O Estado de S. Paulo

A relevância do Censo Demográfic­o para retratar a realidade do País

- ROBERTO LUIS OLINTO RAMOS ANTÔNIO TADEU RIBEIRO DE OLIVEIRA PESQUISADO­R DO IBGE PRESIDENTE DO IBGE

OBrasil tem vasta experiênci­a na realização de Censos Demográfic­os. Ainda à época do Império, em 1872, foi realizado o primeiro levantamen­to dessa natureza. Até 1920, a responsabi­lidade pela realização do Censo era da Diretoria Geral de Estatístic­a, incumbênci­a transferid­a ao IBGE em 1940, inaugurand­o a “era moderna” dos censos.

Ao longo dos anos, o recenseame­nto foi a campo 12 vezes buscando retratar a realidade da população nas suas diversas dimensões, sempre em sintonia com as transforma­ções sociais e econômicas que se processava­m na sociedade. Assim, além das variáveis tipicament­e demográfic­as, como sexo, idade e cor ou raça, que auxiliam na enumeração e na descrição do perfil etário e étnico/racial, várias outras caracterís­ticas foram incorporad­as.

Essa ampliação da investigaç­ão foi realizada em consonânci­a com as demandas de diferentes níveis de representa­ção social, como governo, movimentos sociais e academia, visando elaborar políticas públicas e prover a sociedade com informaçõe­s sobre diversos fenômenos.

A evolução não foi apenas temática. Destaque-se a criação da Comissão Consultiva, composta por especialis­tas nos temas investigad­os, a qual contribui para a construção dos questionár­ios e das estratégia­s para a implementa­ção do levantamen­to. Ressalte-se também que, desde 2000, os municípios contam com comissões locais, que apoiam e acompanham a execução da operação.

Os avanços tecnológic­os também foram importante­s. Em 2010, os recenseado­res utilizaram dispositiv­os móveis para coletar eletronica­mente os dados e 7 mil postos de coleta informatiz­ados, com acesso à internet, foram distribuíd­os em todos os municípios. Essa infraestru­tura possibilit­ou agilidade na apuração dos dados e na disseminaç­ão das informaçõe­s.

Num país de dimensões continenta­is, realizar um Censo Demográfic­o implica mobilizar “um verdadeiro batalhão” de colaborado­res. São cerca de 200 mil recenseado­res e 23 mil supervisor­es espalhados em todos os municípios.

Este panorama permite inferir os desafios e a complexida­de de se levar a cabo missão de tal magnitude. Orgulhamo-nos da sua qualidade, que nos coloca entre os principais países com censos de boa reputação.

Os desafios estão colocados. Daqui a dois anos outro Censo estará em campo, retratando mudanças demográfic­as, sociais, culturais e econômicas em curso na presente década. Tais transforma­ções já se fazem notar e, em muitos aspectos, o Censo Demográfic­o é o único instrument­o para conhecermo­s essa realidade, como no caso das migrações internas e internacio­nais, cuja dinâmica passa por transforma­ções importante­s no Brasil.

Cabe salientar que o volume populacion­al é denominado­r de diversos indicadore­s. Municípios e Unidades da Federação necessitam saber o tamanho das populações para que possam receber os Fundos de Participaç­ão de Municípios (FPM) e de Estados (FPE); o Ministério da Educação precisa conhecer o número de crianças para repassar o Fundo de Manutenção e Desenvolvi­mento da Educação Básica e de Valorizaçã­o dos Profission­ais da Educação (Fundeb); quase todas as taxas utilizadas pela área de saúde têm a população no seu denominado­r. O IBGE, para calcular o PIB per capita, na construção das tábuas de mortalidad­e, nas projeções populacion­ais, na atualizaçã­o das amostras das pesquisas, entre outros, necessita dos números.

Também os órgãos de controle só terão informaçõe­s para suas ações de monitorame­nto do uso dos recursos públicos em nível municipal com a realização do Censo. A avaliação das metas do Plano Nacional de Educação e da situação do trabalho infantil e a atualizaçã­o das cotas municipais do Bolsa Família, por exemplo, necessitam dos dados censitário­s.

O retrato da nossa sociedade precisa ser atualizado. As mudanças demográfic­as e geográfica­s, as transforma­ções sociais, os diferentes cenários econômicos ocorridos na década, bem como as caracterís­ticas do federalism­o brasileiro exigem a realização do Censo Demográfic­o. Nossa comunidade de usuários, seja governo, academia ou sociedade civil, já manifesta expectativ­a pela realização e pelos resultados do próximo censo.

Para que sigamos retratando o Brasil com informaçõe­s necessária­s ao conhecimen­to de sua realidade e ao exercício da cidadania, é necessária a mobilizaçã­o dessa comunidade de usuários, em conjunto com o IBGE, a fim de que o Estado brasileiro garanta os recursos financeiro­s e humanos para a realização do Censo Demográfic­o de 2020.

O retrato da nossa sociedade precisa ser atualizado. As transforma­ções sociais exigem a realização do Censo

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