Extrema direita avança na Suécia e deve fazer parte de novo governo
Inédito. O Democratas Suecos, um partido xenófobo, anti-imigração e contrário à União Europeia, obteve 17,6% dos votos e se tornou a terceira maior força política do país; blocos de centro-esquerda e centro-direita dependem da legenda para ter maioria
A primeira eleição na Suécia após a entrada em massa de imigrantes no país nos últimos anos terminou com o partido de extrema direita e xenófobo Democratas Suecos (DS) como a terceira principal força política do país. O partido conseguiu votações expressivas também em regiões com alta concentração de imigrantes. O resultado histórico obriga os outros partidos a negociar com o DS para formar um governo.
Na prática, a política na Suécia estará à beira de um impasse. Ontem, cerca de 7,5 milhões de eleitores, do total de 10,1 milhões de habitantes, compareceram às urnas para escolher os novos integrantes do Parlamento, o Riksdag, com 349 assentos.
Os partidos de centro-esquerda, a maior força política da Suécia nos últimos 100 anos, obtiveram 40,6% dos votos, o que representa 144 assentos. Os de centro-direita ficaram com 40,2%, 143 assentos. O DS teve 17,6% dos votos, o que lhe garantirá 62 assentos. Com isso, ninguém chega aos 175 assentos necessários para conseguir maioria e precisará formar alianças.
Em vários distritos suecos, o DS ficou em segundo lugar, em alguns obteve até maioria. Em regiões do país com alta concentração de imigrantes, principalmente no sul, o partido chegou a obter 30% dos votos, como em Malmo e Uppsala.
O partido se beneficiou da crescente aversão dos suecos à presença de estrangeiros. A Suécia tem 1,7 milhão de imigrantes. Desde 2015, foi o país europeu que mais recebeu imigrantes em relação ao total da população.
Apesar de sucessivas negativas da maioria dos partidos em negociar com o DS, os resultados inviabilizam a composição de um governo sem a participação do Democratas Suecos.
“É possível que os Verdes, ou um pequeno bloco de conservadores, aceite formar o governo, mas o impasse é o cenário mais provável”, afirmou ontem ao jornal britânico The Guardian o cientista político Stigbjörn Ljunggren. Segundo analistas, o mais provável é que a centrodireita aceite fazer uma aliança com o Democratas Suecos para formar um governo.
Ontem, o líder do partido Moderados, a tradicional centro-direita da Suécia, disse que está preparado para formar um novo governo e o atual primeiro-ministro, Stefan Lofven, dos social-democratas, deveria renunciar. “Haverá uma aliança de oposição de quatro partidos no Parlamento, e o bloco da direita é claramente o maior”, afirmou Ulf Kristersson, líder dos moderados.
O primeiro-ministro disse no fim da apuração que “estava claro que seria necessário um cruzamento de blocos para governar”. “Nesta noite, testemunhamos a morte da política de blocos ideológicos”, acrescentou. Ele também alertou que a centro-direita deve ter cautela. “Os Democratas Suecos não podem e nunca vão oferecer nada que ajude a sociedade. Eles apenas vão aumentar a divisão e o ódio.”
A rápida ascensão do Democratas Suecos nos últimos dez anos, saindo de 4% das cadeiras em 2010 para os quase 18% atuais está diretamente associada ao carisma de seu jovem líder, Jimmie Akesson, de 39 anos. No comando do partido desde 1999, ele deu uma roupagem mais moderada ao DS, abrandando a xenofobia explícita e o racismo e expulsando seus membros mais extremistas e racistas.
“Aumentamos nossos assentos no Parlamento e vamos ganhar uma enorme influência sobre o que acontecerá na Suécia pelos próximos anos”, disse Akesson ontem, aos partidários. Ele afirmou em uma reunião do partido que estava preparado para conversar e cooperar com os outros partidos para garantir “ganhos reais” para seus nacionalistas anti-imigração. “Ninguém poderá tirar esta vitória de nós.”