O Estado de S. Paulo

‘Se não fosse democrata, estaria limpando arma’

Grupos que divergiram nesta semana vão se encontrar para pôr fim a atritos internos

- Leonencio Nossa / BRASÍLIA

Criticado por defender uma nova Constituiç­ão elaborada por “notáveis” não eleitos e aprovada em plebiscito, e chamado de antidemocr­ático, o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB), vice na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), reagiu ontem. “Não sei por que sou antidemocr­ático. Se fosse, não estaria participan­do de uma eleição. Estaria limpando as armas e aguardando o momento”, afirmou.

A equipe de campanha do candidato do PSL ao Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro, se reúne no começo da próxima semana, em São Paulo, para tentar pôr fim a divergênci­as internas na reta final do primeiro turno. O encontro foi acertado com o presidenci­ável, que se recupera no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, do atentado sofrido na semana passada. A ideia é dar uma demonstraç­ão pública de coesão depois de uma semana de atritos nos bastidores entre os grupos do general da reserva Hamilton Mourão (PRTB), candidato a vice na chapa, e do presidente do PSL, Gustavo Bebianno.

Além de Mourão e Bebianno, devem participar do encontro três filhos de Bolsonaro: Flávio, Carlos e Eduardo. Na terça-feira passada, Mourão e os também generais da reserva Augusto Heleno Ribeiro e Oswaldo Ferreira, e o presidente do PRTB, Levy Fidelix, se reuniram em Brasília. Bebianno não compareceu. Durante o encontro, Fidelix reclamou que o presidente do PSL tentava impedir que Mourão ocupasse o papel de vice no momento de ausência de Bolsonaro. “É preciso acertar os ponteiros”, disse um aliado próximo do candidato.

Responsáve­l pela filiação de Bolsonaro ao PSL, o deputado federal Luciano Bivar (PE) avaliou que é “natural” que depois da “tragédia” do atentado e o isolamento do presidenci­ável no hospital, os aliados ficassem mais distantes. “Tem diálogo. Agora, é natural que o pessoal fique mais contido”, disse. “É um momento de muita tensão”,

completou. Bivar observou que a saída de Bolsonaro das ruas prejudicou especialme­nte as atividades de campanha no Nordeste, onde o presidenci­ável tinha extensa agenda de viagens às principais cidades da região.

Os descompass­os na campanha ficaram mais nítidos na quinta-feira, dia seguinte à segunda cirurgia, o que levou médicos a aumentarem as restrições de acesso ao seu quarto. Vídeos e entrevista­s que o candidato tinha planejado foram suspensos.

Com Bolsonaro no hospital e PSL e PRTB se desentende­ndo, a campanha segue sem unidade. Ontem, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) fez campanha em Sorocaba para mais um mandato na Câmara. Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que concorre ao Senado, comanda uma carreata em Campo Grande hoje. Já Mourão foi ao Paraná e Manaus.

Ontem, no Einstein, Flávio negou haver divisão na campanha. “Não há nada disso”, afirmou. “Estamos todos unidos, soldados do capitão.” Segundo ele, ainda não é possível planejar o retorno de Bolsonaro à campanha, mas o pai fica perguntand­o pelo andamento da campanha. “Se dependesse dele, estaria na rua fazendo campanha, mas ele vai seguir obedecendo aos médicos.”

Atos. Enquanto Bolsonaro permanece hospitaliz­ado, aliados organizam uma série de atos para manter a campanha sem ele. Amanhã está prevista uma vigília de apoio nos arredores do Albert Einstein. Chamada de “vigília silenciosa”, a manifestaç­ão começou a ser organizada ontem e pretende fazer “uma corrente de oração”. Aliados nutrem esperança de o deputado retornar ao quarto e conseguir acenar da janela. Não há, porém, previsão da equipe médica em relação a isso.

Assessores dispararam via redes sociais uma convocação para que eleitores de Bolsonaro vistam amarelo nos estádios de futebol na rodada do fim de semana do Campeonato Brasileiro como forma de homenagear o candidato. Outra ideia é revisitar cidades onde Bolsonaro foi recebido com festa ao desembarca­r em aeroportos, como Fortaleza, Campo Grande, Goiânia e Curitiba.

Também está programado para a próxima quinta-feira, em Sorocaba, o evento “Viva Bolsonaro”, no qual ele será representa­do pelo filho Eduardo, por Major Olímpio, que tenta vaga no Senado, e outros candidatos do PSL. Há expectativ­a ainda de que Mourão possa se unir ao grupo. Segundo Olímpio, quando possível, os aliados estarão juntos, “mas cada um tem sua campanha e agenda próprias”.

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