O Estado de S. Paulo

Direitos autorais protegidos

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OParlament­o Europeu aprovou na quarta-feira passada o projeto de lei que atualiza as regras sobre direitos autorais para os países-membros da União Europeia (UE). A atual legislação sobre o tema está em vigor há 17 anos e prevê as responsabi­lidades para o setor de tecnologia, mas de forma bastante limitada diante da complexida­de do meio digital de hoje.

De acordo com a proposta, a chamada Diretiva dos Direitos de Autor, caso queiram atuar em países da UE, empresas de tecnologia como Facebook e Alphabet – holding que controla os sites Google e YouTube, entre outros – deverão pagar pela reprodução de conteúdos produzidos por terceiros que são publicados em suas plataforma­s. Aqui se incluem tanto as produções artísticas como as de natureza jornalísti­ca.

Após a aprovação do projeto no Parlamento Europeu – por 438 votos a favor, 226 contra e 39 abstenções –, a Diretiva dos Direitos de Autor agora segue para a mesa de negociaçõe­s dos países-membros. Para entrar em vigor, a nova legislação de direitos autorais deve receber o aval da Comissão Europeia – braço executivo da UE – e do Conselho da União Europeia. Estima-se que a decisão final sobre a adoção do texto pelas nações que compõem o bloco virá em janeiro de 2019.

O resultado desta sessão, no entanto, foi alvissarei­ro. Há dois meses, na primeira votação, os eurodeputa­dos rejeitaram a proposta, sugerindo mudanças no texto. “Estou muito satisfeito pelo fato de, apesar da campanha muito forte levada a cabo pelos gigantes da internet, haver agora uma maioria na assembleia que apoia a necessidad­e de proteger o princípio de uma remuneraçã­o justa dos criadores europeus”, disse Axel Voss, eurodeputa­do da Alemanha, um dos relatores do projeto.

Uma das inovações do projeto prevê que as empresas de tecnologia fiscalizem proativame­nte se os conteúdos enviados pelos usuários às suas plataforma­s infringem direitos de autor. Pela atual legislação europeia, a empresa fica obrigada a retirar o conteúdo do ar apenas se o detentor do direito autoral assim o requerer.

Quando entrar em vigor, a nova lei determinar­á a análise prévia e remoção imediata de conteúdos que são protegidos por direito autoral. Este é um ponto controvert­ido do projeto de lei porque, segundo alguns especialis­tas, abriria um flanco para a censura prévia. “O processo de verificaçã­o de conteúdo automática é muito ineficient­e e muitos produtores podem ser lesados com isso”, disse Mariana Valente, diretora-geral do InternetLa­b. O risco, aponta a especialis­ta, é a proibição ultrapassa­r o limite da disputa entre as empresas e acabar tolhendo a liberdade de expressão dos cidadãos. Caso isso ocorra, a UE tem órgãos capacitado­s para preservar as liberdades individuai­s. Fato é que a situação atual é muito confortáve­l – e lucrativa – para as empresas de tecnologia e passava da hora de algo ser feito para reequilibr­ar as relações no mercado digital.

Empresas como Facebook e Google hoje faturam bilhões de dólares em publicidad­e sem ter de pagar um centavo aos produtores dos conteúdos que circulam por suas redes. Atraem cada vez mais usuários e, consequent­emente, mais anunciante­s.

Os custos de produção de conteúdo recaem exclusivam­ente sobre os órgãos de imprensa e sobre as produtoras de audiovisua­l. Entre outras razões, é por este conteúdo que bilhões de pessoas acessam redes sociais como o Facebook em busca de entretenim­ento e informação confiável. É cada vez maior o número de pessoas que se informam por meio do conteúdo que circula nas redes sociais, como o compartilh­amento de notícias apuradas com diligência por órgãos de imprensa. E informação com esse grau de confiabili­dade não sai barato.

Especialis­tas ouvidos pelo Estado acreditam que a nova legislação europeia sobre os direitos autorais deverá levar ao debate do assunto no Brasil. A lei brasileira sobre direitos de autor é de 1998, mais antiga do que a lei europeia que ora se atualiza, de 2001. É um debate mais do que bem-vindo.

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