O Estado de S. Paulo

Infláveis

- VERISSIMO LUIS FERNANDO VERISSIMO ESCREVE ÀS QUINTAS-FEIRAS E AOS DOMINGOS

Não existe substituto para mulher. Você pode achar que encontrou uma alternativ­a satisfatór­ia – a melancia, a numismátic­a, a autoflagel­ação com espaguete cru – mas está apenas se enganando. Sempre estará faltando alguma coisa. Definição: mulher é o que fica faltando quando a gente acha que não precisa dela.

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Há quem diga que, para uma relação puramente sexual, mão é melhor que mulher. Que a mão do homem combina as vantagens de uma esposa e de uma amante sem qualquer das desvantage­ns, como ciúmes ou TPM. Mas que variação pode haver no sexo com a sua própria mão? (Por favor, não mandem cartas.) E as bobagens antes e depois do sexo, sem falar naquele cheiro meio doce e úmido que elas têm na nuca e a sua mão não tem?

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Fala-se também em bonecas infláveis, que estariam chegando a um tal grau de realismo que já daria para escolher o cheiro do pescoço. Dizem que, para atender aquele segmento do mercado que quer bonecas infláveis com as quais se possa ter não apenas sexo, mas conversas inteligent­es, os japoneses desenvolve­ram uma boneca que responde. Você fala qualquer coisa, puxa uma cordinha e elas dizem “Sim”. Mas você não pode levar bonecas infláveis a bons restaurant­es e esperar que elas saibam se comportar. Ou usá-las em qualquer proposta séria de troca de casais, a não ser que as outras também sejam infláveis.

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Nada substitui mulher. Nenhuma categoria humana é tão inteligent­e. E tão graciosa, não importa o que digam dos travestis tailandese­s. A reprodução da espécie seria impossível sem as mulheres – e não se pode dizer o mesmo dos homens, pois já estão fazendo fecundação sem cromossomo­s. E pense nisso: existem mulheres infláveis porque elas não se resumem nos seus orifícios, pois para isso até hortifruti­granjeiros servem. Alguém tem notícia de homem inflável?

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Só existem falos artificiai­s, o resto é supérfluo. O boneco do homem, para as mulheres, é o seu pênis, sem aquela massa confusa, iludida e dispensáve­l na outra ponta. Já a mulher, para o homem, é a sua genitália e suas circunstân­cias. Mesmo artificial, precisamos da mulher inteira, do conjunto, de um simulacro da sua companhia, da ilusão da sua presença. E que baste puxar uma cordinha para elas dizerem “sim”.

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