Inteligência artificial transforma os cuidados de saúde
NOVAS TECNOLOGIAS FORTALECEM O VÍNCULO ENTRE MÉDICOS E PACIENTES CADA VEZ MAIS EXIGENTES
Quando recebeu o diagnóstico de câncer renal metastático, em 2007, o americano Dave deBronkart percebeu que sua única chance era a informação. Determinado a entender detalhes da doença e a encontrar algum recurso desconhecido, ele fez da internet uma companheira diária. Sempre com apoio, conhecimento e incentivo de seu médico, ele conectou-se a grupos de pessoas em situação semelhante e vasculhou estudos clínicos de novas drogas. Descobriu um tratamento que, até então, seu médico não conhecia e assumiu uma missão maior: ajudar a melhorar o sistema de saúde.
Como sobrevivente, ele convida cada paciente a se relacionar com outros, a controlar seus dados médicos e a impulsionar o aprimoramento dos cuidados. Nos Estados Unidos, Dave é conhecido como um e-patient (equipped, engaged, empowered, enabled), termo usado para descrever a atitude de pacientes que, graças a seu engajamento e às novas tecnologias, podem ajudar a mudar a atenção à saúde. “O paciente é o componente mais subutilizado do sistema. Deixem os pacientes ajudar a transformar a nossa realidade”, afirma.
Em um ensaio publicado no British Medical Journal, Dave ressalta a importância da participação da sociedade na definição do que é valor em medicina. Ou seja: ninguém melhor do que os pacientes para dizer o que, de fato, é importante para eles. “Podemos ajudar a orientar decisões, estratégias e práticas.” Com essa bandeira, Dave se tornou um palestrante de sucesso – tendo, em algumas ocasiões, a parceria de seu médico nessas palestras. Ele ainda tem vídeos traduzidos para 26 idiomas e muitas viagens internacionais. No dia 10 deste mês, ele esteve no Brasil para participar do evento de lançamento do novo posicionamento e marca da Dasa, a maior empresa de diagnósticos do Brasil. A Dasa tem como objetivo promover uma transformação para um futuro cada vez mais digital.
“O impacto da tecnologia na experiência do paciente é algo muito importante”, diz o neurorradiologista Emerson Gasparetto, vice-presidente da área médica da Dasa. Desde a adoção de uma plataforma digital para agendamento e realização de exames, cerca de 3 mil clientes por dia já utilizaram o sistema. Como toda informação de check-in é registrada antes, o paciente chega ao laboratório, apresenta um QR Code no celular e segue para a sala de coleta, sem qualquer contato com recepcionistas. Entre sua chegada e saída, ele gasta, em média, apenas dez minutos.
Os recursos digitais e o fácil acesso à informação alteram por completo a experiência de cuidar da saúde. Cada vez mais, os pacientes chegam ao consultório em condições de discutir o que precisa ser feito e de participar das decisões sobre seu tratamento. O bom médico deixou de ser a autoridade incontestável e assumiu o papel de ouvinte atento e orientador na busca do paciente por mais conhecimento e qualidade de vida. A adoção de inovações como a inteligência artificial (IA) e o uso de big data para análises em grande escala permitem que os profissionais se livrem de tarefas burocráticas e voltem a se dedicar à essência da medicina: a arte de cuidar de gente.
“A inteligência artificial fará parte dos cuidados de saúde, assim como o Waze e o Google Maps entraram em nossa vida. Ela ajudará a prevenir doenças e a melhorar a adesão aos tratamentos”, afirma Guilherme Rabello, gerente de Inteligência de Mercado do Núcleo de Inovação do InCor (InovaInCor). “Precisamos, cada vez mais, educar e treinar as pessoas na cultura da saúde digital.”
