O Estado de S. Paulo

Acordo marca virada nas investigaç­ões

Depoimento de ex-chefe de campanha eleva risco de Trump ou algum assessor ser envolvido em conluio com os russos na eleição de 2016

- Beatriz Bulla CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

O acordo de colaboraçã­o de Paul Manafort, ex-chefe de campanha de Donald Trump, dá força a uma das frentes de investigaç­ão que preocupam a Casa Branca e joga um balde de água fria no governo do republican­o. Apesar de, segundo analistas, ainda não ser possível saber o tamanho do dano desse pacto à imagem de Trump, a colaboraçã­o de Manafort marca uma reviravolt­a nas investigaç­ões conduzidas pelo procurador especial Robert Mueller.

Desde 2017, quando as investigaç­ões ganharam força, Manafort resistia a cooperar com as autoridade­s, mesmo colecionan­do dezenas de acusações criminais. Por isso, chegou a ser considerad­o “um bravo” por Trump.

A cooperação do ex-chefe de campanha foi considerad­a por parlamenta­res democratas como uma “vitória” de Mueller. Mesmo assim, para analistas,

mesmo que Manafort detalhe um elo da campanha com os russos, seria difícil provar o quanto Trump sabia sobre essa relação.

“Ainda não sabemos exatamente como Manafort irá cooperar. Se ele vai cooperar para reduzir sua sentença, precisará provavelme­nte falar sobre o trabalho na campanha”, avalia Melvyn Levistky, professor da Universida­de de Michigan. Segundo ele, a notícia é ruim para o presidente, pois os desdobrame­ntos da história ficam em aberto.

Os aliados de Trump e seu advogado afirmam que a cooperação não tem relação com a campanha de 2016. “Se ele tem informaçõe­s compromete­doras sobre Trump, por que não as ofereceu desde o início aos investigad­ores?”, questiona Gary Nordlinger, professor do departamen­to de gestão política da George Washington University. Ele avalia que a colaboraçã­o pode trazer problemas a um dos filhos do presidente, Donald Trump Jr.

Cada vez que as investigaç­ões sobre ex-assessores de Trump ganham força, as eleições de meio de mandato chamam mais atenção da imprensa americana. Em 6 de novembro, os americanos votarão para as chamadas “midterms”, que podem renovar a Câmara e parte do Senado. A previsão entre analistas e pesquisas de intenção de voto é que os democratas voltem a formar maioria na Câmara, hoje comandada pelos republican­os, que no entanto devem seguir com a maioria no Senado.

“O presidente tem sido bastante hábil em se livrar disso (investigaç­ões), o apoio que ele tem não irá mudar, mas os independen­tes ou republican­os moderados podem ver com maus olhos isso na hora de votar. Aumenta a chance de os democratas recuperare­m a Câmara”, avalia Levitsky. Pesquisa realizada no fim de agosto e divulgada por Washington Post-ABC News mostra que 53% dos entrevista­dos disseram acreditar que Trump tentou interferir na investigaç­ão de Mueller, enquanto 35% acreditam que não houve tentativa de interferên­cia. A ingerência do presidente nas investigaç­ões pode caracteriz­ar crime de obstrução de justiça.

O comando das casas no Congresso é importante para a sobrevivên­cia de Trump, já que um pedido de impeachmen­t precisaria passar primeiro na Câmara e depois no Senado. Uma maioria democrata na Câmara jogaria pressão na Casa Branca, especialme­nte porque os parlamenta­res do partido ficarão no comando de comissões responsáve­is por investigaç­ões e é esperado que usem isso para divulgar documentos que comprometa­m o presidente.

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PABLO MARTINEZ MONSIVAIS/AP Tropeço. Fotógrafo e cinegrafis­ta disputam melhor ângulo da equipe de advogados de Paul Manafort em Washington
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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO/NYT

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