O Estado de S. Paulo

Incentivos são ‘gota d’água no oceano de tributos’, diz Anfavea

Megale diz que, sem os benefícios, montadoras, que são multinacio­nais, poderiam levar pesquisa para outros países

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O presidente da Associação Nacional dos Fabricante­s de Veículos Automotore­s (Anfavea), Antônio Megale, defende que os incentivos para o setor são apenas uma “gota d’água” no oceano de tributos que incidem sobre a indústria. “Temos problemas de competitiv­idade no País, com uma carga tributária muito alta: chega a 36%, em média, no preço do carro, enquanto nos Estados Unidos é 6%. Esses benefícios são uma gota no oceano”, afirmou.

No ano que vem, a maior parte da renúncia de R$ 7,2 bilhões para o setor será com um benefício concedido a montadoras instaladas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que custará R$ 4,68 bilhões. Para Megale, programas de incentivo regional são necessário­s para dividir a riqueza do País entre os Estados.

“A região de Goiana (PE) era absolutame­nte agrária, voltada à colheita de cana. Hoje, utilizando a mesma mão de obra, tem uma das fábricas mais modernas do mundo. São programas meritórios”, disse.

Em relação ao Rota 2030 – programa automotivo que responderá por R$ 2,1 bilhões em renúncia no ano que vem – Megale afirma que ele é necessário para reter a pesquisa e desenvolvi­mento no Brasil. Ele defende que o Inovar-Auto, que antecedeu o Rota, teve como reflexo a redução do consumo nos carros produzidos no Brasil em 15,1%, por exemplo. “Se o Rota não existisse, a primeira coisa que o País iria sentir era a redução de pesquisa e desenvolvi­mento. As empresas são multinacio­nais, poderiam facilmente mudar a pesquisa para outros países”, afirmou.

Emprego. O diretor da Associação Nacional dos Auditores Fiscais, Mauro Filho, porém, acredita que o Estado está bancando o financiame­nto de setores lucrativos sem que haja uma contrapart­ida de emprego e tecnologia. “Peguei o parecer que embasou o Rota 2030 e fui procurar a palavra emprego que justificar­ia a adoção do programa. Não tinha nenhuma”, disse ele, que obteve o parecer por meio da Lei de Acesso a Informação. Ele disse que também não há referência a novas tecnologia­s. “É uma repaginaçã­o. Nem disfarçara­m”, criticou.

Para a pesquisado­ra do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Vilma Pinto, falta ao governo avaliar as políticas relacionad­as à concessão de incentivos. “Não existe avaliação dos gastos tributário­s. Tem uma série de gastos tributário­s que não se justificam manter e tem outros que podem até ser bons do ponto de vista social, mas que muitas vezes são mal desenhados”, afirmou. “É preciso fazer uma avaliação da política pública para o setor automotivo, consideran­do a implicação disso para os demais setores, para saber se vale a pena.”

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Pesquisa. Para Megale, País tem problema de competitiv­idade

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