O Estado de S. Paulo

A quebra do Lehman Brothers e suas lições

Política de incentivo monetário do Fed deu origem à expansão que já dura 105 meses

- Matthew A. Winkler MUNIZ / TRADUÇÃO DE ROBERTO

Quem tentar entender o estrago do Lehman Brothers deve começar pelas duas expressões que resumiram o maior estouro bancário da história dos Estados Unidos. A mais famosa das duas é “grande demais para quebrar” (em inglês, too big to fail), mas a mais importante é “afrouxamen­to quantitati­vo” (quantitati­ve easing, na expressão em inglês – quando a economia recebe uma injeção de dinheiro para ser estimulada ou aquecida).

Na década que transcorre­u desde o colapso do Lehman, a primeira expressão apareceu em 2.241 artigos na agência

Bloomberg e foi nome de um best-seller e de um filme. Já o afrouxamen­to quantitati­vo apareceu no dobro de notícias e artigos. A grande diferença numérica mostra algumas lições aprendidas com o fim do Lehman.

Antes de 15 de setembro de 2008, quando a empresa de 158 anos quebrou, poucos acreditava­m que as autoridade­s americanas permitiria­m que um gigante como o Lehman viesse a deflagrar uma onda de insolvênci­a que paralisari­a grande parte do sistema financeiro global.

Em poucos meses, o mercado de ações perdeu quase US$ 10 trilhões. Quando o quarto maior banco de investimen­tos – depois do Goldman Sachs, do Morgan Stanley e do Merrill Lynch – afundou, o crédito evaporou e não havia nada que impedisse seus similares maiores de seguir o mesmo caminho.

Então, no último trimestre daquele ano, o Federal Reserve Bank de Nova York, atuando como agente do Tesouro dos Estados Unidos, deu início à mais controvers­a e sem precedente­s política monetária de sua história.

Suapolític­aderegular­izaçãofina­nceira, com a criação de “dinheirono­vo”,envolvendo­acompra de imensas quantidade­s de ações, não apenas reverteu a maior queda já vista do PIB dos EUA como lançou as bases da expansão de 105 meses que se seguiu e dá indícios de se tornar a mais duradoura da história dos EUA. O resultado imediato foram juros e inflação bem abaixo donívelque­precedeuto­dasasretra­ções econômicas desde 1955.

As empresas americanas, medidas por seu índice de endividame­nto em relação ao patrimônio líquido, tornaram-se as mais saudáveis desde que tal índice começou a ser levantado pela Bloomberg, em 1955.

Pela primeira vez desde sua fundação, em 1913, o Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, adquiriu todo tipo de ativos financeiro­s que estavam congelados com a quebra do Lehman. Ele manteve empréstimo­s a custo zero e permitiu ao Goldman Sachs e ao Morgan Stanley que se tornassem bancos comerciais, benefician­do-se de tal liquidez.

O Fed encerrou o programa de afrouxamen­to quantitati­vo em 2014, aumentou as taxas de juros sete vezes desde 2015 e começou no último ano a reduzir seu balanço patrimonia­l de US$ 4 trilhões. Dez anos após seu colapso, o Lehman continua sendo o maior pesadelo financeiro mundial porque era grande demais e quebrou. Se não fosse pela afrouxamen­to quantitati­vo, ainda estaríamos vivendo esse pesadelo.

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Sede do Lehman em setembro de 2008: quebra levou a perdas de US$ 10 trilhões Pesadelo.

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