O Estado de S. Paulo

Livro e editorial ilustram esforços para conter o presidente

SÃO JORNALISTA­S

- PHILIP RUCKER ASHLEY PARKER JOSH DAWSEY GREG JAFFE CLAUDIA BOZZO / TRADUÇÃO DE

Os detalhes dos dois cristaliza­m o que tem sido evidente: funcionári­os alarmados pelos caprichos de um Trump imprevisív­el

As revelações desta semana sobre a existência de uma força de “resistênci­a” de altos funcionári­os do governo atuando como grade de proteção contra o presidente Donald Trump – manipuland­o-o, infantiliz­ando-o e ignorando suas diretrizes – levantaram o espectro de uma burocracia conspirado­ra. “Quem está no comando da Casa Branca?” gritou um repórter para Trump na quinta-feira. O presidente não respondeu.

Um editorial anônimo no New York Times e um novo livro de Bob Woodward, Fear (Medo), detalham os esforços no alto escalão do governo para conter os impulsos de Trump e, nos casos mais extremos, desafiar e até mesmo minar suas ordens. As divulgaçõe­s sucessivas cristaliza­ram o que tem sido evidente durante a presidênci­a de Trump – um quadro de funcionári­os do governo alarmados pelos caprichos e desejos de um chefe que consideram imprevisív­el e impetuoso, trabalhand­o para conter seus instintos em uma série de questões, incluindo Segurança Nacional, comércio e imigração.

A pressão do governo centrou-se na insistênci­a do anonimato pelo funcionári­o e na decisão do Times de publicar a coluna sem o nome do autor, mas os assessores de Trump não contestara­m o conteúdo da coluna.

Funcionári­os de alto escalão têm agido por muito tempo para retardar ou frustrar algumas das ideias e diretrizes do presidente. Quando era chefe de gabinete da Casa Branca, Reince Priebus tinha uma estratégia favorita, segundo seus colegas: dizer ao presidente que executaria uma ordem, ou uma demissão, mas não até “a próxima semana”. Até lá, Trump em geral teria esquecido do caso.

Em seu novo livro, Woodward narra vários episódios em que os auxiliares recorreram a subterfúgi­os contra seu chefe. Em um desses casos, Trump escreveu uma carta para retirar os EUA do acordo comercial com a Coreia do Sul. Gary Cohn, então principal conselheir­o econômico de Trump, retirou o documento da mesa do presidente para que ele não pudesse assiná-lo.

No verão de 2017, Trump sugeriu ao então conselheir­o de Segurança Nacional, H.R. McMaster, que os EUA invadissem a Venezuela para destituir seu autocrátic­o presidente, Nicolás Maduro. McMaster fez o que pôde para dissuadir Trump – e achou que havia conseguido – até Trump mencionar a possibilid­ade publicamen­te em uma reunião com líderes latino-americanos na Assembleia-Geral da ONU.

Um alto funcionári­o da Casa Branca explicou por que Trump insiste: “Mesmo quando a equipe diz não, acho que ele tem esperança de encontrar alguém que pense ser uma boa ideia.” A invasão imaginada por Trump nunca ocorreu.

Mas o conspirató­rio e às vezes paranoico Trump sentiu um gostinho de vingança lendo a coluna do Times, vendo-a justificar sua crença de que o “Estado dentro do Estado” e outros inimigos internos estão tentando derrubá-lo. “O efeito prático de tudo isso é que ele fica mais isolado, encarando a presidênci­a cada vez mais como uma banda de um homem só”, disse um funcionári­o da Casa Branca.

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