‘ACERVO AINDA É O DE UM GRANDE MUSEU’
O incêndio que destruiu o Museu Nacional no Rio, no domingo passado, foi uma das maiores tragédias para a cultura do País, mas não significa que o mundo acabou. Quem faz a advertência é uma expert sobre o acervo do museu, os “20 milhões de itens” que, segundo se noticiou, estariam perdidos: a bióloga Débora Pires, diretora do Coral Vivo, uma das frentes de atividade da instituição. “É terrível o que vimos, mas não é o fim do mundo. O acervo está distribuído por muitas outras áreas e do que foi atingido se pode recuperar muita coisa”, resumiu a bióloga em conversa com a coluna. Em seu balanço, além das preciosas raridades que estavam em exposição – múmias, mobiliário, salas históricas e dos dinossauros – o fogo atingiu áreas de entomologia, geologia, paleontologia. Mas há “sobreviventes” importantes. O subsolo do museu tem um anexo em dois andares com vastas coleções de invertebrados que foram preservados. Além disso, o Horto Botânico, perto dali, dedica um espaço de 40 mil metros quadrados para o departamento de vertebrados. “Ali estão preservados uns 500 mil lotes de esponjas, corais, crustáceos, além do laboratório de restauração do museu”. E se manteve um importante Herbário, o maior da América Latina. Mais significativa, lembra a bióloga, é a gigantesca coleção de 500 mil títulos que integram a Biblioteca Central. Ela está em outra área, no Horto Botânico, e ficou bem longe das chamas. “Desses 500 mil títulos, pelo menos 1.560 são obras realmente raras, como um exemplar do Torah que é tido como um dos dez documentos mais importantes do judaísmo. Outros documentos incluem uma História Natural de Plínio o Velho, um exemplar de 1481, a obra mais antiga da coleção. “Só esse material que mencionamos já permite dizer que temos, ainda, um grande museu, com algumas coleções que são as principais do continente”, resume Débora. Do material perdido que foi pouco lembrado ela cita a Biblioteca Francisca Keller, que acumulava 35 mil títulos em antropologia, que era uma referência de peso para os pesquisadores. “E não podemos esquecer que a atividade de pesquisa e vida acadêmica continua. O que inclui aulas, defesas de teses e atividades extramuros, como a ligada à vida marinha, na costa do País.” Sobre essa atividade fora do museu, chama atenção a raridade de publicações sobre ele no universo editorial do País. Um caso é o Museu Nacional UFRJ,
editado em 2007 pelo Instituto Cultural Safra, do qual foram reproduzidas as imagens desta página. É o 29.º volume da coleção do banco, iniciada com o Masp, em 1982 e que já abordou 37 museus. Em suas 370 páginas, o livro tem uma ampla história da instituição e seis capítulos fartamente ilustrados sobre áreas como geologia, paleontologia, botânica e antropologia
E que agora vale, em grande parte, como rara memória de riquezas culturais que o País não tem mais.