O Estado de S. Paulo

‘STF não pode mudar 2ª instância todo mês’

De acordo com ministro, jurisprudê­ncia sobre execução da pena após condenação em 2º grau é questão já ‘pacificada’

- Rafael Moraes Moura / BRASÍLIA

O novo presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de Noronha, disse em entrevista exclusiva ao Estado ver com ressalvas uma eventual mudança de entendimen­to do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a possibilid­ade de prisão após condenação em segunda instância. “A jurisprudê­ncia está pacificada, não pode o Supremo mudar isso todo mês.”

Como o sr. vê a possibilid­ade de o STF revisar o entendimen­to sobre prisão em segunda instância? Os ministros Dias Toffoli e Gilmar Mendes defendem fixar o STJ como marco para a execução antecipada da pena.

Vejo isso como uma boa proposta, mas, juridicame­nte, atípica, porque o STJ não faz mera revisão das decisões. Não basta perder para recorrer, tem de demonstrar violação da lei federal e, o mais importante, no recurso especial, não há reexame da prova.

Essa possibilid­ade de mudança causa inseguranç­a jurídica?

O Supremo já definiu essa matéria, que está decidida. Não acredito que a Corte venha a revisar o seu entendimen­to. A jurisprudê­ncia está pacificada, não pode o Supremo mudar isso todo mês. Desde que o STF decidiu que a prisão poderia ser depois do segundo grau, o colegiado nunca voltou atrás. Ministros sim, mas o plenário jamais. Não vejo elementos novos que justifique­m a mudança.

Teve a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Não se pode mudar a jurisprudê­ncia em razão dessa ou daquela pessoa.

Decisões judiciais são acompanhad­as com lupa pela população. É ruim criar heróis e vilões? É péssimo. Justiça não é lugar de heróis, de vilões, é lugar de juízes técnicos, que tenham compromiss­o com a ordem jurídica.

O STJ limitará o foro para magistrado­s também?

Não somos, em princípio, contra reduzir (o foro). É que o magistrado tem uma peculiarid­ade que os outros agentes políticos não têm. Por exemplo, não há relação de subordinaç­ão entre juiz de primeiro grau e conselheir­o de tribunal de contas ou deputado estadual. Mas como se veria uma decisão de juiz de primeiro grau absolvendo o desembarga­dor que o promoveu? Não é tão simples, estamos buscando uma solução.

Não é contrassen­so conceder reajuste de 16,38% a ministros do STF e do STJ quando há 13 milhões de desemprega­dos? Todo segmento da sociedade teve aumento, apenas um deve ficar de fora? O momento é difícil, vamos ter muita dificuldad­e para enquadrar isso no orçamento, mas é delicado você explicar para o juiz que em cinco anos os únicos que não sofreram reajuste foram os magistrado­s. Isso não é um contrassen­so? (Mas), vou ser sincero. Eu não faria nada disso agora.

O auxílio-moradia deve acabar? O auxílio-moradia é previsto na lei. Eu recebo, nunca neguei. O auxílio-moradia precisava ser melhor normatizad­o. Deputados recebem, senadores recebem, funcionári­os do Executivo recebem, e dizem que a imoralidad­e só estaria nos magistrado­s. Numa cidade muito cara, se você não tiver residência oficial, daqui a pouco vai ter o juiz em lugares periférico­s, perigosos, onde há alto índice de criminalid­ade.

O STJ já gastou milhões de reais para trocar a frota de carros e há fisioterap­ia para servidores. É bom exemplo de gasto público? A questão de fisioterap­ia é assistênci­a médica, não é privilégio. Sobre os carros, os modelos eram Omega, de mais de dez anos. A Lava Jato nós julgamos aqui, os homens do PCC nós julgamos aqui, você acha que o ministro merece ou não atenção com segurança?

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO–5/4/2017 Ministro. João Otávio de Noronha assumiu a presidênci­a do STJ para o biênio 2018-2020

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