O Estado de S. Paulo

Alta do frete custará R$ 1 bi ao comércio

Expectativ­a do setor é que reajuste da tabela reduza as margens de lucro dos varejistas neste ano, já que não há espaço para subir preço

- Daniela Amorim / RIO

O reajuste médio de 5,5% na tabela do frete anunciado há duas semanas vai custar R$ 1,09 bilhão ao comércio brasileiro até o fim deste ano, segundo cálculo da Confederaç­ão Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) obtido com exclusivid­ade pelo Estadão/Broadcast.

O resultado deve ser um achatament­o da margem de lucro dos negócios. Diante do cenário de atividade econômica fraca, os comerciant­es não terão espaço para repassar a elevação do custo com transporte­s aos preços das mercadoria­s vendidas aos consumidor­es, avaliou Fabio Bentes, chefe da Divisão Econômica da CNC.

“A grande consequênc­ia é o sacrifício da margem, investimen­tos mais fracos e menos contrataçõ­es de funcionári­os”, diz Bentes. “Alguns comerciant­es vão acabar repassando para os preços, mas outros não vão conseguir e vão ter que sacrificar margem. Isso vai afetar a recuperaçã­o, a abertura de lojas e a geração de vagas. Tudo fica mais lento com esse gatilho de custo do comércio.”

Os gastos com serviços de frete representa­m 10,5% das despesas anuais do comércio, mas em alguns segmentos a logística supera 20% dos custos totais do negócio. As atividades mais penalizada­s serão as atacadista­s de matérias-primas, de combustíve­is e de alimentos.

“Realmente nesse momento de capacidade ociosa muito elevada na economia isso tende a diminuir o repasse para os preços ao consumidor”, diz José Ronaldo de Castro Souza Júnior, diretor de Estudos e Políticas Macroeconô­micas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “Temos que ver se essa medida será duradoura ou não. Pode ser que o próximo governante faça alguma alteração, ainda não sabemos se haverá manutenção dessa medida.”

A nova tabela com os valores mínimos do frete em todo o território nacional, divulgada no último dia 5, corrige a primeira versão editada em 30 de maio para atender a uma das principais exigências feitas pelos caminhonei­ros durante a greve que bloqueou estradas pelo País ao longo de onze dias no fim de maio. O cálculo da CNC considera apenas a última elevação na tabela do frete e não prevê novos aumentos até o fim de 2018.

“Como o comércio está no fim da cadeia, o custo é acumulado: a mercadoria já chega com preço mais elevado, que vem desde o fornecedor primário (produtor agrícola ou industrial)”, ressaltou Bentes.

No comércio atacadista, as despesas com a logística de mercadoria­s têm uma participaç­ão maior nos custos das empresas, de 15,4%. No varejo, o frete responde por 6% dos custos, enquanto no comércio automotivo o peso é de 5,1%. No comércio atacadista de combustíve­is e lubrifican­tes, o transporte responde por 23% dos custos.

O empresário Guilherme Neves, de 52 anos, conta que paga de frete 10% do valor das mercadoria­s que vende. Dono de uma loja de produtos artesanais no principal polo comercial popular do centro do Rio, ele vende de queijos mineiros a doces pernambuca­nos. “Tenho um acordo com outros 20 comerciant­es da região, juntamos a encomenda e pagamos o preço do frete por unidade, se fosse por peso seria pior. Mesmo assim, pagar 10% de frete é coisa para caramba. O pequeno comerciant­e se lasca todo.”

A CNC estima que as despesas com frete somaram R$ 50,7 bilhões em 2017 consideran­do todas as empresas comerciais brasileira­s, sendo R$ 35,0 bilhões no comércio atacadista, R$ 13,6 bilhões no varejista e R$ 2,2 bilhões no automotivo.

Ainda que nenhum outro reajuste seja autorizado na tabela até o fim deste ano, o impacto dos gastos adicionais com fretes correspond­erá a um acréscimo final de 0,6% nas despesas totais do comércio em 2018.

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FABIO MOTTA/ESTADÃO Encomenda. Para pagar menos pelo frete, Neves se uniu a outros 20 comerciant­es

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