O Estado de S. Paulo

Brasil fica atrás da Venezuela em índice de desenvolvi­mento

Sem avanços sociais, País permanece na 79ª colocação entre 189 países. Mesmo assim, continua no grupo classifica­do como de Alto Desenvolvi­mento Humano pela ONU

- / I.P.

Pelo segundo ano, o Brasil ficou na 79.ª posição entre 189 países avaliados no Índice de Desenvolvi­mento Humano (IDH), uma abaixo da Venezuela, que enfrenta forte crise econômica. O País alcançou nota 0,759, em uma escala que vai de zero a um – quanto mais próximo de um, maior o desenvolvi­mento humano. O IDH avalia o progresso dos países com base em três itens: saúde, educação e renda. Na América do Sul, o Brasil fica ainda atrás de Chile, Argentina e Uruguai e, de acordo com os dados, continua extremamen­te desigual. O primeiro colocado é a Noruega, com 0,953 pontos, e o último é o Níger, com 0,354. O governo não comentou.

Salomão Ximenes, professor da Universida­de Federal do ABC (UFABC), diz que a estagnação na área de educação reflete o que outros indicadore­s já haviam retratado – como a nota do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), divulgada no mês passado, que mostrou que pela terceira vez seguida o País não conseguiu atingir as metas de qualidade fixadas pelo governo federal para as séries finais do ensino fundamenta­l (do 6.º ao 9.º ano) e do médio.

“Minha preocupaçã­o é que essa estagnação pode significar uma reversão do progresso lento que tivemos, por causa da queda de investimen­tos na área”, diz Ximenes. O professor ressalta ainda que a estagnação na média de anos de estudo é uma consequênc­ia da ausência de programas de educação para a população adulta. “Temos uma quantidade grande de jovens adultos, de 19 a 29 anos, que sequer concluiu o ensino fundamenta­l ou médio. E não estamos olhando para essas pessoas.”

Relatório da Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico (OCDE), divulgado nesta semana, mostra que 52% dos adultos brasileiro­s, com idade entre 25 e 64 anos, não têm diploma do ensino médio. Amanda Stephanie Silva, de 25 anos, não concluiu o ensino médio na idade certa. Ela saiu de Maceió aos 16 anos para morar com o pai em São Paulo e largou os estudos para trabalhar. “Tinha 17 anos e estava no 1.º ano do ensino médio. Precisava trabalhar para me manter aqui e não encontrei vaga em nenhuma escola perto da minha casa para estudar de noite.”

Aos 22 anos, com dificuldad­e de conseguir emprego, ela decidiu tentar a certificaç­ão pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Conseguiu no segundo ano que prestou. “Pensava que, com o ensino médio, conseguiri­a um bom emprego. Mas agora vejo que preciso ter faculdade para ter um bom salário. O problema é que não consigo nem pagar nem entrar em uma pública”, afirma a jovem, que trabalha como vendedora.

Saúde. Professor da Faculdade de Medicina Preventiva da Universida­de de São Paulo (USP), Mario Scheffer diz que, apesar da pequena melhora no indicador de esperança de vida ao nascer, o País tem recebido alertas importante­s para a saúde, que podem levar a uma reversão da melhora recente. “A melhora desse indicador é um reflexo dos últimos 30 anos de investimen­to no SUS, mesmo com todos os problemas e dificuldad­es do sistema. Mas algumas melhorias, conquistad­as com muito esforço, estão se perdendo. Haja visto a redução da cobertura vacinal e o aumento da mortalidad­e infantil e materna registrado­s nos últimos dois anos.”

Renda. “Esse IDH ainda é de um ano em que tivemos um pequeno cresciment­o do PIB, mas estamos vindo de dois anos de uma retração muito grande, com a maior queda histórica do PIB. É natural que o indicador mostre essa degradação. Por se tratar de uma crise doméstica, e não externa, a gente está perdendo a oportunida­de de alcançar os países desenvolvi­dos”, diz o economista Bruno Lavieri, da 4E Consultori­a.

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GABRIELA BILÓ/ESTADÃO Ganhos. Keyth viu renda cair

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