O que acontece após Manafort mudar de opinião
Mais uma vez, a “caça às bruxas” do procurador especial Robert Mueller capturou uma bruxa. E esta é uma das grandes, como o Washington Post relata: “A decisão de Manafort de fornecer provas em troca de clemência na sentença é um acontecimento surpreendente na longa investigação que quer averiguar se algum associado de Trump pode ter conspirado com a Rússia para influenciar a eleição de 2016. Os defensores de Manafort insistiram que ele não cooperaria com Mueller e não conhecia nenhuma informação que incriminasse o presidente.”
Quando Donald Trump tuitar sobre esse acontecimento, imagino que será para comunicar que, primeiro, ele mal conhece Manafort e, portanto, os crimes de Manafort não devem refletir sobre ele de nenhuma maneira, e, segundo, Manafort é apenas um rato sujo como todos os outros ratos sujos que o traíram.
Trump disse há algumas semanas que uma das razões pelas quais respeita tanto Paul Manafort é que, ao contrário de outros assessores de Trump que sentiram a lei recair sobre eles, Manafort nunca se ofereceu para cooperar com os promotores. “Sei tudo sobre mudar de lado, há 30, 40 anos eu tenho observado os que mudam”, disse Trump. Para Manafort, que já havia sido condenado por oito acusações em seu primeiro julgamento e estava enfrentando muitas mais, havia realmente apenas uma razão para não cooperar: se ele pudesse ter certeza de que Trump o perdoaria. Dado o quão politicamente perigoso seria tal perdão – isso pareceria para todo o mundo um acobertamento – e dada a total falta de lealdade de Trump a qualquer um abaixo dele, um perdão não seria provável. Então, Manafort parece ter calculado que, já que ele não podia contar com Trump vindo em sua ajuda, sua única chance de evitar passar o restante de seus dias atrás das grades era falar.
Mas sobre o que? Essa é a questão e, a meu ver, existem algumas possibilidades:
1. Ele tem informações sobre os crimes, mas estes não têm nada a ver com a campanha Trump. Durante anos, Manafort esteve profundamente envolvido em um mundo obscuro de oligarcas russos, possíveis agentes da inteligência russa, corrupção pós-soviética e lavagem de dinheiro. Ele pode ter informações que ajudariam os promotores a encaminhar casos contra outros personagens daquele mundo e talvez ajudem os funcionários da inteligência americana a entender melhor os meios de ajudar a segurança nacional dos EUA.
2. Ele tem informações sobre o que aconteceu na campanha Trump, mas essa informação não toca diretamente o presidente. Havia muitas pessoas na campanha Trump que tiveram contatos com os russos e podem ter sido pontos de entrada para uma tentativa russa de desenvolver um relacionamento cooperativo. Manafort poderia lançar mais luz sobre como esses contatos russos surgiram, o que eles representaram e que tipo de cooperação, se houve, realmente ocorreu.
3. Ele tem informações sobre o próprio Trump. Esta seria obviamente a possibilidade mais explosiva. Até agora não temos nenhuma evidência direta de que Trump estivesse envolvido em uma tentativa de sua campanha de entrar em coordenação com representantes do governo russo, embora ele tenha implorado publicamente para a Rússia invadir os e-mails de Hillary Clinton, algo que aparentemente eles começaram a fazer naquele mesmo dia.
Além disso, há uma grande quantidade de evidências circunstanciais para sugerir que Trump sabia sobre a abominável reunião na Trump Tower com representantes do governo russo antes que isso acontecesse, o que ele negou. Manafort poderia esclarecer essa questão, além de outras das quais talvez ainda nem tenhamos ouvido falar, já que é razoável apostar que Mueller investiga alguns assuntos que ainda não foram revelados.
Não temos como saber qual dessas três possibilidades é a certa. No mínimo, devemos nos lembrar de que Manafort é agora o quinto ex-assessor de Trump a se declarar culpado de acusações decorrentes da investigação de Mueller.