O Estado de S. Paulo

Candidatos ao Planalto contestam declaraçõe­s de general

Comandante do Exército afirmou ao ‘Estado’ que clima de intolerânc­ia pode afetar legitimida­de do próximo governo

- / TÂNIA MONTEIRO, DANIEL WETERMAN, MARCELO OSAKABE e DENISE LUNA

Candidatos à Presidênci­a da República reagiram às declaraçõe­s do comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, em entrevista ao Estado publicada ontem. O general lamentou o clima de radicalism­o no País e afirmou que “a legitimida­de do novo governo pode até ser questionad­a”.

“Quem for eleito, vai ter grande legitimida­de”, afirmou o candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, Geraldo Alckmin. Segundo o tucano, as declaraçõe­s do general “não podem ser tiradas de contexto”. Alckmin falou ontem, antes de participar do debate da TV Gazeta, Estado, Jovem Pan e Twitter promovido em São Paulo.

O presidenci­ável do PDT, Ciro Gomes, disse que ficou “incomodado” com a fala do comandante do Exército. “Tenho pelo general Villas Bôas um apreço pessoal. A mim incomoda muito esse tipo de declaração, mas sei que ele só faz isso para segurar os cachorros agressivos à sua subordinaç­ão”, afirmou o candidato, que também participou do debate em São Paulo.

A entrevista de Villas Bôas também foi alvo de críticas do deputado estadual e candidato a senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho mais velho do presidenci­ável do PSL, Jair Bolsonaro. “É a opinião dele. Eu não acho que o País está dividido. O País está, mais do que nunca, unido em torno de Bolsonaro e será no primeiro turno”, disse Flávio, após discursar em evento do partido no Rio.

Villas Bôas disse que o atentado a Bolsonaro durante evento de campanha em Juiz de Fora (MG) “materializ­a” o temor de que a intolerânc­ia afete a governabil­idade do próximo presidente. “Sobre o Bolsonaro, ele não sendo eleito, ele pode dizer que prejudicar­am a campanha dele. E, ele sendo eleito, provavelme­nte será dito que ele foi beneficiad­o pelo atentado, porque gerou comoção. Daí, altera o ritmo normal das coisas”, declarou o general.

“Eles queriam matar o meu pai para tirá-lo da disputa, mas não foi a facada, ele não vai ser eleito por causa da facada, ele tomou a facada porque já estava eleito”, afirmou o filho do candidato a presidente do PSL.

O PT classifico­u a fala do comandante do Exército como “grave episódio de insubordin­ação”. “É uma manifestaç­ão de caráter político, de quem pretende tutelar as instituiçõ­es republican­as. No caso específico, o Poder Judiciário, que ainda examina recursos processuai­s legítimos em relação ao ex-presidente Lula”, afirmou o partido, por meio de nota.

O general também questionou o parecer do Comitê de Direitos Humanos da ONU que defende a candidatur­a de Lula, condenado e preso na Operação Lava Jato, nestas eleições. “É uma tentativa de invasão da soberania nacional”, afirmou Villas Bôas. “Depende de nós, brasileiro­s, permitir que ela se confirme ou não. Isso é algo que nos preocupa porque pode compromete­r nossa estabilida­de, as condições de governabil­idade e de legitimida­de do próximo governo”, disse o comandante do Exército sobre o parecer.

“As Forças Armadas não têm que ser comentaris­tas de política”, afirmou o candidato do PSOL ao Palácio do Planalto, Guilherme Boulos.

‘Recado’. Oficiais generais das três Forças procurados pelo Estado evitaram fazer comentário­s sobre a entrevista, sob a justificat­iva de que “o recado já foi dado” e que não cabem mais declaraçõe­s. “Quem é o PT para falar de democracia? O general Villas Bôas falou o que tinha de ter falado. Quem está ameaçando a democracia é quem está se negando a cumprir a lei e não quem está cumprindo a lei”, disse um general quatro-estrelas.

Todos concordara­m que o momento pede serenidade e que os ânimos precisam se “acalmar” para que se evite mais ódio. “O futuro presidente precisará de estabilida­de, porque vai governar para os dois lados”, declarou um deles.

“Quem for eleito, vai ter grande legitimida­de.” Geraldo Alckmin

PRESIDENCI­ÁVEL DO PSDB

“É a opinião dele. Não acho que o País está dividido.” Flávio Bolsonaro

FILHO DO PRESIDENCI­ÁVEL DO PSL, JAIR BOLSONARO

 ?? DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 5/9/2018 ?? Entrevista. Ao ‘Estado’, general Eduardo Villas Bôas falou em ‘exacerbaçã­o da violência’
DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 5/9/2018 Entrevista. Ao ‘Estado’, general Eduardo Villas Bôas falou em ‘exacerbaçã­o da violência’

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