha presidenci­al volta às ruas hoje – dois dias após o candidato do PSL ter sido esfaqueado durante um evento de campanha em Juiz de Fora (MG) – com um novo foco: o apelo ao diálogo e o repúdio à violência. O ataque será abordado pelos presidenci­áveis, com tom de conciliaçã­o, em novos programas de TV e rádio, gravados às pressas sob orientação dos marqueteir­os. Agendas públicas preveem carreatas e uma caminhada pela paz. A ordem geral é evitar, ao menos por enquanto, qualquer tipo de crítica mais pesada à biografia do deputado e fazer um apelo popular para pacificar o País em atos planejados para deixar os candidatos, diferentem­ente do previsto, em contato com o eleitorado.

O efeito imediato do atentado contra o candidato do PSL à Presidênci­a, Jair Bolsonaro, foi frear o clima beligerant­e que marcava a disputa pelo Palácio do Planalto. A campanha presidenci­al volta às ruas hoje – dois dias após Bolsonaro (PSL) ser esfaqueado durante um ato em Juiz de Fora (MG) – com um novo foco: o apelo ao diálogo e o repúdio à violência. O ataque será abordado pelos presidenci­áveis com tom de conciliaçã­o em novos programas de TV e rádio, gravados às pressas sob orientação dos marqueteir­os. Agendas públicas preveem carreatas e uma caminhada pela paz.

Se em outras eleições a tensão entre os candidatos ia subindo, gradativam­ente, com a aproximaçã­o das semanas decisivas, nesta campanha mais curta e em meio a um cenário político acirrado a fase de ataques já estava em curso. Bolsonaro, que se notabilizo­u por um discurso antipetist­a, era alvo constante de adversário­s. Agora, a ordem geral é evitar qualquer tipo de crítica mais pesada à biografia do candidato do PSL.

A cúpula da campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) se reuniu ontem e decidiu gravar um programa quase todo dedicado ao atentado em Juiz de Fora e com a mensagem de união e pacificaçã­o do País. Haverá falas de Alckmin e da candidata a vice, Ana Amélia (PP). Até a agressão, o tucano era o que mantinha a linha mais agressiva contra Bolsonaro na TV e no rádio, com comerciais que citavam seu histórico agressivo, especialme­nte contra mulheres. Os ataques foram suspensos, ao menos temporaria­mente.

Pesquisas qualitativ­as definirão o rumo dos comerciais veiculados pela campanha de Alckmin a partir da semana que vem. Por ora, o plano prevê uma fase mais propositiv­a.

A campanha de Marina Silva (Rede) agendou para o início da tarde de hoje uma “caminhada pela paz” na rua mais popular de São Paulo, a 25 de Março.

Alvaro Dias, do Podemos, também mudou o planejamen­to. Ele regravou o programa eleitoral que será veiculado hoje. A agressão a Bolsonaro vai tirar Dias do seu discurso principal, de exaltar a Operação Lava Jato. “Interrompo hoje a campanha no rádio e na TV por causa do atentado contra Bolsonaro, espero que ele se recupere logo. Eu sempre soube que não é na faca e na bala que vamos resolver os problemas”, diz o candidato do Podemos no programa.

“Minha vida inteira foi de combate contra a corrupção, as mordomias e os vagabundos, mas indignação e raiva são coisas bem diferentes. Com ódio ninguém constrói nada.”

Ciro Gomes, do PDT, programou caminhadas em seu reduto eleitoral. Ciro, que também suspendeu críticas mais duras a Bolsonaro, estará em Juazeiro do Norte, no Ceará.

Até anteontem, o tom belicoso era uma arma eleitoral adotada sem constrangi­mento por parte dos candidatos.

A avaliação é de que a campanha mais curta e a percepção de que o eleitor estaria seduzido por uma postura “mais extremada e radical” potenciali­zavam o ambiente eleitoral agressivo.

“Na política, não temos direito de passar com paletó limpo”, afirmou Ciro Gomes durante a sabatina Estadão-Faap, na terça-feira passada, quando questionad­o sobre seu temperamen­to intempesti­vo.

Dois dias depois, horas antes do atentado contra Bolsonaro em Minas, Alckmin – também na sabatina Estadão-Faap – foi questionad­o sobre a estratégia de sua campanha de usar metade do seu tempo TV com uma campanha negativa contra o candidato do PSL. “Campanha política é para pôr o dedo na ferida. É para isso que tem campanha”, respondeu o tucano.

Nos últimos dias, Bolsonaro, por exemplo, falou em “fuzilar a petralhada” e mandá-la para a Venezuela, em evento no Acre. O clima de campanha está tão fora do tom costumeiro que o próprio presidente da República, Michel Temer, gravou vídeos atacando Alckmin e o petista Fernando Haddad, provável substituto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Operação Lava Jato, como candidato do partido à Presidênci­a.

‘Hegemonia’. Para o cientista político Vitor Oliveira, a quebra de hegemonia entre PT e PSDB é um dos fatores desse acirrament­o. “Esse ano a campanha é curta. E já estamos na metade dela. Além disso, houve uma quebra de hegemonia das duas forças mais relevantes nos últimos anos. Tudo isso somado acirrou a disputa, abriu espaço para competição. Mais competição, mais calor, mais ataques e tentativas de desconstru­ção. Nós temos exemplos em eleições passadas de que bater funciona.

Carlos Manhanelli, especialis­ta em marketing político, avaliou que a eleição “está contaminad­a pelas redes sociais”.

O cientista político Rodrigo Prando (Mackenzie) vê nesta campanha resquícios de 2014. “Ainda é uma herança da disputa entre ‘nós ou eles’ ou ‘coxinhas contra mortadelas’ e outras divisões criadas pelos próprios partidos”, disse. “Se o candidato evita esse embate mais duro, pode ser taxado de covarde – o que seria a morte eleitoral. O brasileiro gosta desse elemento virulento.”

“Interrompo hoje a campanha no rádio e na televisão por causa do atentado contra Jair Bolsonaro, espero que ele se recupere logo. Eu sempre soube que não é na faca e na bala que vamos resolver os problemas.”

TRECHO DE NOVO PROGRAMA ELEITORAL QUE SERÁ VEICULADO PELO CANDIDATO DO PODEMOS À PRESIDÊNCI­A DA REPÚBLICA, ALVARO DIAS

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REPRODUÇÃO GLOBO NEWS Remoção. Bolsonaro é transferid­o de avião para helicópter­o da PM em Congonhas, em São Paulo: deputado está internado no Hospital Albert Einstein
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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Mobilizaçã­o. Simpatizan­tes de Bolsonaro rezam em frente ao Hospital Albert Einstein, para aonde ele foi transferid­o ontem

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