Eliane Cantanhêde
Segundo petista, ex-presidente, preso na Lava Jato, vai ‘orientar’ governo em caso de vitória; em sabatina, presidenciável foge do tema indulto
O primeiro turno vai chegando. A ansiedade bate à porta de alguns candidatos e o desespero, à porta dos demais. O risco é o vale-tudo.
O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, evitou ontem responder se daria ou não indulto a Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Operação Lava Jato, mas afirmou que o ex-presidente será um “grande conselheiro”, na hipótese de vitória da chapa petista.
“Temos total comunhão de propósitos em relação a ele e o diagnóstico de que o Brasil precisa do nosso governo e precisa do Lula orientando como um grande conselheiro. Ele é um interlocutor permanente de todos os dirigentes do partido e nunca deixará de ser. Não temos nenhum problema com isso. Enquanto os outros partidos escondem os seus dirigentes, nós temos muito orgulho de ter o Lula como dirigente”, disse o presidenciável no fim tarde, depois de visitar Lula na Superintendência da Polícia Federal de Curitiba. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, também estava presente.
Haddad não detalhou, porém, qual poderia ser o papel de Lula em um eventual governo petista. Segundo ele, é preciso considerar o que chamou de “circunstâncias muito particulares”. “Um ex-presidente querer participar de um governo é uma questão muito delicada, em função de circunstâncias muito particulares, como aconteceu no caso de quando ele (Lula) ia assumir a Casa Civil do governo (da presidente cassada) Dilma (Rousseff). O presidente Lula estará conosco permanentemente, não há dificuldade em admitir isso.”
Mais cedo, durante sabatina promovida pelo jornal Folha de S. Paulo, UOL e SBT, Haddad afirmou que manteria a rotina de visitas ao ex-presidente, ao ser questionado sobre a possibilidade de anistia. “Com certeza”, disse ele. Na sequência, declarou que Lula não troca sua “dignidade” por “liberdade” e que espera que o ex-presidente seja absolvido no decorrer do processo.
A possibilidade de indulto a Lula – condenado em segunda
instância a 12 anos e um mês de prisão no caso do triplex do Guarujá (SP) – foi explorada anteontem pelo candidato Jair Bolsonaro (PSL). Em vídeo gravado no hospital, Bolsonaro voltou a falar em “fraudes” e disse que, se Haddad vencer, vai nomear Lula ministro. O ataque se segue ao crescimento do petista nas pesquisas de intenção de voto.
O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, afirmou que a anistia e o indulto estão disciplinados em lei (mais informações nesta página) e que não o tema não está em discussão na Corte. “No Brasil, a anistia e o indulto são disciplinados em lei. Então, a lei é que traz os parâmetros. Esse é um tema que não está colocado no Supremo. Não há como responder A, B ou C”, afirmou.