Santuário natural
Há exatos 50 anos, um incêndio acidental mudava o rumo de uma das escolas mais tradicionais do Brasil. Quase completamente destruído após um fogareiro elétrico inflamar e o fogo se alastrar, o então Colégio do Caraça, inaugurado no século 19, se despedia de sua vocação educacional. Mas começava a vislumbrar uma nova aptidão: a turística. Afinal, incrustado lá no alto das Minas Gerais, emoldurado pela Serra do Espinhaço e cercado pela Mata Atlântica, o lugar era muito especial para cair no esquecimento.
Foram necessários apenas dois anos para que suas portas voltassem a ser abertas, em 1970. Não mais para alunos, e sim para todo e qualquer visitante interessado em conhecer de perto a riqueza do local, localizado entre os municípios de Catas Altas e Santa Bárbara, a 120 quilômetros da capital Belo Horizonte.
Merecidamente denominado santuário, o Caraça é uma enorme área – são 11 mil hectares – onde história, cultura, espiritualidade e natureza se misturam. Daqueles destinos onde as horas parecem durar mais, o céu tem brilho extra e a vegetação é sempre viva. Um providencial respiro na rotina fugaz do século 21.
Natureza. A chegada ao Santuário do Caraça é marcada por uma longa via íngreme, cheia de curvas e com muita, muita vegetação ao redor. À medida que o veículo sobe, as montanhas parecem se aproximar, o ar vai ficando mais limpo e o cantar dos pássaros prevalecem. Definitivamente, ali quem manda é a natureza.
Ao dispor do visitante, há todo o Parque Nacional do Caraça – trata-se de uma RPPN, reserva particular do patrimônio natural –, com morros, trilhas e cachoeiras a serem explorados no ritmo de cada um.
Percursos autoguiados levam até atrações como a Cascatona (distante 6 quilômetros da pousada, numa trilha média), a prainha (a 1 quilômetro e perfeita para o desfrute de crianças) e a cascatinha (a 2 quilômetros vencidos num trajeto fácil), um conjunto de quatro quedas d’água perfeitas para um banho. Todos são ótimos passeios para uma manhã ou uma tarde curtindo o sol e a exuberância cênica do Caraça.
Turistas mais animados a caminhadas longas ainda têm todos os picos da Serra do Espinhaço para desbravar. Mas eles devem ser “conquistados” na companhia de um guia, já que os caminhos não são tão bem demarcados e, a depender das chuvas, podem ficar perigosos. O mais alto deles é o Pico do Sol, com 2.072 metros de altitude, seguido do Pico do Inficionado (2.068 m) e do Pico da Carapuça (1.955 m).
Independentemente da escolha, a aventura surpreende. Os trajetos são os mesmos usados lá atrás por tropeiros que cortavam caminho por ali rumo a Mariana e Ouro Preto, repletos de mata nativa e aves de espécies distintas. Na maioria deles é possível visualizar o formato de um rosto humano num canto na serra, o que explica o nome “caraça” dado ao local. E, ao final da andança, abre-se sempre uma panorâmica pontuada pelos morros vizinhos e o santuário num tamanho diminuto, mas ainda assim se destacando na paisagem.