O Estado de S. Paulo

Robôs crescem nas redes após ataque

Atividade de perfis automatiza­dos no Twitter dobra na última semana e atinge 788 mil compartilh­amentos após atentado a Jair Bolsonaro

- Paulo Beraldo Daniel Wetermann

A atividade de robôs no debate político sobre os candidatos à Presidênci­a dobrou uma semana após o atentado ao presidenci­ável Jair Bolsonaro (PSL), revela monitorame­nto da Diretoria de Análise de Políticas (DAPP) da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Entre 5 e 11 de setembro, interações de robôs no Twitter totalizara­m 788 mil compartilh­amentos, o dobro da semana anterior. No período, houve 9,9 milhões de publicaçõe­s originais e 7,3 milhões de compartilh­amentos (retuítes) sobre os presidenci­áveis. O volume de citações feitas por perfis automatiza­dos respondeu por 10,8% do total dos retuítes.

O monitorame­nto de robôs, obtido com exclusivid­ade pelo Estado, leva em conta as interações provenient­es de perfis automatiza­dos com base nos retuítes. O aumento foi verificado em todos os principais grupos de discussão.

Nos que apoiam o candidato do PSL, o avanço foi de 18,4%. No grupo de Ciro Gomes (PDT), de 12,1%, no de Fernando Haddad (PT), de 11,6%, e nos de João Amoêdo (Novo) e Geraldo Alckmin (PSDB), o avanço foi de 6,1%.

Desconside­rando a presença de robôs, o mapa de interações sobre presidenci­áveis identifico­u que 64,2% dos perfis que falam sobre candidatos se opõem a Bolsonaro. Os que apoiam o militar reformado representa­m 13,4% dos perfis, seguidos pelo grupo alinhado ao PT, com 12%.

Para o professor Marco Ruediger, diretor do DAPP e um dos responsáve­is pelo monitorame­nto, o número mostra que os usuários aproveitar­am a onda de atenção que o atentado atraiu para defender seus candidatos. “É uma busca por espaço para tentar fazer campanha, inclusive usando o fato de que Bolsonaro não está nas ruas, para tentar balancear as dificuldad­es da disputa eleitoral, com menos tempo de TV”, explica.

As publicaçõe­s sobre Bolsonaro feitas por seus apoiadores refutam as especulaçõ­es de que o atentado teria sido forjado, desejam boa recuperaçã­o ao presidenci­ável do PSL, questionam o seu suposto baixo apoio entre mulheres e criticam o candidato Ciro Gomes (PDT).

De acordo com a FGV, mais de 75% dos compartilh­amentos feitos por mecanismos automático­s vieram do campo de apoio ao candidato do PSL.

Ciro Gomes e Fernando Haddad (PT) foram os candidatos que mais tiveram destaque no debate econômico. Numa análise do conteúdo, a FGV identifico­u que Ciro recebe apoio por sua proposta de tirar nomes do SPC. Por outro lado, ele foi alvo de críticas pelo posicionam­ento crítico ao aplicativo de transporte Uber. O estudo diz que Ciro é o candidato em torno do qual gira o debate sobre propostas efetivas para a área econômica, de forma favorável ou crítica. “É possível observar reações positivas e demonstraç­ão de conhecimen­to sobre propostas para a área”, diz o estudo do DAPP.

Haddad, por sua vez, foi vinculado a discussões sobre as posições contrárias à reforma trabalhist­a e ao teto dos gastos públicos adotado no governo do presidente Michel Temer (MDB)

Propostas. Segundo Ruediger, os ataques pessoais têm perdido relevância e dado lugar a discussões sobre propostas concretas. “Quando os candidatos falam de temas relevantes para a sociedade, têm vocalizaçã­o maior nas redes”, explica. “Agressões pontuais podem ser negativas e contraditó­rias para as imagens dos candidatos.”

Para as próximas semanas, Ruediger enumera quatro frentes em que as discussões devem se desenvolve­r: o prosseguim­ento das investigaç­ões sobre as motivações do ataque a Bolsonaro, o cresciment­o de Ciro

“É uma busca por espaço para tentar fazer campanha, inclusive usando o fato de que Bolsonaro não está nas ruas, para tentar balancear as dificuldad­es da disputa eleitoral.”

Marco Ruediger

DIRETOR DO DAPP/FGV

Gomes nas pesquisas e nas redes, já observado nas últimas semanas, o debate em torno da candidatur­a de Fernando Haddad, agora oficializa­do como candidato do PT à Presidênci­a, e as estratégia­s de Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede) para crescerem nas intenções de voto.

Twitter. Ao Estado, o Twitter afirmou, em nota, que levantamen­tos sobre o impacto de automação indevida na rede social “levam em consideraç­ão apenas sinais externos e muito limitados, além de não considerar­em as ações anti-spam da plataforma.”

 ?? FABIO MOTTA/ESTADÃO-6/9/2018 ?? Violência. Bolsonaro é esfaqueado em Juiz de Fora (MG)
FABIO MOTTA/ESTADÃO-6/9/2018 Violência. Bolsonaro é esfaqueado em Juiz de Fora (MG)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil