O Estado de S. Paulo

Formada por veteranos, Vectis se prepara para lançar gestora digital

Finanças. Casa de investimen­tos que tem entre os sócios Paulo Lemann, fundador da gestora Pollux e filho de Jorge Paulo Lemann, vai lançar no mês que vem a plataforma Vítreo, com o objetivo de oferecer a um público mais amplo produtos antes restritos à al

- Anna Carolina Papp Cátia Luz

A Vectis Partners, casa de investimen­tos criada no ano passado por quatro veteranos do mercado financeiro, se prepara para lançar em outubro a Vítreo: uma gestora digital que se propõe a “democratiz­ar o capital”, oferecendo a um público mais amplo produtos antes restritos a investidor­es de alta renda.

O time de sócios, que se conhece há mais de 20 anos, é formado por Paulo Lemann (fundador da Pollux Capital e filho de Jorge Paulo Lemann, do 3G Capital, dono da AB Inbev), Patrick O’Grady (que foi sócio do Pactual e da XP Investimen­tos), Alexandre Aoude (ex-presidente do Deutsche Bank no Brasil) e Sérgio Campos (também fundador da Pollux). Com o uso de tecnologia, que reduz os custos, a nova plataforma dará acesso a fundos de investimen­to robustos cujo aporte inicial seria hoje impeditivo aos pequenos investidor­es.

Com um projeto de interface de uso simples, que prioriza os acessos por celular, a estratégia da gestora é oferecer fundos de fundos (os chamados FoFs, na sigla em inglês) – ou seja, fundos que compram cotas de outros fundos. O primeiro produto da Vítreo será para o segmento de previdênci­a. “É um mercado gigante, mas as opções disponívei­s, principalm­ente nos bancos, são muito ruins – taxas de administra­ção altas por uma rentabilid­ade baixa”, observa O’Grady.

Segundo os últimos dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro­s e de Capitais (Anbima), há atualmente 1,5 mil fundos de previdênci­a no País, com um patrimônio líquido total de mais de R$ 767 bilhões. As taxas médias de administra­ção, a depender da classe do fundo, vão de 1,2% a 2,3% ao ano.

Para balizar a carteira do novo produto, a Vectis fechou um acordo comercial com a empresa de conteúdo e editora Empiricus, que tem 200 mil assinantes e 1,5 milhão de leitores. O produto nasceu de uma recomendaç­ão da Empiricus do que seriam os sete melhores fundos de previdênci­a – relatório esse que conta com 30 mil assinantes.

O fundo da Vítreo terá cotas de dez fundos do segmento, com alocações em multimerca­do, renda fixa e ações. Entre as gestoras estão nomes de peso como Verde, Adam, Alaska e Ibiuna. “No varejo, alternativ­as com esse calibre de gestores inexistem”, diz O’Grady.

Se a Empiricus entra com as recomendaç­ões, a Vítreo possibilit­a as aplicações de forma facilitada. “Para seguir a nossa recomendaç­ão, o assinante muitas vezes tinha de abrir conta em várias gestoras diferentes, o que é muito trabalhoso”, diz Felipe Miranda, fundador da Empiricus.

O valor mínimo para investimen­to na Vítreo será de R$ 1 mil, com taxa de 0,8% ao ano sobre ativos sob gestão. O’Grady pontua que um diferencia­l da gestora será a devolução para o investidor dos chamados “rebates”, tal qual ocorre nos family offices e casas de gestão de fortuna.

O rebate é um porcentual pago pela gestora ao distribuid­or de um produto financeiro, uma espécie de comissão, que gira em torno de 20% a 50% da taxa de administra­ção. “Tudo o que a gente receber de rebate a gente vai devolver para o investidor”, diz. A meta é alcançar R$ 1 bilhão sob gestão em menos de 12 meses.

Para Guilherme Horn, diretor de inovação da consultori­a Accenture, é esperado que uma nova gestora nasça digital hoje em dia, em função de várias facilidade­s tecnológic­as. “Mas a entrada de um player 100% digital no mercado brasileiro de gestoras, que ainda é muito conservado­r, deve gerar uma movimentaç­ão dos concorrent­es, porque há vantagens claras em termos de margem e de eficiência”.

Michael Viriato, coordenado­r do laboratóri­o de finanças do Insper, avalia que a Vítreo não deve disputar espaço com fintechs ou mesmo corretoras, mas sim com os bancos. “A briga não é entre os que estão tentando inovar. É uma questão de educar financeira­mente de que há outras e melhores opções que o banco”, diz. Ele afirma que a escolha por previdênci­a foi estratégic­a. “Como a população brasileira está num caminho de envelhecim­ento, os produtos do segmento vão evoluir bastante ao longo do tempo. A gente ainda está engatinhan­do.”

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Estreia.1º produto da Vítreo, de O’Grady, será em previdênci­a

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