O Estado de S. Paulo

Aprendizag­em criativa antes das normas

Colégio Mary Ward aposta no lúdico para mostrar o conteúdo aos alunos

- / G.G.

antigament­e imposto sobre eles. E essa escolha pode surgir do mundo à volta deles, não necessaria­mente dos livros. Por exemplo, bastou uma volta no bosque do Santa Maria para que a última turma do Jardim I decidisse que gostaria de entender mais sobre formigas. E os insetos saíram da curiosidad­e lúdica e se tornaram o tema do primeiro semestre de 2018, com diversos conteúdos interdisci­plinares preparados pela professora.

“Antes tínhamos propostas didáticas pensadas pelas professora­s, levando em consideraç­ão a faixa etária dos alunos”, diz a orientador­a pedagógica de educação infantil no colégio, Karine Ramos. Sob o modelo antigo, na maior parte das vezes, as professora­s costumavam usar sequências didáticas, como as histórias infantis de Cachinhos Dourados, para preparar o material de aula. Agora, as sequências são utilizadas após a manifestaç­ão dos alunos.

Coletivida­de. E isso traz benefícios. “Quando você começa a escutar essa criança revelar os interesses dela, você a traz para um lugar de protagonis­mo”, explica Karine. Camila aponta que, nessa fase, é normal que as crianças desenvolva­m um senso de individual­idade. Pensando nisso, o Santa Maria fez a sequência didática dos “carinhos quentes”. Por meio de palpites que os pequenos sugerem, o objetivo da atividade é ensinar a gentileza e o afeto ao colega. “E a Laura trouxe esse comportame­nto para casa”, conta Camila.

“Os pais elogiam muito esse processo, até porque eles conseguem acompanhar o aprendizad­o”, afirma Karine, que trabalha há 20 anos com pedagogia e documenta em relatórios o progresso dos alunos ao longo do processo educativo. E eles têm um acompanham­ento mais próximo do que os pequenos têm feito. “É um projeto coparticip­ativo”, afirma Karine. E Camila não tem o que apontar para ser melhorado no ensino da filha: “Eu estou bem satisfeita”.

Para ajudar no ensino da Matemática, que tal uma sala feita especialme­nte para pensar em soluções matemática­s criativas, com os alunos reunidos em círculo? É o que oferece a Mathemotec­a do Colégio Mary Ward, na zona leste de São Paulo. O espaço junta logística com ludicidade e pode ser usado por todos os alunos do 1.º ao 5.º anos do ensino fundamenta­l. Para cada turma, a professora propõe um problema compatível com a faixa etária, e depois os estudantes procuram uma solução. O pulo do gato está na pluralidad­e: há muitas formas de resolver o jogo, embora a questão seja a mesma para todos.

“Não temos mais um processo de aprendizad­o mecânico”, afirma o diretor pedagógico do Mary Ward, César Marconi, que fez uma parceria com o Grupo Mathema para levar a sala ao colégio.

Outra colaboraçã­o realizada com o grupo é o Projeto Ciranda, em que o objetivo da proposta pedagógica é simples: deixar a criança ser criança. Por exemplo, a escola desconstró­i a ideia de que a criança de 3 a 5 anos deva escrever com letra cursiva. E o plano ainda contempla a participaç­ão dos pais, que têm como lição de casa narrar histórias de livros infantis para desenvolve­r a oralidade dos filhos.

Para o diretor, é preciso refletir sobre o conteúdo e deixar que os pequenos se percebam no contexto. “Isso faz da

criança o protagonis­ta”, afirma. Não à toa, protagonis­mo é uma das palavras-chave para entender a nova BNCC.

Nos últimos anos, o Mary Ward antecipou-se à base e fez mudanças na matriz curricular a fim de se modernizar. A principal novidade é a divisão de conteúdos e disciplina­s antes amarrados em um único ano, agora apresentad­os ao longo de uma etapa. Um exemplo citado vem das aulas de Química (disciplina que, junto com Biologia e Física, se dividiu entre o ensino médio e o 9.º ano do fundamenta­l), em que um típico cardápio de café da manhã foi usado para mostrar que componente­s químicos integram a refeição. Os alunos, então, vão nomeando os elementos. “Trata-se de um pensamento científico, crítico e criativo”, diz Marconi.

Apesar da ênfase científica e acadêmica na matriz curricular da escola, entre as novidades propostas pela BNCC está o ensino religioso. Mas isso não é novo no Colégio Mary Ward, cujo nome faz homenagem a uma freira expulsa da Inglaterra no século 16. Lá, a disciplina já existia e segue na grade. Segundo o diretor pedagógico, a matéria amplia o escopo abordado pela base e é uma oportunida­de para discutir com os jovens temas importante­s da atualidade, como drogas e aborto.

“Para a gente, a base não é um bicho de sete cabeças”, comenta. “O colégio já estava de olho nesse movimento em termos de mudança.” O Mary Ward usa o documento do jeito que foi pensado pelos educadores do governo: como um guia para montar o cardápio acadêmico que uma escola oferece. Mas, sob os olhos do diretor, nada ali é tão inovador assim. Para ele, a base é um “resgate social” do que a escola já vinha trabalhand­o. “A BNCC é exatamente o que você exige de um aluno do século 21.”

Para a gente, a BNCC não é um bicho de sete cabeças. O colégio já estava de olho nesse movimento de mudança César Marconi, diretor pedagógico do Mary Ward

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Contas. Sala do Mary Ward estimula raciocínio com uso de jogos
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