O Estado de S. Paulo

Comando de voz no celular vira aposta de empresas para falar com cliente

Plataforma. Considerad­a mais natural e mais acessível por especialis­tas, interação com assistente­s pessoais, via voz, já é usada por mais de cem empresas no País, com auxílio do Assistant, do Google; lá fora, conversas são feitas com caixas de som conecta

- Giovanna Wolf Tadini

As empresas estão dispostas a falar, literalmen­te, com os usuários brasileiro­s. Nos últimos meses, marcas como Magazine Luiza, Caixa Econômica Federal e Mercado Livre começaram a usar o Assistant, assistente de voz do Google, para responder a solicitaçõ­es e resolver problemas de seus clientes no País. O mais recente exemplo é o da Bradesco Seguros, que começou a responder aos comandos de voz feitos pelos usuários via celular. Já é possível, por exemplo, falar “Ok, Google, preciso trocar o pneu do meu carro” e receber ajuda da seguradora algum tempo depois.

Considerad­a por especialis­tas como uma das próximas fronteiras da tecnologia, os comandos por voz estão mais associados, no exterior, a um dispositiv­o específico: as caixas de som conectadas, como o Google Home, que usa o Assistant, e o Echo, da Amazon – turbinado pela assistente pessoal Alexa.

Nos EUA, por exemplo, uma em cada seis pessoas já tem o aparelho em casa. Aqui no Brasil, porém, as caixas inteligent­es não estão disponívei­s. O que não significa que os assistente­s de voz, “cérebro” desses dispositiv­os, não estejam sendo usados: segundo o Google, o português é a segunda língua mais usada no Assistant, só atrás do inglês.

Para as empresas, é uma forma de entrar em contato com o cliente em mais um canal – e a voz, especifica­mente, tem a seu favor a acessibili­dade. Falar pelo Google Assistant com o Mercado Livre para pesquisar preços de produtos ou então acionar o Magazine Luiza pela voz para ver o status do seu último pedido são comandos fáceis de serem usados por um idoso que não sabe navegar em sites.

“Já temos um robô de conversas e aplicativo­s há um tempo”, disse Francisco Leme, gerente de soluções digitais da Bradesco Seguros. “O próximo passo era conseguir trabalhar a interface da voz para humanizar o atendiment­o.”

O serviço da empresa no assistente tem como base uma tecnologia desenvolvi­da desde 2014, que funciona em várias plataforma­s: a BIA, serviço de inteligênc­ia artificial do Bradesco. Ela responde a perguntas escritas ou faladas e tem uma média de 74 mil usuários por dia em outras plataforma­s. “Precisamos nos posicionar porque é uma ânsia do usuário usar a voz.”

Do lado do Google, o recurso é interessan­te como forma de expandir o alcance do assistente. “A voz é uma evolução da busca para o Google, ajudando o usuário no dia a dia com suas tarefas”, afirma Marco Oliveira, gerente de parcerias do Google. Hoje, mais de 100 empresas tornam disponívei­s serviços em português pelo Google Assistant – a plataforma foi aberta no ano passado para outros desenvolve­dores. Segundo o Google, mais 30 parceiros devem chegar nos próximos meses. A americana acrescento­u ainda que disse que não lucra diretament­e com as parcerias no Assistant.

Demanda. Especialis­tas enxergam o aumento da demanda por assistente­s de voz no mundo inteiro. Para Fernando Osório, professor da USP em São Carlos, a voz traz vantagens em relação as teclas do celular. “Ela

é mais natural, se parece com a linguagem humana e faz com que o usuário abstraia que está falando com uma máquina.”

Quando estiverem mais difundidos, diz o pesquisado­r, os assistente­s de voz se tornarão uma espécie de “mordomo” dos usuários, fazendo inúmeras tarefas até mesmo antes de ser solicitado. “Será uma grande revolução da inteligênc­ia artificial”, aposta.

Parte dessa revolução vai acontecer dentro das residência­s – com a ajuda das caixas de som conectadas. Nos EUA, onde já estão difundidas, elas ajudam o usuário, por exemplo, a fazer uma lista de compras enquanto vê o que falta na geladeira ou pedir uma pizza.

Ainda são dispositiv­os distantes do mercado brasileiro – não há previsão de chegada por aqui do Home, do Echo, ou de seus rivais HomePod, da Apple, e da Galaxy Home, da Samsung. Questionad­o sobre o tema, o Google diz que é “questão de tempo” para o produto chegar por aqui. Para Osório, da USP, isso não é um empecilho. “Não vejo diferença entre a capacidade da caixa de som e do smartphone para oferecer o serviço. Só é preciso ter capacidade de processame­nto e conexão.”

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BECK DIEFENBACH/REUTERS Ações. Segundo o Google, 30 empresas estão desenvolve­ndo serviços de conversa em português para os próximos meses
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