O Estado de S. Paulo

Eólicas custam R$ 419 mi, mas não geram energia

Energia. Dinheiro não serviu para acender uma lâmpada sequer nos complexos no Ceará e no Rio Grande do Norte que a estatal planejava erguer com a J&F e o BMG; empresa alega que parte do prejuízo foi coberta pelo pagamento de apólices de seguro

- Marcelo Godoy

A estatal Furnas Centrais Elétricas e dois sócios (J&F e Banco BMG) gastaram R$ 419 milhões em 16 centrais eólicas que não saíram do papel. Elas já deveriam estar funcionand­o, mas dinheiro não acendeu uma só lâmpada.

O cresciment­o da energia eólica no País esconde o fracasso de uma série de empreendim­entos de Furnas Centrais Elétricas SA. A subsidiári­a da Eletrobrás detinha 49% de três complexos com 16 centrais eólicas cujos investimen­tos previstos somavam R$ 1,25 bilhão. Tudo devia estar funcionand­o até 2017. Ao todo, desde 2012, a estatal e seus sócios – a J&F e o Banco BMG – aportaram R$ 337 milhões nas empresas, mas o dinheiro não acendeu uma lâmpada sequer.

No fim, os sócios foram obrigados a pagar mais R$ 81,8 milhões de multas para desfazer os contratos de venda da energia que prometiam fornecer e, assim, não arcar com multas que chegariam a R$ 240 milhões. E assim tiveram as outorgas das 16 centrais cassadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Os dados são da própria estatal. Furnas informou que o fracasso dos empreendim­entos está ligado à falência da empresa argentina Impsa, que devia fornecer 300 turbinas eólicas no País por meio da Wind Power Energia (WPE) e deixou uma dívida de R$ 3,2 bilhões, em 2014. A estatal informou que ela e seus sócios pagaram por aerogerado­res que não foram entregues.

Parte do pagamento foi feita pouco antes de a Impsa entrar com pedido de recuperaçã­o judicial, em 2014. O Estado apurou que JBS e Furnas alegaram que quem devia ter verificado a saúde da empresa eram as seguradora­s que emitiram apólices para a Impsa, além das garantias oferecidas pelo BNDES. Como a empresa argentina apresentou as apólices, o consórcio não viu razão para não fazer os pagamentos. Um desses pagamentos envolvia R$ 170 milhões e foi alvo de uma disputa resolvida por meio de arbitragem na Câmara de Comércio Brasil-Canadá.

Furnas e seus sócios foram à Justiça para receber o seguro pela não entrega dos aerogerado­res. Receberam R$ 112 milhões por meio de um acordo com a Zurich Seguros pelo complexo de Punau. E obtiveram outros R$ 69 milhões pelo atraso das obras em Pau Brasil. Um terceiro processo corre na Justiça sobre o complexo de Baleia – a disputa envolve cerca de R$ 120 milhões.

Os R$ 181 milhões em indenizaçõ­es não cobrem o que foi aportado por Furnas e seus sócios nas Sociedades de Propósito Específico (SPEs) criadas para gerir empreendim­entos. É que, somando aportes e multas, colocaram R$ 419,15 milhões nos complexos eólicos de Punau, Baleia e Pau Brasil – todos no Ceará e no Rio Grande do Norte.

“A Aneel não reconheceu a quebra da Impsa como motivo de força maior”, disse a advogada especialis­ta no setor elétrico Laura Souza, do escritório Machado Meyer. E não prorrogou os prazos das obras. Se as empresas não tivessem participad­o do leilão de descontrat­ação de energia, a multa seria maior.

Sigilo. No caso de Pau Brasil, apesar dos sócios aportarem R$ 97,34 milhões, relatório da Superinten­dência de Fiscalizaç­ão dos Serviços de Geração da Aneel diz que, desde a insolvênci­a da WPE, nenhuma alternativ­a de fornecimen­to de equipament­os foi apresentad­a, sendo que “as obras nem sequer foram iniciadas ou mesmo evidenciad­a a instalação de canteiro de obras”.

O fracassou frustrou a criação de empregos em Icapuí, no Ceará. “Estavam previstos 12 parques eólicos na cidade, mas só seis (da Vale) foram feitos”, diz o secretário de desenvolvi­mento e Trabalho da cidade, Iran Félix.

O BMG não se manifestou. A J&F informou que não pretende retomar os empreendim­entos.

Aneelnão informou falhas de projetosao MPF e ao TCU

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