O Estado de S. Paulo

Documentár­io explosivo

Michael Moore examina as forças que elegeram Trump

- Mariane Morisawa ESPECIAL PARA O ESTADO / TORONTO

Michael Moore deu início explosivo ao Festival de Toronto na noite de quinta-feira, 6, com a primeira exibição mundial de Fahrenheit 11/9 – uma alusão a seu filme Fahrenheit 11 de Setembro (2004), que ganhou a Palma de Ouro em Cannes e o Oscar de documentár­io e que trazia ataques diretos ao governo do então presidente George W. Bush. O novo documentár­io, que foi aplaudido diversas vezes em cena aberta, examina as razões da chegada de Donald Trump à presidênci­a dos Estados Unidos e prega a ação para mudar as coisas no país.

“Eu sou contra a esperança”, disse Moore na sessão oficial lotada no Ryerson Theatre, ao lado de ativistas como David Hogg, um dos adolescent­es da escola Marjorie Stoneman Douglas em Parkland, Flórida, que viu 17 pessoas serem mortas e hoje luta pelo controle da venda de armas de guerra para civis e se mobiliza para que mais jovens votem.

Sobra para todo o mundo no documentár­io, que usa os elementos clássicos (e populistas) do diretor: humor, altas doses de participaç­ão de Michael Moore na narrativa e um certo exagero. O filme tira seu título do dia em que a vitória de Trump ficou estabeleci­da (9 de novembro), para surpresa geral do mundo, que acreditava numa presidênci­a de Hillary Clinton. “Como diabos isso aconteceu?”, pergunta Moore.

Depois dos créditos, ele abre com uma imagem de Vladimir Putin e emenda com James Comey, ex-diretor do FBI, dizendo que, sim, ambos são culpados pela vitória de Trump, mas que ninguém tem mais culpa do que a cantora Gwen Stefani. Para Moore, foi porque Trump estava enciumado que Stefani ganhava mais no canal NBC (por causa do programa The Voice), que ele lançou sua candidatur­a à presidênci­a.

Mas aí a porteira está aberta para críticas à mídia, a Hillary e Bill Clinton, ao Partido Democrata e ao ex-presidente Barack Obama. “Os Estados Unidos são de esquerda”, diz o cineasta em determinad­o momento, desfilando uma série de dados de pesquisa mostrando que os americanos são a favor de saúde pública, melhores escolas, do casamento entre pessoas de mesmo sexo, da legalizaçã­o da maconha e da imigração.

Moore usa a crise de água em sua cidade, Flint, no Estado de Michigan, para explicar a decepção das pessoas mais pobres com os políticos, o que levou a altas taxas de abstenção. Por causa de uma manobra do governador Rick Snyder (republican­o), os moradores da cidade passaram a receber a água de um rio poluído, com alta contaminaç­ão por chumbo, o que levou muita gente a ficar doente e até morrer. Estão ali alguns dos momentos mais emocionant­es do filme. O diretor também usa sua técnica clássica de elementos-surpresa que chamam a atenção, desta vez usando um caminhão-pipa com água de Flint para jogar água na mansão do governador. A visita de Obama a Flint, quando o então presidente pareceu minimizar o problema, teria sido fundamenta­l para o descrédito da população no Partido Democrata, fazendo com que muitos ficassem em casa – Trump ganhou no Estado por menos de 12 mil votos.

Como sempre, Moore aponta os problemas e mostra a solução: o ativismo dos meninos e meninas de Parkland e dos professore­s que entraram em greve em West Virginia e a eleição de candidatos mais próximos do povo, como Richard Ojeda, de West Virginia, Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova York, e Rashida Tlaib, de Michigan. Para ele, é a única forma de combater o autoritari­smo e a perda de democracia – o cineasta chega a unir imagens de Adolf Hitler com um discurso de Trump.

No tapete vermelho, Michael Moore disse: “Temos de planejar cada fim de semana de agora até 6 de novembro (data das eleições para o Congresso e os governos estaduais). Quem mora até 3 ou 4 horas de um distrito que pode mudar de Republican­o para Democrata precisa passar os próximos fins de semana lá para podermos tornar a Câmara e talvez o Senado democratas. Se fizermos isso, vai ser um grande golpe em Trump e nos dá tempo. Porque ele não vai desaparece­r, mesmo que algo lhe aconteça, e precisamos aceitar essa ideia. Porque não adianta se todo o mundo voltar a pensar que não é possível que um cara como ele vá ganhar. Aprendemos uma lição”.

“Trump não vai desaparece­r, mesmo que algo lhe aconteça, e precisamos aceitar essa ideia” Michael Moore CINEASTA AMERICANO

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ARTHUR MOLA/AP Moore. Novo filme é um pedido de ação a todos os americanos

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