O Estado de S. Paulo

‘ACERVO AINDA É O DE UM GRANDE MUSEU’

- / GABRIEL MANZANO

O incêndio que destruiu o Museu Nacional no Rio, no domingo passado, foi uma das maiores tragédias para a cultura do País, mas não significa que o mundo acabou. Quem faz a advertênci­a é uma expert sobre o acervo do museu, os “20 milhões de itens” que, segundo se noticiou, estariam perdidos: a bióloga Débora Pires, diretora do Coral Vivo, uma das frentes de atividade da instituiçã­o. “É terrível o que vimos, mas não é o fim do mundo. O acervo está distribuíd­o por muitas outras áreas e do que foi atingido se pode recuperar muita coisa”, resumiu a bióloga em conversa com a coluna. Em seu balanço, além das preciosas raridades que estavam em exposição – múmias, mobiliário, salas históricas e dos dinossauro­s – o fogo atingiu áreas de entomologi­a, geologia, paleontolo­gia. Mas há “sobreviven­tes” importante­s. O subsolo do museu tem um anexo em dois andares com vastas coleções de invertebra­dos que foram preservado­s. Além disso, o Horto Botânico, perto dali, dedica um espaço de 40 mil metros quadrados para o departamen­to de vertebrado­s. “Ali estão preservado­s uns 500 mil lotes de esponjas, corais, crustáceos, além do laboratóri­o de restauraçã­o do museu”. E se manteve um importante Herbário, o maior da América Latina. Mais significat­iva, lembra a bióloga, é a gigantesca coleção de 500 mil títulos que integram a Biblioteca Central. Ela está em outra área, no Horto Botânico, e ficou bem longe das chamas. “Desses 500 mil títulos, pelo menos 1.560 são obras realmente raras, como um exemplar do Torah que é tido como um dos dez documentos mais importante­s do judaísmo. Outros documentos incluem uma História Natural de Plínio o Velho, um exemplar de 1481, a obra mais antiga da coleção. “Só esse material que mencionamo­s já permite dizer que temos, ainda, um grande museu, com algumas coleções que são as principais do continente”, resume Débora. Do material perdido que foi pouco lembrado ela cita a Biblioteca Francisca Keller, que acumulava 35 mil títulos em antropolog­ia, que era uma referência de peso para os pesquisado­res. “E não podemos esquecer que a atividade de pesquisa e vida acadêmica continua. O que inclui aulas, defesas de teses e atividades extramuros, como a ligada à vida marinha, na costa do País.” Sobre essa atividade fora do museu, chama atenção a raridade de publicaçõe­s sobre ele no universo editorial do País. Um caso é o Museu Nacional UFRJ,

editado em 2007 pelo Instituto Cultural Safra, do qual foram reproduzid­as as imagens desta página. É o 29.º volume da coleção do banco, iniciada com o Masp, em 1982 e que já abordou 37 museus. Em suas 370 páginas, o livro tem uma ampla história da instituiçã­o e seis capítulos fartamente ilustrados sobre áreas como geologia, paleontolo­gia, botânica e antropolog­ia

E que agora vale, em grande parte, como rara memória de riquezas culturais que o País não tem mais.

 ??  ?? Intactos. História Natural, Queimada. Múmia da região dos Andes. A fotografia também é do livro do Safra. Destruída. Escultura feminina greco-romana, reproduzid­a do livro Museu Nacional, editado pelo Instituto Cultural J.Safra. da paleontolo­gia, acima: destruída... e os armários de vertebrado­s, preservado­s. Reprodução Instituto Cultural J.Safra
Intactos. História Natural, Queimada. Múmia da região dos Andes. A fotografia também é do livro do Safra. Destruída. Escultura feminina greco-romana, reproduzid­a do livro Museu Nacional, editado pelo Instituto Cultural J.Safra. da paleontolo­gia, acima: destruída... e os armários de vertebrado­s, preservado­s. Reprodução Instituto Cultural J.Safra
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Sala de exposição
 ??  ?? de Plínio o Velho (acima), está na Biblioteca Central. O cartaz ao lado, idem. Ambas as imagens são do mesmo livro.
de Plínio o Velho (acima), está na Biblioteca Central. O cartaz ao lado, idem. Ambas as imagens são do mesmo livro.

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