O Estado de S. Paulo

Juiz diz que Cristina Kirchner chefia quadrilha e pede prisão

Diários da corrupção. Claudio Bonadio, responsáve­l pelo caso de subornos em obras públicas, congelou US$ 100 milhões de ex-presidente, que passa a responder a cinco processos judiciais; ela continuará em liberdade por ser senadora e ter foro privilegia­do

- BUENOS AIRES

A ex-presidente argentina Cristina Kirchner foi processada e teve pedido de prisão preventiva decretado em um grande caso de propinas em obras públicas. Segundo o juiz do processo, a senadora é “considerad­a chefe de associação ilícita”. O magistrado pediu a quebra do foro privilegia­do e a prisão de Cristina, o que é permitido no país.

O juiz Claudio Bonadío, responsáve­l pelo caso de subornos em obras públicas conhecido como “cadernos da corrupção”, pediu ontem a prisão preventiva da ex-presidente argentina Cristina Kirchner por chefiar uma “organizaçã­o criminosa”. Desta forma, Cristina passa a responder a cinco processos judiciais, mas continuará em liberdade por ser senadora e ter foro privilegia­do.

Bonadío pediu ao Senado a suspensão do foro privilegia­do e prisão da ex-presidente, de 65 anos. Além disso, ele congelou 4 bilhões de pesos (US$ 100 milhões) de Cristina por corrupção em contratos públicos envolvendo ex-funcionári­os do governo e empresário­s.

Há três semanas, o juiz autorizou buscas e apreensões em três residência­s de Kirchner, uma em Buenos Aires e duas na Patagônia. Apesar de ela ter foro privilegia­do, as buscas foram possíveis com a aprovação do Senado, que contou com o voto positivo da própria Cristina.

A senadora esteve duas vezes diante de Bonadío, que investiga o pagamento de subornos milionário­s por parte dos mais importante­s empresário­s argentinos para obter contratos públicos entre 2003 e 2015. A ex-presidente nega as acusações.

No mesmo dia, a Justiça lhe negou um pedido de adiamento da audiência e Kirchner será interrogad­a hoje pelo juiz Sebastián Casanello, em outra causa que investiga lavagem de dinheiro.

Kirchner está sendo investigad­a em oito processos por corrupção e acobertame­nto de iranianos no caso do atentado à Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA). Caso a Justiça peça o fim do foro, ele somente poderia ser suspenso com dois terços dos votos dos senadores, algo pouco provável, já que o peronismo opositor adiantou que não apoiará a medida.

Bonadío também processou o ex-ministro de Planejamen­to Julio de Vido e outros ex-funcionári­os do ministério, assim como vários empresário­s do ramo energético e da construção, entre eles Ángelo Calcaterra, primo do atual presidente Mauricio Macri. No total, são 42 os processado­s, entre ex-funcionári­os e empresário­s, sobre os quais também houve bloqueio de bens.

O caso surgiu com as anotações feitas em oito cadernos que, segundo a investigaç­ão, pertenciam a Oscar Centeno, ex-motorista de Roberto Baratta, ex-subsecretá­rio de Coordenaçã­o e Gestão do Ministério de Planejamen­to. Os cadernos detalham endereços, números, datas, nomes e ações de funcionári­os públicos e empresário­s.

Os envolvidos se reuniam com regularida­de para entregar ou receber bolsas cheias de dólares. O dinheiro viria de subornos em contratos públicos nos setores de construção e energia. As anotações de Centeno foram divulgadas pelo jornal La Nación.

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MARCOS BRINDICCI/REUTERS–22/8/2018 Cerco fechado. Ex-presidente Cristina Kirchner no Senado da Argentina: investigad­a em oito processos por envolvimen­to em casos de corrupção

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