O Estado de S. Paulo

A Lego quer tornar suas peças sustentáve­is

Empresa dinamarque­sa tenta recriar seus famosos blocos com material reciclado

- Stanley Reed THE NEW YORK TIMES BILLUND, DINAMARCA / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

No coração desta cidade há um prédio que é o verdadeiro templo da mais famosa criação da área: o humilde bloco de Lego. O prédio está repleto de criações complexas, desde uma árvore de 15 metros de altura até uma coleção de dinossauro­s multicolor­idos, todos eles criados com um produto que quase não mudou em mais de 50 anos.

No seu laboratóri­o de pesquisa, contudo, a Lego procura remodelar a peça que a tornou mais conhecida: a empresa quer, em 2030, ter eliminado sua dependênci­a do plástico, que por sua vez tem por base o petróleo, e criar seus brinquedos com material reciclado à base de fibra vegetal.

O desafio é projetar blocos que se juntam, mas se separam facilmente, mantêm as cores brilhantes e consigam sobreviver se acabarem numa máquina de lavar roupa ou forem pisados por alguém. Basicament­e, a companhia pretende mudar os ingredient­es, mas manter o produto exatamente o mesmo.

“Temos de aprender de novo como fazer isto”, disse Henrik Ostergaard Nielsen, supervisor de produção da fábrica da Lego em Billund. No mundo inteiro os consumidor­es se mostram cada vez mais alarmados com o impacto do lixo plástico sobre o meio ambiente e um número cada vez maior de empresas vem tentando usar material de embalagem reciclado ou menos poluente.

Mas o problema da Lego é mais complicado, já que os plásticos não são a embalagem, mas o produto. A fábrica totalmente automatiza­da da empresa em Billund é a imagem do mecanismo de um relógio. Na sua enorme instalação que ocupa um espaço de mais de 450 metros, as máquinas organizada­s em fileiras fundem grânulos de plástico e os transforma­m numa pasta derretida que vai se tornar o molde. Segundos depois um lote de blocos coloridos aparece e é depositado em carrinhos autônomos, que os levam para um armazém para distribuiç­ão. Diariament­e são produzidos 100 milhões de peças.

O nome da companhia – Lego – é uma contração de duas palavras dinamarque­sas que significam “brinque bem” e suas raízes remontam ao início dos

anos 1930 quando um carpinteir­o chamado Ole Kirk Kristianse­n começou a fabricar e vender carrinhos de bombeiros e outros brinquedos de madeira.

Na década de 1950, ele começou a fazer experiênci­as com blocos de plástico. Seu filho Godfred passou a comerciali­zar os pequenos blocos não somente como brinquedos, mas como um sistema de construção que podia ser expandido e passado para as novas gerações. Os blocos criados em 1958 ainda são compatívei­s com as ofertas atuais.

Hoje a companhia vende seus produtos no mundo inteiro e firmou parcerias com franquias de filmes como Batman e Star Wars para comerciali­zar não só os kits de tijolinhos, mas filmes e videogames com bonecos Lego. Parcerias que propiciara­m à companhia um lucro de US$ 1,2 bilhão no ano passado, superando rivais como as americanas Mattel e Hasbro.

A família Kirk Kristianse­n, que ainda está no controle da companhia, recebeu um dividendo de US$ 1,1 bilhão. Mas hoje um número cada vez maior de crianças utiliza aparelhos móveis para se entreterem, de modo que a Lego briga agora não só com as fabricante­s de brinquedos, mas também com as empresas de tecnologia e jogos, como Activision Blizzard, Microsoft e Sony.

A empresa vem sentindo a pressão e no ano passado cortou 1,4 mil postos de trabalho devido à queda de receita e lucros, que ocorreu pela primeira vez em uma década.

Carbono. Mas a Lego emite também um volume substancia­l de carbono. Cerca de um milhão de toneladas de dióxido de carbono é emitido por ano, três quartos dos quais vêm da matéria prima que entra nas suas fábricas, disse Tim Brooks, vice-presidente da área de responsabi­lidade ambiental da companhia. A empresa está adotando uma dupla estratégia para reduzir esse volume.

De um lado, até 2025, pretende manter toda a sua embalagem longe dos lixões eliminando coisas como sacolas de plástico dentro das embalagens de papelão. E seu objetivo também é que o plástico dos brinquedos tenha como fontes fibras vegetais ou garrafas recicladas.

O problema neste caso é que basicament­e todo o plástico utilizado no mundo é criado a partir do petróleo. Hoje a Lego usa uma substância conhecida como ABS (Acrilonitr­ila butadieno estireno), um plástico comum usado para teclas de computador e capas de celulares. É duro, mas ligeiramen­te elástico e também tem uma superfície polida.

Para se livrar de produtos como o ABS, a Lego iniciou uma busca exaustiva por materiais novos e sustentáve­is. Está investindo 1 milhão de coroas dinamarque­sas (cerca de US$ 640 mil) e contratou cem pessoas para trabalhar nessas mudanças. Os técnicos testam metodicame­nte materiais para ver se eles conseguem suportar uma pancada forte ou sobreviver quando puxados com muita força. Fizeram testes para verificar se suportam o calor de um verão na Arábia Saudita e se mantêm a paleta de cores brilhantes que tornaram as peças dos brinquedos Lego famosas.

 ?? LEGO VIA THE NEW YORK TIMES ?? Carbono. Para reduzir emissão de carbono, Lego pretende eliminar até 2025 sacolas de plástico dentro das embalagens
LEGO VIA THE NEW YORK TIMES Carbono. Para reduzir emissão de carbono, Lego pretende eliminar até 2025 sacolas de plástico dentro das embalagens

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