O Estado de S. Paulo

Banco Central diz que pode elevar juros se cenário piorar

Copom manteve pela quarta vez consecutiv­a a taxa Selic em 6,5% ao ano; reunião de ontem foi a última antes do primeiro turno da eleição

- Fabrício de Castro Fernando Nakagawa / BRASÍLIA COLABOROU EDUARDO LAGUNA

O Banco Central manteve a Selic (os juros básicos da economia) em 6,5% ao ano, pela quarta vez consecutiv­a. Mas indicou, sem mencionar as eleições, que a taxa pode subir se o cenário econômico piorar. Para o fim do ano, já surgem apostas de elevação entre analistas do mercado, para até 7,5%.

Faltando pouco mais de duas semanas para o primeiro turno das eleições, o Banco Central manteve a Selic (os juros básicos da economia) em 6,5% ao ano. Mas indicou claramente, sem mencionar as eleições, que a Selic pode começar a subir se o cenário econômico piorar. A decisão de ontem foi a última antes da escolha do próximo presidente da República, em outubro, e representa a quarta manutenção consecutiv­a da taxa nesse patamar.

Para os próximos meses, o BC acenou pela primeira vez com a possibilid­ade de alta gradual dos juros. Em comunicado, a instituiçã­o lembrou que a atual conjuntura justifica uma taxa que estimule a atividade, mas o quadro poderá mudar. “Esse estímulo começará a ser removido gradualmen­te caso o cenário prospectiv­o para a inflação e/ou seu balanço de riscos apresentem piora”, diz o texto.

A manutenção dos juros no menor patamar desde que a Selic foi criada, em 1996, era largamente esperada pelo mercado financeiro. Todas as 69 instituiçõ­es consultada­s pelo Projeções Broadcast indicavam essa estabilida­de. Para o fim do ano, no entanto, já surgem apostas de elevação, para até 7,5%.

Para os economista­s, nem mesmo a alta recente do dólar – que subiu cerca de 10% desde o início de agosto – justificar­ia subida do juro neste momento. O risco mencionado pelo BC foi interpreta­do pelos investidor­es como a eleição de um presidente que não transmita confiança. Tudo vai depender, principalm­ente, da sinalizaçã­o sobre o que será feito na economia. Um presidente pouco comprometi­do com as reformas fiscais – em especial, a da Previdênci­a – pode dar novo impulso ao dólar e elevar as previsões para a inflação futura.

O ex-presidente do BC e diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas, Carlos Langoni, elogiou o tom adotado pelo Copom. “É muito bom não aumentar a taxa de juro às vésperas de uma eleição já tão tensa e disputada. Isso dá tranquilid­ade ao mercado”, disse, ao lembrar que a inflação segue bem comportada e, antes de qualquer movimento, é preciso saber quem será o novo presidente. “Se o novo governo for responsáve­l, o BC ganhará mais tempo”.

O economista-chefe do Santander Brasil, Maurício Molan, nota que a menção feita pelo BC de um aperto monetário gradual “afasta o risco de um choque de juros” à frente. Entre os riscos a serem monitorado­s, o economista ressalta que a subida do dólar “está próxima do limite de desencadea­r alta dos juros” e, por isso, o BC deverá avaliar a persistênc­ia do câmbio no atual patamar.

A próxima decisão sobre o juro ocorrerá em 31 de outubro, três dias após o segundo turno. Outra reunião está prevista para dezembro.

Inflação. Por enquanto, o BC ainda enxerga um cenário favorável para os preços. Ontem, a instituiçã­o reduziu de 4,2% para 4,1% a projeção de inflação em 2018. No caso de 2019, o índice subiu ligeiramen­te, de 3,8% para 4,0%. Os dois números ainda estão abaixo do centro da meta, que é de 4,5% neste ano e 4,25% em 2019. Nos dois casos, há uma margem de tolerância de 1,5 ponto.

Embora a Selic esteja no nível mais baixo da história, a taxa de juros real (descontada a inflação) do Brasil é a quinta maior do mundo. Ranking elaborado pela Infinity Asset Management e pelo site MoneYou indica que o juro real brasileiro está em 4,00% ao ano. Taxas reais mais elevadas somente são registrada­s na Argentina (18,20%), na Turquia (13,93%) e na Rússia (6,01%), consideran­do o conjunto das 40 economias mais relevantes do planeta. /

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ADRIANO MACHADO/REUTERS-3/4/2018 Previsível. Decisão do BC, presidido por Ilan Goldfajn, era esperada por analistas do mercado
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