O Estado de S. Paulo

Datafolha: Bolsonaro tem 28% e Haddad, 16%

Presidenci­áveis do PT e do PSL reforçam propostas para equilibrar quadro econômico

- Renata Agostini Ricardo Galhardo

A 17 dias do primeiro turno, as duas forças políticas que lideram as pesquisas de intenção de voto tentam clarear pontos de suas propostas para o mercado financeiro. Tanto Paulo Guedes, indicado por Jair Bolsonaro (PSL) como formulador de seu plano econômico, quanto Fernando Haddad (PT) buscam sinalizar ao mercado que seus programas não ignoram a situação econômica e as dificuldad­es que o jogo político vai impor ao governo.

Em conversas fechadas que vem mantendo com investidor­es e gestores de fundos nas últimas semanas, Guedes tem reafirmado o caráter liberal de seu projeto, mas buscado dar uma visão mais pragmática sobre o que pode ser feito, segundo três fontes que participar­am dos encontros com o economista de Bolsonaro e falaram ao Estado sob condição de anonimato.

Num desses eventos, Guedes transmitiu a mensagem de que não é possível deixar de lado a composição com partidos tradiciona­is e que um governo Bolsonaro precisará fazer acordos, por exemplo, com siglas do Centrão. Ele mencionou, de acordo com o relato de uma fonte presente, que há um caminho para interlocuç­ão com o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), com quem já teve conversas no passado. Guedes e Maia não deram entrevista.

Apesar de reforçar o plano de vender ativos para recomprar parte da dívida, Guedes deu indicações de que conter o déficit fiscal pode não ocorrer tão rapidament­e como tem dado a entender em entrevista­s. Segundo um gestor que esteve em encontro recente com ele, o economista foi franco ao dizer que, no curto prazo, será preciso contar com receitas extraordin­árias para tapar o rombo fiscal.

Guedes afirmou que está tendo conversas com representa­ntes do governo para entender de onde podem vir essas “receitas não recorrente­s”. Um dos encontros ocorreu com o presidente do BNDES, Dyogo Oliveira. O economista da campanha de Bolsonaro indicou aos investidor­es que pretende, por exemplo, aumentar os repasses do banco estatal ao Tesouro Nacional. Também afirmou que vê com bons olhos reduzir repasses ao Sistema S.

Haddad. Antes de ser oficializa­do candidato a presidente do PT, Haddad manifestou discordânc­ias em relação ao programa de governo que seria lançado semanas depois. Em conversas com investidor­es, o então candidato a vice disse que, se eleito, manteria o atual sistema de funcioname­nto do Banco Central baseado no uso da taxa básica de juros para controlar a inflação.

O programa de governo do PT, divulgado posteriorm­ente, fala em um “mandato dual” com duas metas – controle de inflação e geração de empregos.

O candidato tem dito a aliados que o programa, visto pelo mercado como excessivam­ente intervenci­onista, representa os pontos de vista do PT e do expresiden­te Luiz Inácio Lula da Silva, e não necessaria­mente os dele próprio. Na segunda-feira, em sabatina do UOL, SBT e Folha de S.Paulo, Haddad desautoriz­ou o economista Marcio Pochmann, defensor da tese de que a necessidad­e de uma reforma da Previdênci­a não é imediata, e disse ter “relações pessoais” com o presidente do Banco Central do governo Michel Temer, Ilan Goldfajn.

Ainda de acordo com aliados, Haddad deseja alguém com o perfil de Goldfajn para presidir o BC. Conforme petistas, a ideia é repetir a fórmula adotada no primeiro governo Lula. Economista-chefe e sócio do Itaú até assumir o BC, em 2016, Goldfajn tem perfil semelhante ao de Henrique Meirelles (que, antes de entrar no governo, foi presidente do BankBoston).

Ontem, o presidenci­ável petista fez novo aceno ao mercado, ao dizer que vai buscar um ministro da Fazenda “pragmático” e descartar “figurões” e “sectários”. Indagado sobre o perfil ideal, Haddad respondeu queéo seu. “Eu ia ser o ministro da Fazenda do Lula. Ele tinha me convidado.” Para a Fazenda, Haddad quer um moderado de esquerda (Lula indicou Antonio Palocci).

Um assessor econômico disse que o programa tem margem para ser flexibiliz­ado. Segundo ele, trata-se de uma “carta de princípios com orientaçõe­s gerais” e sua execução ocorreria em etapas, conforme as condições políticas. O importante é manter a direção, afirmou.

 ??  ?? Conversas. O candidato do PT, Fernando Haddad, em agenda de campanha em São Mateus, na zona leste de São Paulo FERNANDO BIZERRA JR./EFE
Conversas. O candidato do PT, Fernando Haddad, em agenda de campanha em São Mateus, na zona leste de São Paulo FERNANDO BIZERRA JR./EFE

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