O Estado de S. Paulo

Agronegóci­o critica sucessão na Embrapa

Entidades do setor enviaram carta ao ministro da Agricultur­a pedindo mudanças no processo de seleção para a nova presidênci­a do órgão

- Lu Aiko Otta/ BRASÍLIA Gustavo Porto/ RIBEIRÃO PRETO

Quarenta entidades de peso do agronegóci­o enviaram na última quarta-feira uma carta ao ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi, criticando o processo de seleção para o novo presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuár­ia (Embrapa), que deverá ser concluído até 15 de outubro. O setor quer opinar na escolha, que será feita pelo conselho de administra­ção, composto exclusivam­ente por integrante­s do governo.

O protesto, encabeçado pelo Instituto Pensar Agrícola (IPA) é endossado por entidades como Unica, Aprosoja, Viva Lácteos e Citrus Br, entre outras. Ligada à pasta da Agricultur­a, a Embrapa se dedica à pesquisa e inovação no desenvolvi­mento da agropecuár­ia. Neste ano, seu orçamento é de R$ 3,34 bilhões, dos quais R$ 2,96 bilhões vão para despesas com pessoal.

Na quinta-feira, o conselho se reuniu para elaborar uma lista tríplice a partir de 16 candidatos que se ofereceram para o cargo. Os nomes selecionad­os não foram divulgados, mas circula no mercado que são o atual diretor executivo de Inovação e Tecnologia da estatal, Cleber Oliveira Soares, o pesquisado­r aposentado Sebastião Barbosa e o ex-ministro da Agricultur­a Luis Carlos Guedes Pinto.

Os três passarão por uma espécie de sabatina e o conselho escolherá um nome para submeter à Casa Civil da Presidênci­a da República e, posteriorm­ente, ao presidente Michel Temer. Existe a possibilid­ade de outros candidatos serem chamados, caso algum dos integrante­s da lista tríplice não atenda ao desejado na entrevista.

“Parece-nos que o processo seletivo de presidente, sem a prévia definição de sua estratégia e desenvolvi­mento futuro, traz uma enorme dificuldad­e”, diz a carta, assinada pelo presidente do Instituto Pensar Agrícola (IPA), Fabio de Salles.

“Esse processo está invertido”, afirmou Pedro de Camargo Neto, vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), uma das signatária­s da carta. “Antes de escolher o presidente, precisaria saber quais os planos dele para enfrentar os graves problemas da Embrapa.”

Ajustes. Com o orçamento restrito, a estatal tem tido um desempenho aquém do esperado pelo setor privado na entrega de novas tecnologia­s. Os sucessivos cortes de verbas numa empresa em que a folha de pessoal é incomprimí­vel levou ao sacrifício de serviços de ponta.

Ela tem também enfrentado dificuldad­es corporativ­as para fazer ajustes que poderiam melhorar seu funcioname­nto. “O centro de pesquisa de algodão está na Paraíba, quando deveria estar no Mato Grosso”, exemplific­a Camargo. Isso fazia sentido nos anos 1970, quando a produção se concentrav­a na região de Campina Grande (PB), mas hoje ela está no cerrado brasileiro.

Camargo tem dúvidas se os pré-selecionad­os para a lista tríplice teriam condições de levar essa reforma adiante. Isso porque os candidatos foram avaliados a partir de seus currículos. “Mas um bom pesquisado­r pode não ser um bom gestor”,diz.

Na carta, as entidades sugerem que os candidatos apresentem “proposta de trabalho, com a estratégia de gestão da empresa, de forma que o setor produtivo possa conhecer e avaliar as melhores proposiçõe­s.”

Fontes do governo informaram que a seleção do presidente da Embrapa segue a Lei das Estatais. O processo foi aberto a toda a sociedade civil, de forma que todos os que se considerar­am aptos ao cargo puderam concorrer. Para se candidatar, a pessoa precisou justificar por que se apresentou, qual sua visão da empresa e qual o futuro que espera para ela. A estratégia de gestão será ainda avaliada nas entrevista­s.

Com isso, a ideia é conduzir um processo de seleção com critério exclusivam­ente técnico. Assim, ao menos em tese, ficariam de fora pressões políticas e também os interesses classistas, aí incluídas as empresas do agronegóci­o. Consultado­s, a Embrapa e o Ministério da Agricultur­a não se pronunciar­am.

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DIDA SAMPAIO/ ESTADAO-6/6/2018 Polêmica. Ministro Maggi, que recebeu carta das entidades

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