Suíte de D. Pedro II e outras raridades
Tudo começou em meados de 1770, quando o Irmão Lourenço de Nossa Senhora resolveu construir uma capela e uma casa de hospedagem naquelas bandas de Minas Gerais. A ideia vingou e, em 1774, o Santuário do Caraça foi inaugurado para receber peregrinos que por ali cruzavam. Com o passar do tempo, decidiu-se que o espaço poderia ser também dedicado à educação de meninos, dando origem a um dos colégios mais tradicionais do País. De 1820 a 1868, estima-se que mais de 11 mil meninos estudaram no Caraça, sob a severa disciplina imposta por padres da Congregação da Missão. Muitos seguiram a vocação religiosa, outros tornaram-se respeitados médicos e advogados e dois deles – Afonso Pena e Artur Bernardes – alcançaram o cargo de presidente da República.
O lugar ganhou tamanha importância que até Dom Pedro II o visitou. Em 1881, quando lá esteve, demonstrou sua admiração pelo santuário ao dizer: “Só o Caraça paga toda a viagem a Minas”. Atualmente, visitantes que optam pela suíte imperial podem dormir no mesmo cômodo que recebeu o imperador.
Após o incêndio de 1968, o antigo colégio foi parcialmente restaurado para abrigar o museu que mantém viva a riqueza histórica e cultural do lugar. Mobílias – destaque para as camas e as escrivaninhas utilizadas pelos estudantes internos –, roupas, utensílios da cozinha e adereços estão expostos. A experiência se completa na biblioteca. Ainda que vários livros tenham sido queimados no acidente, quase 15 mil volumes foram salvos, na época, por alunos e padres. Alguns dos primeiros títulos do acervo, que foram trazidos da Europa por padres, sobreviveram e hoje dividem espaço com um total de 30 mil títulos. Museu e biblioteca representam tão bem uma época do Brasil passado que são frequentemente visitados por escolas públicas e privadas de todo o País.
Espiritualidade. A pequena capela barroca idealizada pelo Irmão Lourenço não teve vida longa. Ganhou nova configuração e, após sete anos de obras, transformou-se na Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens. Inaugurada em 1883, a primeira igreja neogótica do Brasil é composta predominantemente de materiais locais: pedra-sabão, mármore e quartzito.
Até hoje, missas diárias são realizadas ali, pelo grupo de padres que se revezam na administração da igreja. O espaço também permanece aberto para visitantes, hóspedes ou não. Chamam a atenção seus belos vitrais franceses do século 19 e um órgão de fole com 628 tubos, utilizado em apresentações mensais.
Ainda que a inspiração católica prevaleça no santuário, ele foi aos poucos se consolidando como espaço espiritual para gente de todas as vertentes. Se antes a ideia era “subir a serra para um encontro com Deus”, agora vale mais a premissa de alcançar o Caraça para encontrar a si próprio. Peregrinos do Brasil e do exterior acreditam no poder do local para ajudar a pensar na vida, nos hábitos e redimensionar atitudes.