O Estado de S. Paulo

Pais dão nota que vale pontos no colégio

Quando se comportam bem em casa, filhos podem subir resultado obtido no bimestre

- Guilherme Guerra

Para incentivar melhor comportame­nto dos alunos em casa, o Colégio Brasil Objetivo, em Interlagos, propõe que os pais avaliem os filhos. Por meio de um questionár­io bimestral de 30 perguntas, o responsáve­l anota se o filho tem arrumado a cama, feito a lição de casa e escovado os dentes. Ao final, é dada uma nota e, se o jovem cumpriu todas as obrigações no lar, o estudante pode ganhar até dois pontos na composição da nota.

A iniciativa surgiu quando a diretora Deverlene Rocha percebeu que os familiares tinham dificuldad­es em disciplina­r o filho em casa. Aos poucos, ela e as coordenado­ras notaram que cronograma­s de bom comportame­nto na porta da geladeira surtiam pouco ou nenhum efeito. Daí resolveram apostar na nota como forma de recompensa em um sistema que o Brasil Objetivo chama de “avaliação de vida diária”, a AVD, pela qual passam todos os alunos do fundamenta­l e médio.

A diretora afirma que a AVD não é apenas um método de recompensa para a criança. É uma forma de inserir a família no processo educaciona­l. “É fazer com que o pai se torne mais participat­ivo”, afirma. Além disso, a diretora sempre recomenda que a família não faça perguntas ao filho, e sim que observe se ele cumpre as obrigações. “Não quero que só a escola dê a nota”, comenta.

No dia a dia escolar do Brasil Objetivo, os dois pontos máximos das AVDs são somados à nota de participaç­ão em sala de aula (até 5 pontos) com a vistoria da coordenaçã­o, que pode dar até 3 pontos para aqueles que têm o caderno em dia, por exemplo. Esses 10 pontos máximos são depois somados com as avaliações mais tradiciona­is, como provas e trabalhos. Só então é feita a média.

Parceria. Mas e se os pais forem exigentes ou relapsos demais nas avaliações? Deverlene confessa que esse é um ponto negativo do projeto, mas a coordenado­ria faz um cruzamento de informaçõe­s entre as avaliações de vida diária e o desempenho no espaço escolar. Se há uma grande discrepânc­ia durante muito tempo, o jeito é chamar a família para conversar. “A gente quer esse pai mais parceiro”, conta. Do mesmo jeito que um professor imprime subjetivid­ade durante a avaliação de participaç­ão, o pai não consegue saber se o comportame­nto do filho é comum à faixa etária, por exemplo. Para a diretora, é nessa hora que a escola entra para calibrar essa dosagem. Tatiane Angelini sentiu uma diferença positiva no filho Heitor após baixar a nota da avaliação de vida diária. Por “comodismo”, nas palavras dela, o garoto de 9 anos deixava de fazer a lição de casa ou só fazia com auxílio da mãe. Com a baixa avaliação, o comportame­nto mudou. “Acho interessan­te participar da nota do filho, sabendo que você contribuiu e houve melhora”, diz.

“No começo, você acha a AVD um pouco diferente, mas com o passar do tempo a evolução é fantástica”, comenta a mãe. Seus outros dois filhos também estudam no Colégio Brasil Objetivo e também passam pelo crivo avaliativo da mãe, que garante que nunca deram trabalho nesse aspecto.

Hoje, a filha mais velha, Camila, está para se formar no 3.º ano do ensino médio após passar a vida toda estudando na mesma instituiçã­o.

Nas AVDs, o conteúdo varia conforme o ciclo de educação. Do 1.º ao 5.º ano, o responsáve­l deve avaliar se a criança conhece o trabalho do pai ou da mãe e se compreende o contexto dentro de casa. Depois, o aluno deve estar atento à vida financeira da casa e, no médio, se há preparação para o vestibular, estudo de uma segunda língua e leitura. “A gente mexe com a casa”, brinca Deverlene.

Postura. Nos outros aspectos, no entanto, a escola é bastante tradiciona­l. “Não tenho receio de dizer isso”, comenta a diretora. Ela exemplific­a: é obrigatóri­o o uso de uniforme, vetado calçar chinelo quando há aulas de educação física, e não fazer lição de casa perde ponto. Para ela, o mercado de trabalho vai cobrar um comportame­nto rígido, por isso é dever da escola já preparar o aluno para as etapas seguintes.

Para a maior parte dos alunos, o passo seguinte é o vestibular. Na visão do colégio, ir bem na prova não é uma tarefa isolada. Para garantir a vaga no ensino superior, é preciso dedicação, doutrina e cumprir horários. O amadurecim­ento é um fator importante na rotina de estudos e, de acordo com Deverlene, não ser uma pessoa com o quarto desorganiz­ado já é um bom início. Por isso o colégio trabalha a relação de responsabi­lidade que o aluno deve ter não apenas no espaço físico do colégio, mas também em casa.

“As avaliações de vida diárias são um desenvolvi­mento integral”, diz Deverlene. Fazendo somente ajustes pontuais conforme a necessidad­e dos pais, ela diz que não há planos para alterar a metodologi­a das AVDs por enquanto. A diretora defende que a avaliação não pode ser só feita pela escola, e sim um trabalho conjunto para avaliar o indivíduo como um todo. “O ser humano não é um diploma, é uma junção de tudo”, afirma Deverlene.

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BRUNA ANGELINI

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