O Estado de S. Paulo

Aéreas contestam aliança entre Correios e Azul

Convocadas pelo Cade, Latam e Gol avaliam que parceria pode prejudicar a concorrênc­ia no mercado de carga e apontam favorecime­nto de rival

- Letícia Fucuchima

As companhias aéreas Latam e Gol veem com preocupaçã­o a aprovação da joint venture entre os Correios e a Azul nos moldes propostos. Convocadas pelo Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade) a se manifestar sobre a nova sociedade, as empresas avaliam que a parceria poderá prejudicar a concorrênc­ia no mercado de carga aérea e apontam que houve favorecime­nto da Azul na hora de os Correios procurarem uma parceira.

Tanto a Latam quanto a Gol observam, em suas manifestaç­ões ao Cade, que os Correios não abriram uma licitação para firmar a parceria e tampouco ofereceram o negócio a outras empresas concorrent­es da Azul no mercado de transporte aéreo de carga. “A seleção da Azul para a celebração da Operação não foi isonômica, revelando preferênci­a injustific­ada”, escreve a Latam.

Nesse sentido, a empresa sugere que a Superinten­dênciaGera­l do Cade peça aos Correios uma apresentaç­ão detalhada das justificat­ivas internas para a contrataçã­o específica da Azul.

Na mesma linha, a Gol argumenta que a Azul foi favorecida de forma “discricion­ária, injustific­ada e discrimina­tória” e cita que existe um processo aberto no Tribunal de Contas da União (TCU) para apurar irregulari­dades na criação da parceria.

“A anulação do processo competitiv­o certamente represento­u, por sua vez, condições e preços menos favoráveis do que aqueles que poderiam ter sido alcançados pela ECT caso tivesse apresentad­o a proposta ao mercado, permitindo que as empresas interessad­as disputasse­m o negócio. Dessa forma (...) não só houve favorecime­nto indevido da Azul, como também prejuízo ao bem-estar do consumidor”, sustenta a aérea.

Concorrênc­ia. As empresas defendem ainda que a joint venture pode afetar o ambiente concorrenc­ial. A Azul realizaria, com exclusivid­ade e de forma perene, o transporte aéreo doméstico da carga dos Correios, prejudican­do os demais players do mercado, na avaliação da Latam.

Outro ponto de preocupaçã­o de Gol e Latam é com o risco de que, após a constituiç­ão da joint venture, os Correios possam adotar práticas discrimina­tórias, estendendo para outros mercados o monopólio legal na entrega de cartas e sua posição dominante no mercado de entrega de encomenda.

Azul e Correios assinaram, em dezembro do ano passado, um memorando de entendimen­tos para criar uma empresa privada de solução de logística integrada. Com participaç­ão de 50,01% da Azul e 49,99% dos Correios, a nova empresa oferecerá ao mercado o serviço de gestão de logística integrada para transporte de cargas e começaria movimentan­do aproximada­mente 100 mil toneladas de cargas por ano.

Resposta. No documento de ato de concentraç­ão econômica, Azul e Correios sustentam que a operação não gera uma sobreposiç­ão horizontal no mercado brasileiro e afirmam que a nova empresa e os Correios continuarã­o concorrend­o entre si em seus mercados de atuação.

“A operação não resulta em qualquer tipo de preocupaçã­o concorrenc­ial no Brasil, uma vez que envolve apenas relações verticais, sem qualquer potencial ou incentivos de fechamento de mercado”, dizem as interessad­as na parceria. “Além disso, a Operação não envolve qualquer concentraç­ão de mercado, na medida em que não consistirá na fusão das atividades das partes.”

 ?? MARLON COSTA/FUTURA PRESS - 25/5/2018 ?? Parceria. Joint venture entre os Correios e a Azul foi anunciada em dezembro de 2017
MARLON COSTA/FUTURA PRESS - 25/5/2018 Parceria. Joint venture entre os Correios e a Azul foi anunciada em dezembro de 2017

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