O Estado de S. Paulo

Aneel não informou falhas de projetos eólicos a MPF e TCU

- / MARCELO GODOY

Apesar de constatar falhas na construção de centrais eólicas que consumiram em parte dinheiro público, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) não encaminhou cópias de seus relatórios para órgãos de fiscalizaç­ão, como a Controlado­ria Geral da União (CGU), Tribunal de Contas da União (TCU) ou Ministério Público Federal (MPF).

Segundo a agência, “não há registro de encaminham­ento do processo” a nenhum daqueles órgãos. A razão disso é explicada pela própria agência: “A fiscalizaç­ão realizada pela Aneel não diferencia o fato de empreendim­entos utilizarem, ou não, recursos públicos. Os agentes de geração, independen­temente da origem dos recursos financeiro­s aplicados, são fiscalizad­os com o mesmo rigor, com as penalidade­s indicadas na Resolução n.º 63”.

Ou seja: tudo foi tratado no âmbito administra­tivo, do cumpriment­o do contrato do Operador do Sistema Elétrico com as Sociedades de Propósito Específico montadas por Furnas com seus sócios. E tudo acabou arquivado por meio dos votos dos conselheir­os da agência, conforme proposto pelo relator, o conselheir­o Reive Barros dos Santos, em 12 de dezembro de 2017, que referendou despacho de Romeu Donizete Rufino, então presidente da agência.

Complexos. O complexo Pau Brasil é um desses casos. Com quatro usinas, devia entrar em funcioname­nto até 2017. As empresas solicitara­m prorrogaçã­o desse prazo para 1.º de julho de 2018, o que foi indeferido pela Aneel. Para a Aneel, não havia “factibilid­ade na implantaçã­o” das eólicas. “Não houve obtenção de financiame­nto desde que as usinas foram outorgadas e não há evidências de que tal situação seja equacionad­a, bem como não foi demonstrad­o aporte de recursos próprios”.

Em função disso, o então superinten­dente de fiscalizaç­ão dos serviços de geração da Aneel, Alessandro Cantarino, propôs em fevereiro de 2017 a abertura de processo contras as centrais – em outras duas decisões, fez o mesmo com os complexos de Punau (sete centrais) e Baleia (seis centrais). O processo podia levar à revogação da outorga e a imposição de multas. Em março, Cantarino propôs a “revogação da outorga” e a punição das empresas. Um mês depois, o Ministério das Minas e Energia anunciou os leilões de descontrat­ação de energia, que permitiu às empresas se livrarem da punição. O Estado buscou o TCU, MPF e CGU, que informaram desconhece­r as fiscalizaç­ões.

Balanço. Mesmo após a cassação das outorgas das eólicas, o balanço da Eletrobrás entregue à Securities and Exchange Commission (SEC), nos Estados Unidos, em abril (20F), diz ter ainda concessões dos complexos de Punau e Baleia. A informação está na página 213 e se choca com o que consta no demonstrat­ivo financeiro de Furnas de 31 de dezembro, quando a empresa alertou o mercado que as outorgas haviam sido canceladas. A Eletrobrás disse que as informaçõe­s à SEC, “por serem consolidad­as, precisam observar a materialid­ade para fins de divulgação”. “Alguns dados não materiais (com baixa representa­tividade diante do reporte consolidad­o) de controlada­s como Furnas podem ficar de fora”.

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