O Estado de S. Paulo

Demonstraç­ão de força e vitrine para o mercado militar

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Há cinco dias, Xi Jinping e Vladimir Putin fizeram panquecas – as do chinês ficaram mais vistosas –, discutiram economia e depois assistiram ao início dos maiores jogos de guerra realizados pela Rússia desde 1981. Estavam em Vladivosto­k, para o Fórum Econômico do Extremo Oriente, quando 300 mil combatente­s, 36 mil tanques, blindados e veículos diversos, com o apoio de 1.000 aviões e cerca de 90 navios, começaram a se movimentar em cinco diferentes frentes no gigantesco exercício que simula as ações de defesa diante de uma eventual “agressão externa”. Uma invasão.

A hipótese era uma das prioridade­s de análise do Estado Maior da extinta União Soviética durante a Guerra Fria. Há 37 anos, com um terço do tamanho do ensaio, a URSS executava a Operação Zapad (Oeste, em russo) sob intensos protestos dos países do Ocidente liderados pelos EUA. Agora, a muito maior Operação Vostok (Leste), mereceu apenas uma declaração de apreensão do comando da Organizaçã­o do Atlântico Norte. Cerca de 4.000 soldados foram colocados em alerta.

A China participa com 3.200 militares, mais 900 “dispositiv­os e equipament­os” – a maneira como se refere a seus próprios tanques, canhões e mísseis. Tropas da Mongólia estão tomando parte nas provas. De acordo com o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, o planejamen­to consumiu dois anos. O general não fala dos custos, mas, de acordo com analistas da Rand Corporatio­n, um braço privado da inteligênc­ia do Pentágono, a despesa pode ter batido em US$ 3 bilhões – e não saiu por menos de US$ 1,5 bilhão. A intenção de Putin é testar a capacidade de integração das forças da Rússia sob as novas tecnologia­s. E, de quebra, exibir o mostruário para o mercado de produtos de emprego militar prontos para uso: dos ágeis tanques T90 de quarta geração aos imensos aviões-radar Il-76/A-50V.

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