A tecnologia, quando adotada de forma criteriosa, traz benefícios aos pacientes e aos médicos. Com o bom uso do tempo e dos recursos proporcionado por ela, os profissionais podem se concentrar naquilo em que são indispensáveis: construção do vínculo com o paciente, relacionamento olho no olho e busca da decisão compartilhada. Para contribuir com esse novo momento da relação médico-paciente, a Dasa oferece soluções que favorecem a conversa entre eles e a compreensão das informações: laudos com interpretações mais intuitivas e uso de cores, infográficos e imagens.
“Dar poder ao paciente é uma obrigação da cadeia de saúde. Com a ajuda da tecnologia, o médico pode dedicar mais tempo da consulta a ouvir o paciente, a tocá-lo e a orientá-lo sobre como buscar informação confiável”, diz Gasparetto. Muitos dos avanços prometidos na área médica só irão se concretizar no Brasil se os dados de saúde dos pacientes forem digitalizados e estiverem disponíveis de forma organizada e comparável. Um dos esforços nesse sentido é o trabalho coordenado pelo Instituto de Ciências Matemáticas e da Computação (ICMC) da Universidade de São Paulo (USP), em São Carlos, para digitalizar e organizar dados de mais de 1,6 milhão de pacientes de 24 hospitais públicos do estado de São Paulo. Cadastros e resultados de exames serão usados para desenvolver algoritmos (receitas que mostram os procedimentos necessários para a resolução de uma tarefa) aplicados à saúde. Algoritmos Há grande entusiasmo e investimento, tanto no setor público quanto no privado, em relação ao uso de algoritmos para melhoria dos diagnósticos por imagem, descoberta de novas drogas, priorização de pacientes em hospitais, entre outros usos (leia abaixo). Em uma parceria com o Center for Clinical Data Science (CCDS), centro multidisciplinar vinculado à Harvard Medical School, a Dasa desenvolve um projeto de análise de 10 mil ressonâncias magnéticas de cérebro. O objetivo é desenvolver algoritmos para apontar, em tempo real, o tipo, o potencial risco e a gravidade de determinada doença cerebral.
Em outra frente, os pesquisadores estão trabalhando na análise de 300 ressonâncias magnéticas de próstata para desenvolver algoritmos que calculam precisamente as medidas desse órgão. A ideia é que, no futuro próximo, seja possível gerar imagens tridimensionais que ajudem os médicos a desenvolver novas estratégias de rastreamento de tumores.
Em vários campos da medicina, a tendência é que as máquinas se ocupem em diferenciar os casos enquadrados nos padrões de normalidade daqueles que exigem ação rápida ou cuidados especiais. Dessa forma, os profissionais mais especializados podem se dedicar, o quanto antes, à análise dos exames e à definição dos tratamentos dos doentes que mais necessitam de atenção. Enquanto isso, os softwares podem funcionar como uma segunda opinião – espécie de junta médica reunida em tempo real. Esse futuro já começou, mas os computadores são apenas uma parte da equação que pode levar à melhoria dos cuidados de saúde.
Por mais sofisticados que sejam os recursos de inteligência artificial, os bons médicos continuarão a ser indispensáveis. O contato direto com os pacientes oferece a eles um conjunto de informações preciosas que máquina alguma é capaz de reunir e interpretar. A expressão do rosto, o jeito de andar, o suor nas mãos, o depoimento de um familiar sobre mudanças de comportamento... Esse conjunto de dados e percepções que só o profissional consegue apreender faz da medicina uma atividade dependente da interação humana. “As máquinas não conseguem replicar a ética, o sentimento singular que temos de empatia e o engajamento. A relação médica é imprescindível e terá cada vez mais valor”, diz Rabello, do InovaInCor. Para o bem dos pacientes, é bom que continue a ser assim.
Acreditamos que a relação médico-paciente vai se beneficiar muito pela transformação digital. Parte da nossa responsabilidade no cuidado à saúde das pessoas é transmitir as informações da forma mais clara possível” Emerson Gasparetto, neurorradiologista e vice-presidente da área médica da Dasa