Iniciativa inteligente
Com algum atraso, as três universidades estaduais paulistas – USP, Unicamp e Unesp – seguiram a trilha aberta por vários países em desenvolvimento e criaram escritórios, comissões e núcleos de inteligência com o objetivo de estabelecer canais de comunicação com agências multilaterais de fomento à pesquisa científica, com consultorias estrangeiras que atuam em projetos de modernização do ensino superior e com entidades responsáveis por levantamentos comparativos internacionais em matéria de qualidade de ensino.
As três universidades também desenvolvem um projeto conjunto, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo, para melhorar a divulgação de dados e para estabelecer as próprias medidas de avaliação de desempenho. “O que se espera é desenvolver competências humanas e tecnológicas para lidar com o desafio das métricas, que é dinâmico”, diz Jacques Marcovitch, ex-reitor da USP.
O que levou a USP, a Unicamp e a Unesp a tomar essa iniciativa foi a queda nas últimas edições dos rankings das melhores universidades mundiais promovidas por organismos conceituados, como a Times Higher Education. Apesar de terem mantido boas posições com relação às universidades da América Latina, a perda de posições levou as três universidades paulistas a se distanciarem das instituições de ponta de países emergentes, como as Universidades de Hong Kong e de Pequim, e de instituições da elite mundial, como Oxford e Cambridge, na GrãBretanha, e Stanford, Harvard e MIT, nos Estados Unidos.
Entre outros indicadores, os levantamentos comparativos avaliam ensino, pesquisa, produção de conhecimento e reputação internacional. Também levam em conta o orçamento de cada universidade, a qualidade do corpo docente, o número de títulos de doutor concedidos, a quantidade de pesquisas, o volume de receitas delas decorrentes, a produção acadêmica nas áreas de engenharia, tecnologia, física, ciências sociais e artes e a regularidade da publicação de artigos científicos em revistas de prestígio mundial que dispõem de conselhos de arbitragem. Analisam, ainda, o nível de internacionalização das universidades e o nível de absorção, pelas empresas, das tecnologias inovadoras desenvolvidas por seus professores e pesquisadores.
As posições obtidas pelas universidades nesses rankings comparativos são decisivas para sua atuação e expansão. Quando uma instituição é bem classificada, ela é procurada por melhores alunos, melhores professores e melhores pesquisadores, o que facilita a busca por mais financiamentos para suas atividades de ensino e pesquisa. Inversamente, quando perde posição, ela tem menos oportunidades de obter financiamentos das agências de fomento e não consegue reter os melhores docentes, o que, como um círculo vicioso, acaba comprometendo ainda mais seu desempenho, impedindo-a de firmar parcerias mundiais.
Para tentar romper esse círculo vicioso, a USP criou o Escritório de Gestão de Indicadores de Desempenho Acadêmico, com o objetivo de oferecer aos responsáveis pelos principais rankings internacionais informações detalhadas e precisas sobre suas atividades. E, até o final do ano, instalará um centro de inovação que, além de uma parceria com o Instituto Pasteur, abrigará os núcleos de pesquisa em saúde, biologia e tecnologia. No ano passado, a Unesp criou um programa que orienta professores e pesquisadores sobre como usar melhor as palavras-chave nas publicações científicas e identificar em inglês as diferentes unidades da universidade, para facilitar a localização dos dados sobre suas pesquisas acadêmicas. Na Unicamp, essa tarefa é de responsabilidade de uma Pró-reitoria de Desenvolvimento Universitário.
Apesar dos problemas crônicos que enfrentam, decorrentes da queda de receita causada pela crise fiscal e da resistência do corporativismo burocrático ao princípio do mérito acadêmico, a USP, a Unicamp e a Unesp estão agindo com inteligência para tentar alcançar melhores posições nos rankings internacionais.