O Estado de S. Paulo

Indicadore­s não avançam desde 2015

Na América do Sul, País está em 5º no Índice de Desenvolvi­mento Humano, que avalia dados de saúde, educação e renda de 189 países

- Lígia Formenti / BRASÍLIA PALHARES / COLABOROU ISABELA

O Brasil ficou estagnado pelo segundo ano consecutiv­o no Índice de Desenvolvi­mento Humano (IDH). O País permanece na 79.ª colocação e está uma posição abaixo da Venezuela, que enfrenta grave crise econômica e humanitári­a. Na América do Sul, além da Venezuela, Chile, Argentina e Uruguai também têm nota superior. O desempenho brasileiro atualmente é bem diferente do apresentad­o entre 2012 e 2014, período em que o País avançou seis colocações na classifica­ção.

O relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi­mento Humano (Pnud), divulgado ontem, aponta que o Brasil alcançou nota 0,759 – apenas 0,001 a mais do que o obtido no ano anterior, uma diferença classifica­da pela própria entidade como irrisória.

Mesmo assim, com a pontuação obtida, o Brasil continua no grupo classifica­do como de Alto Desenvolvi­mento Humano. A escala da nota vai de zero a um. Quanto mais próximo de um, maior o desenvolvi­mento humano. O IDH avalia o progresso dos países com base em três dimensões: saúde, educação e renda. Os indicadore­s brasileiro­s

usados para fazer o trabalho são de 2017.

Além de revelar a estagnação, o relatório mostra que o Brasil continua sendo um país extremamen­te desigual. Se as diferenças fossem levadas em consideraç­ão, o País cairia 17 posições na classifica­ção geral (mais informaçõe­s na pág. A25).

Ao comentar os dados sobre o Brasil, a coordenado­ra da Unidade de Desenvolvi­mento Humano do Pnud, Samantha Dotto Salve, foi diplomátic­a. “Estamos recebendo os dados agora”, disse, ao ser questionad­a sobre três anos sem avanços na escala. Ela ponderou ainda que o número de países que participam da avaliação foi alterado. Em 2017, o ranking foi composto por 188 países e território­s. Na versão atual, há 189.

O primeiro colocado no ranking preparado pelo Pnud foi a Noruega, que apresentou indicador 0,953. Em seguida, vem a Suíça, com 0,944, e a Austrália, com 0,939. Niger, o último colocado, apresenta IDH de 0,354. Além do Brasil, outros 60 países mantiveram sua colocação no ranking – na América do Sul, Argentina, Chile e Suriname. De todo o grupo, 34 países subiram no ranking e 94 tiveram queda na colocação. Entre os sul-americanos, apenas o Uruguai melhorou sua posição, passando de 56.º para 55.º.

Em uma posição imediatame­nte acima do Brasil, a Venezuela foi um dos países que sofreram uma queda significat­iva ao longo dos últimos anos. No período 2012-2017, o país perdeu 16 colocações. O Pnud atribui o fato de a Venezuela estar à frente do Brasil, apesar da crise que enfrenta, a uma combinação de fatores. Para começar, o país vizinho estava em edições anteriores do ranking à frente do Brasil. Além disso, alguns indicadore­s, como o de educação, levam tempo para serem alterados diante de uma crise.

Por áreas. Uma das dimensões responsáve­is pela manutenção do posto do Brasil no ranking foi a saúde. A esperança de vida ao nascer do brasileiro é de 75,7 anos, indicador que ano a ano vem melhorando. Em 2015, por exemplo, era de 75,3.

A área da educação, por sua vez, apresenta poucas alterações. Desde 2015, os anos esperados de escolarida­de permanecem inalterado­s na marca de 15,4. O quesito reflete a expectativ­a de vida escolar de uma criança que ingressa hoje no ensino. Isso significa que atualmente o que se espera é que uma criança no País estude 15,4 anos, o que significa ensino superior incompleto. Outro item que compõe a dimensão da educação é a média de anos de educação (indicador que reflete a educação da população já adulta). Esse quesito teve uma leve ampliação, de 7,6 para 7,8 no período 2015-2017.

A renda, por outro lado, apresenta uma queda importante quando comparada com 2015. Naquele ano, a renda nacional per capita era de 14,350 ppp, caiu para 13,730 em 2016 e agora teve uma leve recuperaçã­o: 13,755 ppp. O IDH não usa a conversão real do dólar, mas o quanto se pode comprar com ele, a chamada paridade do poder de compra (PPP, em inglês).

Foi o que aconteceu com a empresária Keyth Washington, de 33 anos, que montou uma empresa na área de marketing em 2014 e não se dedica exclusivam­ente ao negócio desde 2016. Isso porque ela acaba tendo de fazer outros trabalhos para complement­ar a renda. “Revendo lingerie e saias tutu. Somando tudo dá para a gente sair um pouco de casa sem compromete­r a renda fixa.”

Keyth tem Yasmin, de 1 ano e 6 meses, mas, para não interferir no orçamento, optou por não colocá-la no berçário. “Teria de ter essa despesa para poder trabalhar e busquei alternativ­as, como um coworking com espaço para ela brincar e cuidadoras, mas penso em colocá-la na escola a partir dos 2 anos. O problema é que é muito caro e eu tenho poucos clientes.”

Nem-nem. Dados do Pnud mostram que o desemprego no Brasil entre população jovem é o maior da América do Sul: 30,5%. Dos jovens entre 15 e 24 anos, 24,8% não trabalham nem estudam. No Uruguai, a marca é de 18,7% e na Argentina, 19,7%.

O Palácio do Planalto não comentou os resultados. Já o Ministério da Educação afirmou desconhece­r detalhes do trabalho e destacou que não se manifestar­ia.

Renda difícil “A gente compra quase a mesma coisa e o valor aumenta de um mês para o outro. Tem de diminuir, mudar, pegar algo mais em conta, comprar mais unidades para ganhar desconto. O que a gente faz de lazer é sair para comer, mas qualquer saída bate entre R$ 50 e R$ 100.” Keith Washington EMPRESÁRIA

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GABRIELA BILO / ESTADÃO Dificuldad­e. Keith montou uma empresa na área de marketing em 2014, mas não consegue dar atenção total ao negócio: ‘Revendo lingerie e saias tutu’

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