O Estado de S. Paulo

Fnac fecha loja da Paulista, penúltima da marca no País

Varejo. Grupo brasileiro recebeu R$ 130 milhões para ficar com os ativos da rede francesa no Brasil e agora só mantém a unidade de Goiânia em funcioname­nto; meta da Cultura, que enfrenta dificuldad­es financeira­s, é encerrar Fnac no País, inclusive no e-co

- Maria Fernanda Rodrigues Fernando Scheller

Com o fechamento, no fim de semana, da megaloja da Fnac na Avenida Paulista, a Livraria Cultura, detentora da operação da rede aqui, está a um passo de encerrar as atividades da marca no País. Resta apenas uma loja, em Goiânia, que deve ser fechada em breve. A Cultura deve apenas usar a plataforma de venda de eletrônico­s da Fnac.

A Livraria Cultura está a um passo de terminar o processo de encerramen­to da marca Fnac após quase 20 anos de Brasil. Com o fechamento da megaloja da Avenida Paulista, no fim de semana, a brasileira está prestes a cumprir a missão que recebeu dos franceses há 14 meses: acabar com a operação da Fnac em troca de um pagamento de R$ 130 milhões. Segundo fonte próxima à empresa, a estratégia da Cultura é aproveitar a plataforma de venda online de eletrônico­s da Fnac, sem manter a marca. Em breve, inclusive este braço do e-commerce deve ser incorporad­o pela Cultura.

Com o fechamento da loja da Paulista – um dos ícones da Fnac no País –, a única unidade da marca ainda em operação é a de Goiânia. A Cultura usou os R$ 130 milhões que recebeu da Fnac para custear fechamento­s de lojas – não só da Fnac, mas também da própria Cultura –, para reforçar o fluxo de caixa e para a aquisição do site Estante Virtual, de livros usados.

Segundo fontes do setor de livros, a empresa vem atrasando pagamentos às editoras. Uma fonte de mercado definiu a estratégia como um “refinancia­mento por meio dos fornecedor­es”. Até o ano passado, diz outra fonte, a rede da família Herz tentava fazer alguns acertos pontuais com editoras. Hoje, nem isso.

A origem da Fnac no Brasil tem exatamente duas décadas: em 1998, foi aberto no bairro de Pinheiros, em São Paulo, o Ática Shopping Cultural, um projeto de R$ 25 milhões que não deu o resultado esperado. A Fnac assumiu a empreitada e trouxe a operação de eletrônico­s ao País. Os livros, inicialmen­te o carro-chefe da unidade, foram aos poucos perdendo espaço. Recentemen­te, muitas editoras chegaram a deixar de negociar títulos com a rede francesa, o que deixou a empresa bem atrás das líderes no setor: Saraiva (30%) e Cultura (8%), que também enfrentam dificuldad­es.

A Fnac também jamais conseguiu cumprir os planos que tinha para o País, lembra Gerson Ramos, ex-funcionári­o da Ática e da Fnac, hoje diretor comercial da editora Planeta. “Seu modelo dependia de grande volume para se sustentar. Ela queria 20 lojas em 5 anos, mas só conseguiu abrir 11 em 15 anos.”

“Nunca vi coisa tão complexa quanto a situação que vivem as grandes redes. Estamos falando de 40% do mercado”, afirma Luiz Antonio Torelli, presidente da Câmara Brasileira do Livro, referindo-se ao efeito da crise do setor, encabeçada por Fnac, Cultura e Saraiva.

O livreiro Alexandre Martins Fontes diz “estar preocupado” com o futuro das livrarias físicas. “A Fnac é mais uma vítima. Essa crise sem precedente­s tem várias origens. É macroeconô­mica, política, mas também de responsabi­lidade do mercado, que tomou decisões erradas, como priorizar outros produtos em detrimento do livro.”

Procurada, a Cultura disse que não comentaria ou divulgaria resultados de suas operações. Em nota, afirmou que “segue seu planejamen­to estratégic­o para os próximos anos: manter unidades com boa performanc­e (...) e reforçar a presença em e-commerce”.

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GABRIELA BILO / ESTADÃO Nem a placa sobrou. Loja da Fnac, na Paulista: bilhete para clientes comprarem no site

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