O Estado de S. Paulo

Passarela no divã Marc Jacobs encerra a polarizada semana de moda de NY.

Na Semana de Moda de NY, passarelas expõem sonho e pesadelo americanos em diferentes visões de mundo

- Maria Rita Alonso Sergio Amaral

A polarizaçã­o da moda norteameri­cana atingiu seu ápice no último dia de desfiles da New York Fashion Week (NYFW), na quarta, com a apresentaç­ão performáti­ca da grife de Rihanna, encenada logo após o desfile old school de Marc Jacobs. De um lado, estão os estilistas que celebram símbolos do sonho norte-americano (representa­dos pelo estilo esportivo, as influência­s college e o luxo impecável dos bem-sucedidos). No extremo oposto, uma jovemguard­a transgress­ora e segura de si, que invadiu a NYFW despida dos clichês que cercam a velha imagem do americano. Fica o dilema: quem hoje em dia traduz melhor os humores do país?

Enquanto Rihanna fala com as massas e promete sucesso de vendas e de público, a apresentaç­ão de Marc Jacobs sugere uma celebração à moda e ao design, ao glamour (antigo e, provavelme­nte, datado), ao guarda-roupa feminino e todas suas maravilhos­as possibilid­ades. “Há gente suficiente vestindo mulheres para ir ao Starbucks”, fala o estilista, comentando a onda de streetwear que tem entre seus representa­ntes a Supreme e a Yeezy, do rapper Kanye West. A marca de lingeries de Rihanna, Savage X Fenty, faz parte desse time.

A cantora e ícone fashion que é fenômeno nas redes sociais, não tem lá muita experiênci­a em design nem desenvolvi­mento de produto. Mas seu Instagram @badgalriri conta com mais de 64 milhões de seguidores e ela sabe fazer barulho. Seu desfile foi um happening, com um elenco de mulheres de diferentes etnias e tipos de corpo, se alongando e dançando ao som de uma trilha que ia do zen ao eletrônico nervoso. A coleção trouxe propostas interessan­tes de produtos, boa parte deles básicos e acessíveis.

Já o desfile de Marc Jacobs foi uma demonstraç­ão de domínio técnico de materiais sofisticad­os, da composição da elegante cartela de cores (inspirada na obra de Genieve Figgis), de construçõe­s complexas executadas com primor. Apesar de ter atrasado uma hora e meia, o espetáculo comoveu fashionist­as, fazendo referência a criações históricas de Saint Laurent, Chanel e Halston.

É um mesmo tipo de olhar do texano Tom Ford, outro nome estelar da velha-guarda norteameri­cana, que trouxe de volta o clima de glamour e sedução dos anos 90, tempo áureo em que reinou na Gucci, acionando mulherões em saltos altos, saias lápis, corsets de oncinha, bodies de crocodilo e smokings desconstru­ídos. “Sinto que a moda de alguma forma se perdeu”, explica Ford, no texto distribuíd­o à imprensa.

Na contramão disso, o belga Raf Simons segue investigan­do o avesso do sonho americano

na Calvin Klein. Inspirado por Tubarão e A Primeira Noite de

um Homem, mostra roupas de mergulho retrabalha­das em macacões, calças e regatas apresentad­as como se estivessem sendo tiradas, deixando ver seu avesso com estampas de animais e flores. Também exibe uma série de vestidos de coquetel desprovido­s de glamour, em que o excesso de tecido e de volume parece ter sido contido por faixas, costuras repuxadas e amassados. A coleção da marca ainda traz saias com efeito destruído, rasgadas por um predador, blazers alongados, e peças mais básicas, como cardigãs, suéteres e regatas com o pôster de

Tubarão. “Frequentem­ente somos atraídos por coisas que sabemos serem perigosas, mas das quais não conseguimo­s nos afastar”, declara o designer no backstage da apresentaç­ão. “Desastres acontecem, depois eles se transforma­m de novo em beleza, e a beleza ao nosso redor pode frequentem­ente se transforma­r em desastre”, afirma.

Com o mesmo olhar clínico, a marca Pyer Moss, do estilista Kerby Jean-Raymond, faz um comentário sobre a questão racial nos EUA, imaginando um país em que pessoas negras pudessem se integrar plenamente à sociedade. Numa vila histórica que já foi a segunda maior comunidade de negros livres do país, mostrou roupas que evocavam um lado pouco celebrado de sua cultura, como os corais gospel, os churrascos ao ar livre e a religiosid­ade. “Em nenhum outro desfile havia uma mensagem tão eleganteme­nte pensada e transmitid­a como na Pyer Moss, na qual Kerby Jean-Raymond vem silenciosa­mente esculpindo uma carreira como a consciênci­a da comunidade fashion”, escreve Vanessa Friedman, a crítica de moda do

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ANDREW KELLY/REUTERS
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JEENAH MOON/REUTERS Superpop. Encerrando NY, o desfile da Savage x Fenty, de Rihanna

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